segunda-feira, 30 de novembro de 2015

SOLDA CÁUSTICO

O homem é um animal político


CLARICE LISPECTOR

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.

Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
– já me aconteceu antes.

Pois sei que
– em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade –
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

  

sábado, 28 de novembro de 2015

FOTOGRAFIA

Alfred Cheney Johnston






MANOEL DE BARROS

POEMAS

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.


O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.


Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.


Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas —
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar o
Silêncio das coisas anônimas —
Passaram essa tarefa para os poetas.


Os deslimites da palavra

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas


FONTE:http://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-de-manoel-de-barros/

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

PURPLE HAZE

by  Robert Crumb



PURPLE HAZE IN THE AIR

Por Roberto José da Silva

Todos beijamos o céu e fomos varados pelos rasantes e bombas de sua guitarra/corpo/mente. Woodstock sempre será porque não se afoga a última grande celebração humana em vômito de tragédia de drogas. Um deus veio à terra para apresentar o ilimitado potencial de uma guitarra. Foi embora tão ráido que entre vê-lo fardado com o uniforme do Exército dos Estados Unidos e incendiando e fazendo sexo com o instrumento no palco do festival de Monterrey, foi assim como uma piscar de olhos alongado como um acorde esticado nos pedais. James Marshall Hendrix, ou apenas Jimi, tímido que um dia apresentou a voz e desconcertou tanto quanto o que fez com o Hino Nacional de sua terra. Doce, veludo, Hey Joe, atormentado Voodoo Chile, viajante Purple Haze, tudo vindo da fonte negra do blues (aquele disco onde há, na capa, uma colagem com fotos dos mestres …) misturado com toda a carga dos anos 60, fruto também do rock preto, branco, amarelo, enfim, multicolorido como as roupas que usava. Foi preciso os ingleses, a origem da civilização da potência, dar o aval para ele decolar para dentro da própria terra e depois para o mundo. Entrou por aqui quando toda uma geração viajava com a erva do diabo e cavalgava os raios disparados pelos seus dedos longos e inquietantemente inquietos. Canhoteiro. O contrário que é o certo, se é que existe algo assim na vida. Tão fértil e alucinado na ânsia de criar que deixou material de sobra para discos e mais discos em seu estúdio de Nova York. Aquele que um dia um bruxo brasileiro do som, saído de Lagoa da Canoa, Alagoas, foi ver e ali se sentiu mal por conta das pinturas que viu nas paredes. Hermeto Pascoal imaginou apenas o lado ruim das alucinações, mas sabe que dali saia o som do passado, presente e futuro. Quem prestar atenção na apresentação integral em Woodstock vai notar a parte onde ele se transforma em guitarrista flamenco. Mais significativo foi o final, quando ele toca como se cada nota tivesse asas e pairassem sobre as cabeças daquelas quinhentas mil pessoas batizando-as para sempre com gotas de paz e amor. Ele foi embora e, no geral, tudo piorou. Mas aqueles que lá estavam e os outros milhões que o ouviram sabem que aqueles acordes que deixaram, ao final, o público mudo, e as palmas foram chegando só depois, numa onda, eles, nós, sabemos que também ali estava uma forma de beijar o céu, agradecer e passar tudo adiante. Também por ele, que nos deixou, mas ficou, como um deus negro da guitarra.

Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/

JIMI HENDRIX

Sunshine Of Your Love
Jimi Hendrix Experience (Live Happening For Lulu 1969)


JIMI HENDRIX, 73 YEARS OLD

James Marshall “Jimi” Hendrix, Johnny Allen Hendrix. Seattle, 27 de novembro de 1942, Londres, 18 de setembro de 1970.



Donald Silverstein's Jimi Hendrix archive

SOLDA

CÁUSTICO

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

É BICHA?

Texto do jornalista Tarso de Castro para "o Pasquim" em 1970.


