Raul Santos Seixas completaria 70 anos neste domingo, 28 de junho. Filho de Maria Eugênia Pereira dos Santos e Raul Varella Seixas, o roqueiro baiano nasceu nove meses após os dois se casarem e o interesse pelo rock´n roll começou ainda criança. "Eu tinha 9 anos e morava perto do consulado americano. Andava muito com o pessoal de lá e foram eles que me apresentaram Little Richard, o primeiro que fez minha cabeça, Howlin' Wolf, Bo Diddley, Chuck Berry... Aos 10 anos já tocava nos Relâmpagos do Rock. Tínhamos um amplificador que era um rádio de válvula adaptado pelo meu pai. Isso em 1954, 55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão, imitando o Little Richard, como via nos filmes americanos. E sempre notava que as primeiras filas ficavam vazias. É que as mães pensavam que eu era epiléptico. Tocamos assim até 1966, quando fui gravar Raulzito & Seus Panteras", contou em entrevista à revista Bizz, em 1986.
Mas, antes de ser cantor profissional, ele chegou a pensar em ser escritor. "Eu sou muito dado à filosofia, eu estudei muito filosofia, principalmente a metafísica, ontologia, essa coisa toda. Sempre gostei muito, me interessei. Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka, Schopenhauer. Depois eu fui canalizando e divergindo, captando as outras coisas, abrindo mais e aceitando as outras coisas. Estudei literatura, comecei a ver a coisa sem verdades absolutas. Sempre aberto, abrindo portas para as verdades individuais.", disse, em entrevista ao jornal Pasquin de novembro de 1973, ano em que lançou o primeiro álbum.
O cantor fazia shows no Cine Roma com a banda até se mudar, aos 27 anos, para o Rio de Janeiro, onde o grupo não foi bem. Graças ao amigo Jerry Adriani, ele foi trabalhar na CBS produzindo grupos como Trio Ternura, Renato & Seus Blue Caps e Tony & Frankie. Mas, um encontro com o capixaba Sérgio Sampaio o fez voltar a cantar. "Acreditei tanto nesse cara que ele me convenceu a voltar a ser artista", disse.
Em 1972, inscreveu-se no VII Festival Internacional da Canção e cantou "Let Me Sing, Let Me Sing", sendo contratao pela gravadora Philips. Um ano depois lançou o álbum "Krig-Ha, Bandolo!", que tinha sucessos como"Ouro de Tolo", o primeiro single a estourar no Brasil, "Mosca na Sopa", "Al Capone" e "Metamorfose Ambulante". Ele se definia como "o único no Brasil que faz o iê-iê-iê realista, pós-romântico". "É uma visão nova das coisas", disse em entrevista à revista Pop, de 1973.
O encontro com Paulo Coelho se deu após Raulzito ler um texto do "mago" sobre discos voadores publicado na revista hippie A Pomba. Juntos, compuseram "Tente Outra Vez", "Medo da Chuva", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", dentre outros sucessos. Mas nem sempre a parceria foi tranquila. "Posso dizer que existia uma briga cultural com ele, para ver quem ganhava. Eu era o melhor amigo do inimigo, e vice-versa. Depois, houve um certo desgaste no relacionamento. Mas sempre foi uma boa parceria, saíram obras lindíssimas", disse à jornalista Sonia Maia, em entrevista à revista Bizz, em março de 1987.
Os dois foram presos e torturados em 1974, quando já falavam na Sociedade Alternativa e lançaram "Gita" - o maior hit da carreira, vendendo 600 mil exemplares do álbum homônimo. Os dois foram expulsos do Brasil. "Veio uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades. Tudo para eu dizer os nomes de quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto.", explicou à Bizz.
Na década de 80, Raul já mostrava a saúde debilitada, graças ao alcolismo e à diabetes. Foi convidado para cantar com o baiano Marcelo Nova, ex-Camisa de Vênus, em 50 shows por todo o Brasil. Prestes a lançarem o álbum de inéditas "A Panela do Diabo", em 1989, Raul morreu de parada cardíaca.