domingo, 15 de abril de 2012

sábado, 14 de abril de 2012

SANTOS F. C.


O SANTOS QUE O ZÉ LUIS ME DEU

Por Roberto José da Silva

Nunca me levou a campo, nunca tentou fazer minha cabeça, nunca vestiu uma camisa do time, nunca falou do seu amor por ele. Não precisava. Dificilmente deixava a couraça expandir sentimentos, e a chave dela eu só consegui achar muitos anos mais tarde para descobrir um menino sofrido cujo rosto que parecia esculpido a talhadeira só não metia medo porque os olhos eram de um azul tão claro e cristalino que demonstrava quem estava ali dentro. Mas havia um momento naquela vida de operário, que saía todo dia com a enorme pasta com a marmita de alumínio fechada hermeticamente fechada com elástico, e voltava no fim da tarde sem demonstrar um pingo de sofrimento, sem reclamar de nada, havia um momento em que era a alma que tomava conta e envolvia aquele corpo magro e gigante para um menino que olhava, olhava, olhava e jamais esqueceu a cena. Na meia-água nos fundos de um quintal de uma vila no subúrbio paulistano o ritual consistia em puxar uma cadeira para uma mesinha pequena de madeira onde, como num altar, o rádio sempre sintonizado na Bandeirantes era ligado nas tardes de domingo. Ele se sentava de lado, para ouvir com o lado direito, o antebraço todo apoiado, a mão direita com os dedos longos empalmando a cabeça e, dependendo do lance narrado por Pedro Luis ou Edson Leite, ela, a mão, deslizava até a nuca, como se quisesse ajeitar os cabelos. Mas o que ficou marcado para sempre na retina da memória era o gesto que simbolizava a partida difícil, a decisão de um título. Ele cultivava um bigode cujos pelos, ao contrário do que ele alisava na nuca, eram grossos. E nesses momentos de tensão máxima, ampliada pela descrição empolgante dos lances, parecia que ele ia arrancá-los um a um com a pinça formada pelo indicador e polegar. Eu olhava, escutava alguns lances, dava uma volta e sabia que aquele time pelo qual ele torcia era meu também, porque era assim – e pronto. Não lembro de tê-lo visto na explosão do gol, da conquista, e isso aconteceu demais naquele final de anos 50 e todo a década seguinte – e aí, penso hoje, aí invertia tudo, como numa mágica que fazia com que ele não demonstrasse tudo o que sentia. Muitos anos mais tarde, quando ele voltou para a sua Palmeira dos Índios, eu sintetizei de forma simplista aquela paixão: todo pau-de-arara que desceu para São Paulo naqueles anos do nascimento do Rei do Futebol naquele time mágico não tinha como torcer para outro time. Pode ser, mas antes ele morou no Rio de Janeiro e havia outro time mágico, o Botafogo de Nilton Santos, Didi e Garrincha – e ele nunca nem se dignou a falar dele, mesmo porque, antes do Palmeiras de Ademir da Guia, foi o grande rival do Santos. Eu poderia ter visto aquele time jogar muitas e muitas vezes, se meu pai Zé Luis fosse torcedor de ir a campo. Mas ele era cismado. Gostava de acompanhar pela magia das ondas médias, mas estava ao meu lado, na sala de um vizinho, o dentista da vila, o baiano Dr. Milton, também santista doente, quando o Santos sem Pelé, mas com Pepe infernal na noite de chuva do Maracanã, ganhou a primeira partida contra o Milan, depois consolidada por conta da loucura e coragem de Almir Pernambuquinho. Sim, lembro agora, quando o ponta esquerda soltou a bomba do meio da rua, furando tudo, ele abriu um sorriso diante da tela de tv que transmitia em preto e branco, direto do Rio, e um despertador que estava na mesa de centro para marcar o tempo tinha ido parar no teto na explosão de alegria do dono da casa. Com ele também vi no Cine Dom Bosco, que ficava atrás de casa, o filme “Isto é Pelé” – e aquela foi a única vez que fomos juntos ao cinema. Talvez por tudo isso, muito tempo depois, quando descobri, através do meu rito de passagem de dor, porque ele era tão fechado, e isso nos aproximou porque eu lhe dei o primeiro beijo, retribuído três anos depois em nova visita ao Nordeste, talvez por isso eu nunca tenha lhe falado que tinha descoberto o time do meu coração, com outras cores, em outro estádio. Claro que ele iria compreender, porque essas coisas não se explicam, porque ele sempre soube que o amor que ele passou pelo Santos permaneceria. Às vezes penso que o fato de ter trabalhado com futebol mais de 20 anos tem a ver com ele. E como eu era muito parecido, agora nem lembro mais se lhe contei que estive a trabalho na Vila Belmiro logo no início da carreira, que entrei naquele vestiário, que vi o armário do Rei e imaginei aqueles times ali dentro. Alguns anos antes de ele partir, lhe dei de presente o boné do Peixe, ele que gostava tanto de proteger a cabeça com cabelos ralos do sol inclemente daquelas bandas. Ele deu aquele sorriso como no jogo contra o Milan. Talvez tenha acontecido a mesma coisa quando meu irmão Ricardo, torce para o São Paulo, lhe mostrou algumas fotos minhas de um encontro com Pelé aqui em Curitiba. De vez em quando eu coloco o boné na cabeça, assim, naqueles momentos em que é preciso algo maior que o racional para se levar a vida. Nesses momentos eu entendo o que passei anos se entender: como alguém podia sofrer torcendo para um time como aquele. Entendo que não é preciso entender. É o futebol. E eu agradeço ter herdado o Santos de meu pai.