Millôr Fernandes chegou da Europa e é bicha: Martha Alencar é bicha e o marido dela, o Hugo Carvana bicha; o Sérgio Cabral, por sua vez, tem vergonha, acha que pai de família não deve confessar isso mas eu sei é bicha; o Paulo Francis, que fica fazendo aquele bico, é bicha; o Chacrinha, nem se fala, é bicha; o Gérson mesmo jogando pra burro, é bicha; o Fortuna é bicha, bicha declarada, o Armando Marques é bicha; a tia da namorada do Denner é bicha; a namorada do Denner é bicha; o Denner é bicha; o Edvaldo Pacote é bicha, a Gal Costa é bicha; a Elis Regina é bicha; o Nelsinho Motta é bicha; os Luiz Carlos Maciel são bichas, os Monteiro de Carvalho são bichas; os Monteiro de Carvalho são bichas, menos um, por falta de tempo, o Ricardo Amaral é bicha; aquêle amigo do Ricardo Amaral é bicha; o Jaguar é bicha; o Jaguar é bicha; o Jaguar é bicha; o Jaguar é bicha; o meu contrabandista é bicha; ele é bicha; o Flávio Rangel é bicha; o Pedro Álvares Cabral era bicha; o Antônio Houaiss é bicha; o Ulisses é bicha; o Maneco Muller é bicha; o Fernando Fernandes é bicha; o Vinícius de Moraes é bicha; o Carlos Drummond de Andrade, que ainda não me deu aquela entrevista, é bicha; o Sérgio Cavalcanti é bicha; o Jaguar é bicha; os contatos de publicidade, o Ewaldo e o Paulo Augusto, são tremendas bichas; e o chefe dêles, o Grossi, é bicha; o lvon Cury é bicha; o Daniel Mas, sem qualquer apelação, é bicha; como bicha é, também, o Antônio Guerreiro; o José Silveira é bicha; o Manolo é bicha;

O Chico Buarque é bicha; o Caetano Veloso é bicha; o Gilberto Gil é bicha; o Roberto Carlos é bicha; o Erasmo Carlos é bicha; o Zózimo Barroso do Amaral é bicha; o Jaguar é bicha; a Márcia Barroso é bicha; a Scarlet Moon de Chevalier, digo, a Scarlet é bicha, a Moon é bicha e a Chevalier é bicha; meu Deus, como o Paulo José e Dina Sfat são bichas; ah, sim, o Ênio Silveira é bicha; como esquecer que a Danusa é tão bicha como a Leão; bicha, também, pois, a Nara Leão, e o Cacá Diégues, que é marido dela, é bicha; e o Glauber Rocha, como todos os baianos, é bicha; a Rosinha, mulher do Glauber, é uma tremenda bicha; o Antônio Guerreiro é bicha; o Jaquar, que eu ia esquecendo, é bicha; o José Hugo Celidônio é bicha; nunca vi ninguém tão bicha quanto o Rogerio Sganzerla; bicha, mesmo, para valer, é o lbrahim Sued, que não pode ser mais bicha; Doval é bicha; Jairzinho é uma bicha radical; falando em bicha: como vai você, Henfil; Minas Gerais é um viveiro de bichas; Ziraldo, por exemplo, quem pode negar? É a maior bicha de Caratinga; aliás, se vocês não sabem, esse tal de Caratinga também era bicha; o filho do Jaguar, tão pequenino já é bicha; também, o professor dêle é bicha, sô; ah, Virgem Santa, o João Saldanha é bicha; o César Thedim é bicha e a Tonia Carreiro, para provar o dito, também é bicha, falando nisso, o John Mowinckel é bicha; e o Pedrinho Valente, embora ainda não saiba, é bicha; a êsse lá sabe: o Ivo Pitanguy é bicha; há alguém mais bicha do que o Sérgio Bernardes? há, o Jaguar; ah, que saudades que eu tenho da bicha Cláudio Abramo; Afonso, Afonsinho, Afonsão, todos bichas; os Afonsos em geral, todos bichas,- tenho melancolia do Rio Grande do Sul porque as bichas que aqui são bichas não são bichas como lá; Olavo Bilac é bicha; o bigodinho do Oscar Niemayer não me engana; é bicha; ora Tom Jobim, vai ser bicha lá com a bicha do Frank Sinatra; como se não bastasse, de bichas, é claro, agora ainda anda por aí aquela bicha da Florinda; a bênção, minha bicha Baden; falando em bicha nada melhor do que uma bicha do Jorge Ben depois da outra; Charles Anjo 45 é bicha enrustida; você é bicha; o leitor, todos os leitores, são bichas; fala, bichonilda Sérgio Noronha; a Olga Savary é bicha e o livro dela é mais bicha ainda; Paulo Garcez é a chamada bicha respeitável; Jango é bicha; Brizola é subverbicha; e a Wanderléia, segundo a bicha do Flávio Rangel não a do no sentido possessivo mas do êle, Flávio – é bicha ternurinha; e quem diria, hem? todos os Macedos Soares são bichas; Rubem Braga anda caindo de tanto ser bicha.

