sexta-feira, 5 de maio de 2017

NUM LAGO DOURADO

On golden pond, 1981, Universal Pictures, 109min. Direção: Mark Rydell. Roteiro: Ernest Thompson, baseado em sua peça teatral homônima. Fotografia: Billy Williams. Montagem: Robert L. Wolfe. Música: Dave Grusin. Figurino: Dorothy Jeakins. Direção de arte/cenários: Stephen Grimes/Jane Bogart. Casting: Dianne Crittenden, Barry Primus. Produção: Bruce Gilbert. Elenco: Henry Fonda, Katharine Hepburn, Jane Fonda, Doug McKeon, Dabney Coleman. Estreia: 04/12/81

10 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Mark Rydell), Ator (Henry Fonda), Atriz (Katharine Hepburn), Atriz Coadjuvante (Jane Fonda), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora, Som
Vencedor de 3 Oscar: Ator (Henry Fonda), Atriz (Katharine Hepburn), Roteiro Adaptado
Vencedor de 3 Golden Globes: Filme/Drama, Ator/Drama (Henry Fonda), Roteiro

Existem no mínimo dois motivos para que o filme "Num lago dourado" tenha sido feito. Primeiro, para registrar em película o emocionante encontro entre duas gerações de uma nobre linhagem do cinema americano (que vivem na tela um interessante paralelo do que viviam na realidade) e para dar a Henry Fonda, aos 76 anos de idade, sua maior chance de levar um Oscar. O primeiro objetivo foi atingido plenamente: ao lado da filha Jane, de forma comovente, o veterano ator exorcisa uma difícil relação familiar em frente à plateia de forma comovente. E no resultado do segundo motivo saiu-se ainda melhor: não só Fonda levou a estatueta como sua companheira de cena, Katharine Hepburn arrebatou seu quarto Oscar, estabelecendo um recorde que não dá sinais de ser batido tão cedo.

Escrito pelo dramaturgo Ernest Thompson baseado em sua peça teatral homônima, o roteiro de "Num lago dourado" versa sobre assuntos normalmente considerados venenos de bilheteria, como velhice, medo da morte e relações familiares problemáticas. Totalmente escorado no trabalho de atores e em seus diálogos bem escritos, em detrimento de efeitos visuais e piadas infames (que já na época de seu lançamento faziam a alegria dos estúdios), o filme de Mark Rydell conquista justamente pela simplicidade de seu enredo e pela felicidade na escalação de seu elenco. Ao contrário de aborrecer o público com falas inflamadas e lugares-comuns, "Num lago dourado" oferece à plateia um espetáculo de delicadeza e bom gosto, que exige apenas um mínimo de sensibilidade para emocionar a audiência sem apelar para golpes baixos.

A trama do filme se passa no verão em que Norman Thayler Jr (vivido com sutileza por Henry Fonda em seu último papel) completa 80 anos. Irascível, rabugento e sem maiores admirações pelos seres humanos em geral, ele chega até sua casa de verão com a dedicada esposa Ethel (Katharine Hepburn) pra comemorar seu aniversário e afastar-se do turbilhão da cidade grande. Logo em seguida sua única filha, Chelsea (Jane Fonda) também chega ao local, acompanhada do novo namorado, Bill Ray (Dabney Coleman) e do filho deste (Doug McKeon), um menino de 13 anos de idade, rebelde e pouco amistoso. Fica patente para os visitantes que a relação entre pai e filha não é das mais saudáveis, mas mesmo assim tudo transcorre dentro da normalidade. As coisas mudam de figura quando Chelsea pede aos pais que fiquem cuidando de seu futuro enteado enquanto ela viaja com Bill Ray. O que poderia ser uma temeridade, no entanto, acaba ajudando tanto o menino, que torna-se mais afável, quanto o próprio Norman, que vê no rapaz o neto que nunca teve.
A maior beleza de "Num lago dourado", além de sua fotografia deslumbrante, é a maneira com que o roteiro de Thompson trata suas personagens. Abdicando de qualquer condescendência, ele criou personagens dolorosamente reais, repletos das qualidades e defeitos de qualquer ser humano. Norman é um homem amargurado, chato, de uma misantropia quase patológica, mas ao mesmo tempo se envolve em uma relação de amizade e amor com um pré-adolescente que busca aceitação e carinho. E sua filha, uma mulher fechada em suas mágoas de infância tenta desesperadamente conquistar a admiração de um pai do qual nunca teve mais do que críticas. No meio deles, uma mãe carinhosa e amorosa que luta para uní-los através dos laços de sangue.

É inegável que "Num lago dourado" ganha muito com os embates verbais entre os dois Fonda de seu elenco, ambos vibrantes e à flor da pele. Mas é injusto não aplaudir também a química entre o bom e velho Henry e o menino Doug McKeon (que, a despeito de seu bom trabalho não conseguiu uma carreira decente em Hollywood): as cenas entre os dois transmitem uma ternura quase palpável, que emociona sem ser piegas. E emocionante, aliás, é um eufemismo para o que acontece quando Fonda e Katharine Hepburn estão juntos. O último ato do filme, em que o velho casa volta a ficar sozinho em casa depois da partida de seus convidados é de uma pungência ímpar. Sem recorrer a truques sujos para tentar a emoção do espectador, o texto de Thompson e a direção elegante de Mark Rydell atingem o máximo de beleza ao deixar que seus intérpretes brilhem ao máximo. E eles dão um show à parte, provando que talento definitivamente não envelhece.

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