ROBERT DOISNEAU, 100 ANOS

Robert Doisneau (14 de abril de 1912 - 1º de abril de 1994) foi um famoso fotógrafo nascido na cidade de Gentilly, Val-de-Marne, na França. Era um apaixonado por fotografias de rua, registrando a vida social das pessoas que viviam em Paris e em seus arredores.
Doisneau foi um dos fotógrafos mais populares da França. Era conhecido por sua modéstia e imagens irônicas, misturando as classes sociais das ruas e cafés de Paris. Influenciado pela obra Atget, de Kertész e Cartier Bresson, Doisneau apresentou em mais de vinte livros uma visão encantadora da fragilidade humana e da vida como uma série de momentos calmos e incongruentes.






"As maravilhas da vida cotidiana são tão emocionantes. Nenhum diretor de filmes pode organizar o inesperado que você encontra na rua". Robert Doisneau.

Fonte: Wikipédia

quinta-feira, 12 de abril de 2012

CINE CENA

UMA SIMPLES FORMALIDADE
(Une Pure Formalité/Una Pura Formalità)

De Giuseppe Tornatore, Itália-França, 1994.
Com Gérard Depardieu, Roman Polanski, Sergio Rubini
Argumento e roteiro Giuseppe Tornatore
Música Ennio Morricone
Cor, 108 min

Por Carina Rabelo

Um bosque silencioso e taciturno. Uma arma voltada para a câmera. Um tiro. Violinos nervosos embalam a cena. Um homem corre, louco e ofegante pelo bosque que, repentinamente, torna-se palco de uma tempestade inexplicável. Suspiros e desorientação. O homem encontra-se perdido... mas há uma luz no fim do bosque. São policiais. O desorientado sujeito não possui documentos, então, é encaminhado para a delegacia - um estranho local distante e misterioso, semelhante a um castelo abandonado e sombrio. Nada há, apenas policiais e um delegado. Nesse cenário de obscuridade, Giuseppe Tornatore apresenta ‘Uma Simples Formalidade’, estrelado por Gérard Depardieu e Roman Polanski, uma história policial que rompe com a expectativa tradicional de uma narrativa de suspense.

Gérard representa Onoff, um consagrado escritor, que agonizado por motivos desconhecidos, não consegue explicar ao delegado (Roman Polanki) o que faz sozinho num bosque, no meio de um temporal e sem documentos. O delegado lhe faz perguntas simples como o que ele havia feito durante aquele dia, mas Onoff não consegue elaborar uma resposta coerente, pois sua memória não funciona de forma linear. Há flashes, lapsos, exceto uma organização congruente dos fatos. Para complicar a sua situação, coincidentemente, houve um assassinato naquela mesma noite.

O que seria uma simples formalidade policial torna-se um complexo interrogatório, no qual o delegado se encontra num constante duelo pessoal entre a sua profunda e inabalável admiração pelo artista e pela possibilidade do mesmo ser um cínico e perigoso assassino. Tornatore nos surpreende ao longo dos 107 minutos da trama, desvelando um texto que nos coloca diante da constante dúvida sobre a clareza dos fatos. Há um crime, no qual não se conhece a vítima, mas já existe um suspeito, um homem transtornado, confuso e contraditório em tudo o que diz.

O espectador é levado a assumir diversos posicionamentos na narrativa. Onoff é mesmo o assassino? Quem é a vítima? Há uma conspiração na delegacia? Seria Onoff um bode expiatório? Assim, o enredo se desenrola num espaço fixo – um pequena e decrépita sala. São 67 minutos numa espaço encurralado por ratos, goteiras, vinhos e incertezas. A trilha acompanha o suspense do enredo, numa sonoplastia estridente e ameaçadora.

As fotografias e as pequenas lembranças

O sentimento de admiração do delegado pelo escritor e o clima de compaixão e aflição dos policiais durante o interrogatório se mesclam com a desconfiança da autoria do ‘suposto’ crime. O pensamento de Onoff, desorganizado e incoerente, passa a estruturar-se num ritmo linear, a medida que vai lembrando aos poucos das personagens que compõem a sua história. Embebido pelas lembranças entrecortadas, o escritor passa a desconfiar de si próprio, ao recordar de cenas inexplicáveis como discussões com a amante, papéis picotados sobre a escrivaninha e uma arma de fogo... que foi posteriormente localizada no local do ‘crime’. As fotos permitem que Onoff recomponha um referencial sobre a sua existência.

Num roteiro extremamente bem elaborado, o apreciador encontra-se tão perdido quanto o próprio Onoff e compartilha do dilema sofrido pelo delegado. As imagens-clipes e a câmera em travelling nos proporciona um universo de conflitos numa narrativa extensa e complexa, que promete abalar os alicerces do real e do verossímil, afinal, tudo é inacreditável naquela delegacia, uma masmorra de descobertas que suplantam as fábulas e fantasias metafísicas. 

FOTOS








Fotos de Ricardo Silva

segunda-feira, 9 de abril de 2012

VIVIENE





Fonte: http://biertijd.com/index.php?itemid=33892

SOLDA

CÁUSTICO

Fonte: http://cartunistasolda.com.br/2012/04/04/mural-da-historia-215/