Este parágrafo é bicha.

Por outro lado, Maria Bethânia é bicha; a democracia é bicha; êle é bicha mas eu não sou louco de dizer; salve a bicha mais bicha de Londres, a bicha do Ivan Lessa; o Jaguar é bicha, o Ferreira Gullar já representou o Maranhão no concurso nacional de bichas; todos os componentes do velho PSD são bichas; Paulo Mendes Campos é a bicha mais intelectualizada que eu conheço; falando em bicha, vocês lá viram que coisa mais incrível o gênero bicha-barbuda que é o Carlinhos Oliveira?; bicha para falar a verdade, mas bicha mesmo, é o Hélio Fernandes; criança, nunca verás uma bicha tão grande quanto a Maria Raja Gabália; fala minha bicha Marlene Dabus; você é tão linda, Teresa Souza Campos, mas é bicha, Joaquim Pedro é MeIo Franco e, portanto, bicha, pois todos os MeIo Franco são bichas; a Danusa Leão, insisto, é bicha; olha aqui, ô Matarazzo, não queira me comprar:, tôda a familia é bicha; e tem mais:

Vocês lembram da Maysa, ex-Matarazzo? Pois é bicha, bicha é a torcida do Flamengo; e a do Botafogo se existisse, bicha seria; os velhinhos do Vasco são bichas; o Fluminense, vocês sabem, andam de salto alto; todos os brasileiros são bichas; Europa, França e Bahia – tudo bicha; Ásia, África, América e Passo Fundo, tudo bicha; inclusive o Jaguar, tudo bicha; é a maior bichite da história do mundo; que, por sinal, é bicha.

O único macho do mundo é o Nélson Rodrigues.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

FOTOGRAFIA

VIVIAN MAIER







LUIZ VAZ DE CAMÕES

por  Carlos Nejar

Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei
a pátria injustamente
cega, como eu, num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
que não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de santos filhos.

FLORES

NO QUINTAL DE DONA ZEFA




Fotografias de Ricardo Silva

HORÓSCOPO

por  Zé da Silva

Você não tem a mínima ideia do que é ser craquelento. Eu sou. O que passa na televisão é só o verniz. O tutano do osso é de trincar o cano. Comecei na cerveja, fumei maconha, cheirei cocaína e cheguei no cachimbo da loucura. Não sou vagabundo. Trabalho em multinacional. Já fui internado várias vezes. Recaio. Vendo até a mãe por uma pedra. Da última vez, além de todos os móveis da casa, troquei até as louças novas do banheiro que estava acabando de fazer. Por pedra. Como não tinha mais nada, fui até o mocó do “patrão” na favela. Ofereci minha carteira de identidade como garantia para depois trazer a grana do pagamento da droga. Estava na maior fissura. Ele deu risada. Mostrou então uma pilha de certificados de carros novos. Assinados. Muitos não voltavam depois de saírem com pedras. Carro de 30 mil reais – 500 de pedra. Muitos perdiam o veículo. O chefe me levou até um mocó onde estavam internados os que não queriam mais sair dali. Não achei triste. Eu também queria ficar. Ele disse que tinha um exército ali. De zumbis, mas exército. Porque era só pedir para um deles matar alguém ou uma família inteira para pagar com crack – e eles faziam. Nessa hora eu tive um choque e lembrei da notícia de um bebê assassinado com tiro na cabeça nessa guerra. Vomitei numa vala de esgoto. Limpei a boca e fui embora. Ainda não sei pra onde, mas fui.


