domingo, 10 de março de 2013

FERNANDO PESSOA


    Ah quanta melancolia!
    Quanta, quanta solidão!
    Aquela alma, que vazia,
    Que sinto inútil e fria
    Dentro do meu coração!


    Que angústia desesperada!
    Que mágoa que sabe a fim!
    Se a nau foi abandonada,
    E o cego caiu na estrada -
    Deixai-os, que é tudo assim.


    Sem sossego, sem sossego,
    Nenhum momento de meu
    Onde for que a alma emprego -
    Na estrada morreu o cego
    A nau desapareceu.


    Fernando Pessoa  03-09-1924

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