terça-feira, 14 de outubro de 2014

GRANDES ÁLBUNS


STEVIE WONDER – INNERVISIONS



por Tiago Ferreira

Stevie Wonder pode não enxergar, mas suas visões interiores são mais interessantes e complexas do que podemos imaginar. Ao contrário de grandes artistas que se aprofundaram nas drogas e expeliram seus demônios em canções clássicas, Stevie preferiu seguir o caminho de encontrar a tão distante paz sem soar religioso ou dogmático demais.

Depois de uma bem-sucedida carreira bancada pela Motown, Stevie estava inspirado no começo da década de 70, quando entregou alguns de seus melhores trabalhos. E Innervisions, se não for o melhor deles, não poderia ficar de fora do panteão.

O groove dos pianos de Stevie já aparecem logo na primeira faixa, “Too High”, que critica uma garota que pretende ‘chegar aos céus’ por vias alucinógenas. Uma das melhores do álbum, “Living For The City” conta a crônica de uma cidade com base em uma família que vive mal “pela cidade”.

Naquele momento a canção refletia a conturbada vida dos negros norte-americanos, mas tem um paralelo interessante com nossa realidade: lembra aquelas pessoas que tentam uma vida melhor nas grandes cidades, mas se deparam com a injustiça social. Essa destreza acaba influenciando negativamente sua prole, que sofre na pele os preconceitos de forma direta e têm que encarar esse choque cultural de alguma forma, seja pela violência ou pela aceitação. Stevie Wonder tenta dar positivismo a quem vive dessa maneira quando diz: “Se não mudarmos o mundo, ele vai acabar em breve”.

De fato, seria injusto apontar quais seriam as ‘melhores canções’ do álbum. Todas têm a sua importância e são belíssimas, tratadas como pérola por um dos maiores soulman já existentes.

“Golden Lady” é uma balada divina, “Visions” serve como o editorial de todo o disco: “Apenas sei o que digo (…) e todas as coisas têm um fim”. Mais profundo que as belas composições é o ritmo fluido da banda, que consegue encaixar perfeitamente cada nota de sax, cada slap de contrabaixo (vide “Higher Ground”), os solos de guitarra nos lugares perfeitos.

Obra de mestre, mas ainda há bastante controvérsia quando o assunto é nomear o melhor álbum de BIG Stevie: Talking Book (1972) e Songs In The Key Of Life (1976) entram na disputa, mas Innervisions, para mim, é o clássico dos clássicos.





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