domingo, 22 de novembro de 2015

MOVIE STAR

BARBARA STEELE




DESPEDIDA

 por  Antônio Maria

Permite que eu deseje, agora, tomado e vencido pelas urgências que de mim exigem, um canto de sono e preguiça onde ainda não se tenham inventado o telefone e o relógio. Deixa que eu seja pessoal em mais uma crônica para, ao medo das tarefas que se me impõem, querer, ardentemente, que não tirem do rol das pessoas úteis, que me esqueçam e que me abandonem, que me larguem, enfim, onde seja lícito viver ignorado e despercebido. Sinto-me vazio de poesia, esgotado de um resto de doçura que tanto prezava e, coagido pelos que revendem minhas idéias, dói-me o tempo e o esforço gastos, os ardis e os truques que emprego para arrumar palavras e construir frases de efeito. Lamento enganar a todas. Permite que eu deseje, agora, um silêncio que me contagie de tristeza, uma calma boa e definida para, num momento espontâneo e sossegado, escrever as grandes definições, as palavras que me envaideçam, os versos e as cantigas que me elevem, querida, à glória e à resolução do teu desmesurado amor. Através dessa janela vejo coisas que, antigamente, eram poderosas e fecundas. O céu repete o azul de tantas tardes acontecidas em maio, as últimas quaresmeiras do verão agonizam na saia do morro, os homens martelam a pedreira... e eu não sinto vontade de rir ou de chorar. Na rua, arrastando uma corrente eterna e incompreensível, passa mais um caminhão da Standard Oil... e eu não sinto nenhum vexame político, nenhuma revolta social. Por isso e pela descrença que em meu espírito se acentua, permite que eu deseje ser só — ou teu somente — num lugar do mundo onde os gritos não tenham eco, onde a inveja não ameace, onde as coisas do amor aconteçam sem testemunhas. Livrem-me da pressa, das datas, dos salários e das dívidas e a todos serei agradecido, num verso submisso. Livrem-me de mim, de uma certa insaciabilidade que apavora e de todos serei escravo numa humilde canção. Permite que eu só queira, agora, esse canto de sono e preguiça, onde não necessite dos atletas, onde o céu possa ser céu sem urubus e aviões, onde as árvores sejam desnecessárias, porque os pássaros se sintam bem em cantar e dormir em nossos ombros.

31/05/1963


*Texto extraído do livro "Com Vocês, Antônio Maria", Editora Paz e Terra - Rio de Janeiro, 1964, pág. 225.

FONTE:http://www.releituras.com/antoniomaria_despedida.asp

sábado, 21 de novembro de 2015

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CABEÇA DE PEDRA

Não vivo sem!

Foi numa curva da Transamazônica que me toquei. Estava viajando há algum tempo, sozinho, no jipão 4×4 – e nada da musiquinha tocar. Aquela que escolhi quando comprei o tal numa loja de shopping bacana. Encostei e revirei tudo. Nada. Comecei a ficar agoniado. O que seria de mim sem ele? Ouvi um rugido estranho ali perto. Vinha de dentro do paredão verde da floresta. Tô nem aí. E se aparecer um bicho? Como vou fazer? A fissura aumentou tanto que comecei a delirar. Eu quero! Eu quero! Gritei tão alto que juro ter visto uma arara se espantar. Entrei no carro e pisei fundo. Quatro dias depois, sem comer, cheguei a uma cidade grande e tratei de voar de volta para casa. Esbaforido, abri a porta como quem abre a do paraíso. Achei a maquininha em cima da mesa. Bateria cheia. Apertei os botões. Não havia nenhuma ligação para mim. Nem recado. Nada. Mas meu telefone celular estava juntinho do meu corpo. Como é bom!

CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A NATUREZA HUMANA

William Somerset Maughan

Ainda não tinha aprendido o quanto a natureza humana é contraditória: não sabia quanta hipocrisia existe nas pessoas sinceras, quanta baixeza existe nos nobres de espírito, nem quanta bondade existe nos maus.

