Paramount Pictures, 107min. Direção: Jerry Lewis. Roteiro: Jerry Lewis, Bill Richmond. Fotografia: W. Wallace Kelley. Montagem: John Woodcock. Música: Walter Scharf. Figurino: Edith Head. Direção de arte/cenários: Hal Pereira, Walter Tyler/Robert Benton, Sam Comer. Produção: Ernest D. Glucksman. Elenco: Jerry Lewis, Stelle Stevens, Del Moore, Kathleen Freeman. Estreia: 04/6/63
Em 1996, o ator Eddie Murphy reencontrou o caminho das bilheterias milionárias com "O professor aloprado", uma comédia dirigida por Tom Shadyac que explorava ao máximo seu talento em transformações físicas e no humor escatológico. O filme não apenas recuperou o sucesso comercial de Murphy, como também levou pra casa um justíssimo Oscar de maquiagem e, mais importante ainda, relevou a uma nova geração de espectadores o filme original, um dos mais populares e importantes da carreira de Jerry Lewis. Lançado em 1963, no auge de seu sucesso como autor total de seus filmes - ele atuava, dirigia, escrevia o roteiro e produzia - "O professor aloprado" brincava com o conceito Dr. Jekyll e Mr. Hyde criado por Robert Louis Stevenson em "O médico e o monstro" para fazer uma severa crítica à valorização oca da beleza física em detrimento de sentimentos mais nobres. Parece um discurso sentimentaloide, mas nas mãos de Lewis, especialista em desconstruir os mais sérios discursos com a delicadeza de uma marreta, tudo é desculpa para uma série de gags - que se dividem entre as bem-sucedidas e as que não conseguem chegar lá.
Dotado do visual camp inconfundível dos anos sessenta, "O professor aloprado" apresenta Lewis como seu personagem arquetípico, o desajeitado, sem graça e fracassado amorosamente Julius Kelp, um mestre de química que, apesar da inteligência acima da média, não consegue nem mesmo o respeito de seus alunos, que não se cansam de debochar de seu visual, de sua voz esganiçada e de seu sorriso dentuço. Vítima constante de bullying até dentro de sala de aula e apaixonado pela delicada Stella Purdy (Stella Stevens), ele resolve mudar de vida, mas quando até suas tentativas de enfrentar uma rotina de exercícios de musculação não dão resultado, ele apela para uma fórmula secreta que lhe transforma - depois de muitas experiências mal-sucedidas - em um galã de fala mansa mas um tanto agressivo e sedutor. Buddy Love, com seu jeito galanteador de quinta categoria, acaba por seduzir Stella, sem dar chance à real personalidade de Kelp de mostrar suas qualidades.
Segundo as más-línguas, Jerry Lewis criou o antipático e canastrão Buddy Love inspirado em seu ex-parceiro de palco e telas Dean Martin - embora tenha semelhanças também com o líder do grupo de amigos de Martin, o cantor Frank Sinatra. Verdade ou não, é fato que a divisão do ator em dois personagens tão díspares apenas comprova sua versatilidade e capacidade de deixar de lado a persona infantiloide que tanto encantava o público infantil e os franceses em geral. Apaixonados pela obra de Lewis - muito mais do que seus conterrâneos, que frequentemente não valorizavam seus esforços artísticos - os críticos da França o viam como um autor do mesmo nível de Charles Chaplin, ao contrário dos norte-americanos, que menosprezavam seu trabalho como algo puramente comercial. O fato de que o astro não era exatamente uma pessoa de fácil convivência ajudava a relegá-lo a uma espécie de limbo profissional, em que era adorado pelos fãs mas detestado por todos que o rodeavam - e talvez isso deixe claro que Buddy Love era apenas uma faceta do próprio Lewis, que ele preferia esconder do grande público enquanto fazia suas pataquadas. Psicologismos à parte, "O professor aloprado" é, hoje, um filme que parece não ter resistido muito ao teste do tempo.
Além do visual sessentista - charmoso mas um tanto desconfortável pelo excesso de cores fortes que lhe dão um ar psicodélico hoje um tanto anacrônico - e de um ritmo por vezes claudicante, o filme de Jerry Lewis se arrasta mais do que deveria, demorando a apresentar a segunda personalidade do protagonista até quase metade da projeção. O roteiro - escrito e reescrito diversas vezes - não chega a empolgar, sempre dando a impressão de ser um fiapo de história feito com o objetivo de ligar várias cenas onde o ator pode exercitar seu egocentrismo (e, convém dizer, seu talento). Os atores coadjuvantes são outro problema, jamais fazendo jus ao esforço de Lewis em dar consistência a um conjunto não muito bem estruturado. A impressão de que o show é unicamente do ator é nítida, e, apesar de ele conseguir manter a atenção até o final da narrativa, seus exageros nem sempre funcionam como deveriam. Apesar disso, é uma comédia que é a cara de sua época, e um exemplo mais que perfeito do que Jerry Lewis era capaz em seu apogeu. Uns (como os franceses) veneram. Outros se aborrecem. Basta escolher um lado.
FONTE:
UM FILME POR DIA: http://clenio-umfilmepordia.blogspot.com.br/
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