FOTOGRAFANDO EM P&B





Fotografias de Ricardo Silva

terça-feira, 17 de novembro de 2015

BIG BANG BANG BRASIL

por Yuri Vasconcelos Silva

Quando um grupo de hominídeos entrou em conflito com outra tribo, um deles havia descoberto, dias antes, o poder de combinar um duro fêmur a uma boa velocidade. No filme 2001, Uma Odisséia no Espaço (dir. S. Kubrick, baseado no livro de A. Clarck), a descoberta da ferramenta como instrumento de defesa e ataque sugere qual espécie iria dominar o planeta dali pra frente. Não pelo uso da arma, mas da inteligência.

Neste e em tantos outros filmes, respaldados pela história da humanidade, a violência acompanha o homem da mesma maneira que faz um fiel cachorro ao dono. Um cão interno. Ele é quase incontrolável e, quando apertado o botão correto, domina o sujeito de maneira tal que a razão é sobrepujada pelo velho companheiro, o instinto pré-histórico. Não há persuasão racional a altura desta emoção aflitiva. Grunhidos, palavras obscenas e objetos que caibam num punho são atirados no breve instante em que a adrenalina é injetada no sangue – e a parte mais primitiva do cérebro, o hipotálamo, toma de assalto o funcionamento dos pensamentos e do corpo. Se um dos objetos ao alcance deste meio segundo de loucura for uma arma de fogo, num tempo mais ligeiro que um click fotográfico, o sujeito mete uma pequena bola metálica dentro do corpo de outro. Este projétil, devido a sua imensa velocidade, carrega consigo a energia de destruir o que encontrar em sua trajetória, com a potência de estourar artérias, perfurar ossos, explodir órgãos vitais e matar outro ser como resultado final.

A vítima pode ser um desconhecido, uma pessoa da família, amigo ou alguém que atentou contra sua vida. Se a arma estiver na mão de um civil, é muito grande a chance de alguém próximo, inocente ou ele mesmo, ser o alvo do projétil. Não se trata de especulação. É tão factual quanto esperar que uma pessoa não treinada ou habituada em pilotar motocicleta venha a cair se precisar utilizar uma.

Talvez seja verdade que todos deveriam ter a liberdade de escolha, tão sagrada nas democracias ocidentais, de poder dormir com uma pistola semi-automática debaixo do travesseiro. Mas seria uma verdade degenerada pois, se esta linha for seguida, todas as drogas poderiam também ser legalizadas, pois seria condição irrestrita de liberdade individual consumir crack até sua própria morte se o sujeito assim desejasse. Isso é liberdade?

Então aparecem aqueles que carregam gráficos sob os braços e mostram as estatísticas onde se relaciona o número de homicídios em países cujo comércio de armas de fogo são liberadas. Barrinhas otimistas mostram que, lugares onde a população carrega armas na cintura, apresentam menor taxa de homicídios ou criminalidade. O problema das estatísticas é que são frutos de pesquisas amplas e de pouca profundidade. Elas ignoram outros dados fundamentais e camuflam as prováveis condições reais da baixa criminalidade. Por exemplo: se ao invés de utilizar como parâmetro a população armada e inserir dados dos níveis de educação do mesmo país, alcançaremos resultados semelhantes com conclusão completamente diversa: países que educam seu povo apresentam menor criminalidade. Assim, seria possível, através da estatística, argumentar que a taxa de homicídios de uma sociedade poderia estar associada a quantidade de café que se toma por dia naquele país. Junto dos números, deve acompanhar um estudo profundo e alguns pesquisadores a tiracolo, só para maiores esclarecimentos.
Se o problema é proteger a própria família baseado na sensação de medo e na ineficiente política de segurança pública, ter pistolas ou granadas em casa vai diretamente contra a intenção inicial. Criminosos sempre existiram e continuarão por aí por um bom tempo. E eles sempre serão melhores do que o pai de família que comprou uma Walter PPK e a guarda num cofre. O mal entrará na casa dele, vai lhe tirar tudo e sair com mais uma arma. Se alguém da família tiver a coragem de apontar a pistola para um criminoso, vai morrer. O intruso tem maior experiência, provavelmente já matou alguns – e tem muito pouco na vida a perder.

A não ser que haja um grande programa nacional de treinamento, para que o país forme um exército de donas de casa com coldres em suas pernas, armar a população será tiro de misericórdia na combalida segurança pública do país. Enquanto as forças policiais mais eficientes do mundo já adotaram armas não letais para proteger sua população, e a maior potência bélica do planeta caminha para o controle no comércio interno de armas, o Brasil discute o absurdo, baseado no medo e pouca informação. Falta pouco para nos juntarmos aos hominídeos imaginados por Kubrick, num retrocesso de milhares de anos. Bang bang.

domingo, 15 de novembro de 2015

GEORGIA O'KEEFFE

Georgia Totto O'Keeffe (1887-1986) foi uma pintora estadunidense.



Segunda de sete filhos, cresceu em uma fazenda em Sun Prairie, Wisconsin. Quando criança, recebeu aulas de arte em casa e suas habilidades foram rapidamente reconhecidas e incentivadas pelos professores ao longo dos anos escolares. No momento em que ela se formou no colégio, em 1905, O'Keeffe estava determinada a traçar o seu caminho como artista.
O'Keeffe continuou seus estudos no Instituto de Arte de Chicago (1905-1906) e no Art Students League, em Nova York (1907-1908), onde rápidamente dominou os princípios da arte. Em 1908, conquistou o William Merritt Chase, ainda em vida, prêmio por sua pintura a óleo Untitled (sem título). Pouco tempo depois, no entanto, O'Keeffe parou de fazer arte, dizendo que nunca poderia alcançar distinção trabalhando dentro dessa tradição.
Seu interesse pela arte foi reavivado quatro anos mais tarde (1912), quando ela fez um curso de verão para professores de arte da Universidade de Virginia.
Em 1915, quando estava ensinando arte no Columbia College, Columbia, Carolina do Sul, tentou descobrir uma linguagem pessoal através da qual pudesse expressar seus próprios sentimentos e idéias e começou uma série de desenhos abstratos a carvão que são agora reconhecidas como as mais inovadoras em toda a arte americana do período.
O'Keeffe enviou alguns desses desenhos a um colega ex-Columbia, que os mostrou ao fotógrafo internacionalmente conhecido e empresário de arte, Alfred Stieglitz. Começaram a se corresponder, na primavera de 1918 ela fez uma exposição individual em NY. A partir de então, mudou-se para NY, apaixonaram-se, casaram, viveram e trabalharam juntos para sempre.
Na década de 1920, O'Keeffe começou a pintar o primeiro arranha-céus de Nova York, assim como as suas representações de flores tornou-se reconhecida como uma das artistas mais importantes e bem sucedidas das Americas.
Enquadrada na pintura modernista, suas telas com os sedutores arranha-céus nos finais do século XIX encantaram também outras pintoras como Tamara de Lempika. As suas telas de paisagens e flores foram muito apreciadas a partir de 1928. Georgia é considerada uma das pintoras norte-americanas de maior sucesso do século XX.
A arte de Georgia O'Keeffe foi conhecida por oito décadas no país e por muitos anos vem conquistando destaque semelhante no exterior. Mais de 500 obras suas estão em mais de 100 colecções públicas na Ásia, Europa e América do Norte e Central. Foi uma surpresa descobrir que, no momento de sua morte, em 1986, quando ela tinha 98, O'Keeffe possuía mais de metade das 2.029 obras mais conhecidas de sua produção total.
A coleção de O'Keeffe, do seu próprio trabalho, é amplo em meio, data, assunto e qualidade. Exemplos de seu trabalho do início ao final da carreira estão documentados como uma prova da complexidade de sua realização. Ela reteve obras que a definiram como uma artista que trabalhou com lona, tábua, papel, aquarela, lápis, óleo e argila, como materiais e suporte, fato que a tornou uma artista por completo. 

O'Keeffe produziu até 1982, morreu em 1986, com a idade de 98.

Sobre Georgia O'Keeffe

Durante sua vida Georgia O'Keeffe criou um corpo de trabalho cuja estética era moderna em sua precisão, linhas limpas e de elegante simplicidade. Aplicou essa estética para a exibição e reprodução de sua obra e para representar e promover a si mesma.
O'Keeffe raramente permitida a reprodução de seu trabalho para tridimensionais e fins comerciais, mas foi generosa ao permitir a reprodução de suas obras em livros acadêmicos e exposições. A permissão era concedida com algumas restrições, somente se fosse atribuído à imagem uma borda branca de tamanho apropriado, sem cortes ou alterações de qualquer maneira, impressa acompanhada de um texto.


CINEMA

Sua vida e obra foram tema do filme: Vida e Arte de Georgia O'Keeffe, comJoan Allen e Jeremy Airons.


Joan Allen faz a melhor atuação da sua carreira no papel de Georgia O'Keeffe, figura ilustre da história da arte americana. Os quadros deslumbrantes de Georgia O'Keeffe são apresentados ao longo do romance de Georgia com o carismático fotógrafo Alfred Stieglitz (interpretado por Jeremy Irons, ganhador do Oscar em 1990 por sua atuação em “O Reverso da Fortuna”), seu colapso emocional ao descobrir que Alfred era infiel, e durante sua autodescoberta em Taos, Novo México. Vida e Arte de Georgia O'Keeffe é um filme imperdível, um drama cativante, tanto para os fãs do trabalho de Georgia quanto para quem ainda não a conhece.

Nausicaa do Vale do Vento

A primeira obra prima de Hayao Miyazaki



Mil anos após a guerra apocalíptica dos Sete Dias de Fogo, os últimos povoados humanos lutam para sobreviver longe do Fukai, uma floresta tóxica habitada por insetos gigantes que avança sem controle por toda superfície do planeta. Neste trágico cenário somos apresentados a Nausicaa, a última princesa da casa real do Vale do Vento, um pequeno reinado alheio às guerras de seus países vizinhos.
Intrépida e sensível, Nausicaa não aceita a degradante condição humana e busca no interior do Fukai descobrir uma maneira dos homens conviverem novamente em harmonia com o planeta. Porém, a pacífica vida de Nausicaa muda completamente após a queda de uma imensa nave de transporte em sua terra natal, sendo rapidamente envolvida na guerra dos reinados vizinhos que lutam pelo controle da última arma biológica reminescente da civilização industrial, o mesmo tipo de criatura responsável pela destruição desencadeado na guerra dos Sete Dias de Fogo.
Apesar de não ser a primeira produção de Hayao Miyazaki, Nausicaa do Vale do Vento(Kaze no Tani no Naushika, 1984) foi o primeiro filme onde Miyazaki exerceu total controle. Da adaptação de sua versão em mangá à edição final, o sucesso do filme nos cinemas japoneses abriu as portas para a criação do lendário Studio Ghibli no ano seguinte – que basicamente absorveu a equipe criativa que trabalhou em Nausicaa e o modo de produção do diretor, que participava intensamente até mesmo da revisão quadro a quadro da arte de seus filmes.
Em termos técnicos, Nausicaa do Vale do Vento é uma obra impecável para sua época e mesmo hoje em dia assusta pela qualidade de sua animação, que aliada a incrível trilha sonora de Joe Hisaishi praticamente não deixa espaço para críticas. Talvez o único ponto a se reclamar seja o fato do filme comprimir demais a trama desenvolvida por Miyazaki na versão em mangá, visto que no lançamento do animê Miyazaki só havia finalizado os dois primeiros volumes dos sete que compõem a obra. Por outro lado, a versão animada acaba se tornando mais ágil e direta ao exprimir sua mensagem em relação a sua versão impressa, eximindo assim esta crítica da obra.
Seja através da força feminina de Nausicaa; dos colossais insetos Ohmus; da sabedoria dos idosos do Vale do Vento; ou mesmo dos personagens dúbios que buscam a paz através da guerra, o filme expressa a tradicional preocupação de Hayao Miyazaki em transmitir através de suas obras questões de ordem práticas e filosóficas. Observa-se inclusive que a produção foi endorsada pelo WWF (World Wide Fund for Nature) na época de seu lançamento, tamanho poder da educativo da mensagem ecológica de Nausicaa do Vale do Vento.

Resumindo, um filme imperdível por sua primazia estética e beleza filósofica!


sábado, 14 de novembro de 2015

FERNANDO PESSOA

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

SOLDA

CÁUSTICO

SOLDA CÁUSTICO:http://cartunistasolda.com.br/

VINCENT VAN GOGH


Bottles and Earthenware


Cauldron and Jug


Vegetables and Fruit