terça-feira, 30 de junho de 2015

CABEÇA DE PEDRA

O poço

O mistério do poço era o poço. E o balde. E a corda. E tudo desaparecendo naquele buraco. O menino olhava a mãe sair do casebre com a bacia de alumínio, deixá-la no chão, tirar aquela tampa de madeira, destravar a manivela e descer o balde cinza, de metal, cuja alça estava com a corda amarrada bem no meio - e que antes de desaparecer sempre balançava mesmo sem vento, sem nada. Depois tinha aquele barulho que mais tarde ele ouviu na voz de Luiz Gonzaga, mas no caso era a caneca entrando na água quando ele voltou ao nordeste e levou uma chamada de Januário. Tibung! Aí ele via a mãe com a mão esquerda segurando "os quartos", como ela dizia, e enrolando a carretilha grande, fazendo força, até aparecer o balde chorando. Ela o tirava na mira do buraco e depois despejava a água limpa na bacia, que levava pra dentro. Naquele dia o menino reparou que a mãe esqueceu de fechar a tampa do poço. Ele foi lá olhar. Se esticou até conseguir ver tudo - e era escuro, e parecia que um monstro iria sair dali e puxá-lo. Mas ele olhou direito e viu, lá embaixo, no fim do mundo, um pedaço do céu e algumas nuvens que estavam acima dele, pois olhou para verificar. E aí se viu naquele espelho. Era uma cabecinha de alfinete. Quis saber também se podia aparecer a mãozinha dando tchau. Apareceu. E as duas, daria? Deu. E aí foi sonho ou pesadelo porque sumiu tudo que o amparava. Lembra que escutou um grito. Depois, ainda tonto, um braço segurando seu corpo e ele subindo na corda até os olhos se ofuscarem com a luz do sol. Ouviu gente rindo, chorando, foi abraçado, beijado, tudo mais. Falaram em milagre e ele foi colocado na cama depois de tomar banho quente. Foi assim que o mistério do poço aumentou muito mais para ele.



ARTHUR SARNOFF




FERREIRA GULLAR

Não-coisa

O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.

Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?

Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?

A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes

só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa

de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,

um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos

No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.


Poema extraído dos “Cadernos de Literatura Brasileira”, editados pelo Instituto Moreira Salles — São Paulo, nº 6, setembro de 1998, pág. 77.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

domingo, 28 de junho de 2015

FRANK MILLER

O universo dos quadrinhos se tornou bem mais sombrio com os traços de Frank Miller. O artista americano, que começou sua carreira profissional nos anos 1970, trilhou seu caminho na DC Comics, com elogiada passagem pelos quadrinhos do Demolidor. Deixou sua marca também na HQ do morcego, com as sagas Batman: The Dark Knight Returns e Batman: Ano 1, do final dos anos 1980. “Estes trabalhos têm uma enorme importância histórica. O Cavaleiro das Trevas e Ano 1são, ainda hoje, os trabalhos usados como referência máxima para os novos quadrinhos, animações e adaptações cinematográficas do personagem. São leituras obrigatórias, verdadeiras obras primas”, afirma o professor e quadrinista Cristiano Seixas.
Explorando a estética do film-noir, Miller criou em 1991 Sin City, uma cidade de pecados e altos contrastes que foi levada para os cinemas em 2005. Robert Rodriguez volta ao posto de diretor para a nova adaptação da graphic novel, prevista para 2013. Também transposta para a telona, 300foi lançada nas páginas em 1998, e chegou aos cinemas em 2006, tenho continuação engatilhada e prevista também para 2013. A graphic novel recebeu o Oscar dos quadrinhos em 1999, prêmio recebido por Miller direto das mãos de Eisner.

SOLDA

VÊ TV


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CULT MOVIE

Alma no Lodo 
(Little Caesar, 1931)

Written by Bruno Knott


Juntamente com Scarface (1932) e Inimigo Público (1931), Alma no Lodo forma a trinca que definiu e impulsionou o gênero gângster no cinema. Aqui somos apresentados ao invocado e ambicioso Rico, um criminoso comum que se inspira em mafiosos famosos e planeja crescer rapidamente nesse mundo. Ele vai para a cidade grande e pede para se tornar membro da máfia local. Com seu jeito esquentado, confiante e ameaçador, Rico logo começa a se impor perante o grupo.
Alma no Lodo nos mostra o sucesso e o declínio de um fora da lei. A sede de poder e riqueza do vaidoso Rico vai ter seu preço. Desde a primeira cena, na qual vemos no letreiro a passagem bíblica “Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão”, sabemos que as coisas não acabarão muito bem para ele.
Com um ritmo ágil, uma ótima atuação de Edward G. Robinson e doses certas de violência, Alma no Lodo possui vários elementos do mundo da máfia, com direito a cenas com a famosa metralhadora thompson e até a uma mistura um tanto bizarra e indigesta de café e spaghetti.

FONTE:
https://intratecal.wordpress.com/2014/02/07/critica-alma-no-lodo-little-caesar-1931/

FOTOS




Fotografias de Ricardo Silva

RAUL SEIXAS, 70 ANOS



Raul Santos Seixas completaria 70 anos neste domingo, 28 de junho. Filho de Maria Eugênia Pereira dos Santos e Raul Varella Seixas, o roqueiro baiano nasceu nove meses após os dois se casarem e o interesse pelo rock´n roll começou ainda criança. "Eu tinha 9 anos e morava perto do consulado americano. Andava muito com o pessoal de lá e foram eles que me apresentaram Little Richard, o primeiro que fez minha cabeça, Howlin' Wolf, Bo Diddley, Chuck Berry... Aos 10 anos já tocava nos Relâmpagos do Rock. Tínhamos um amplificador que era um rádio de válvula adaptado pelo meu pai. Isso em 1954, 55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão, imitando o Little Richard, como via nos filmes americanos. E sempre notava que as primeiras filas ficavam vazias. É que as mães pensavam que eu era epiléptico. Tocamos assim até 1966, quando fui gravar Raulzito & Seus Panteras", contou em entrevista à revista Bizz, em 1986.

Mas, antes de ser cantor profissional, ele chegou a pensar em ser escritor. "Eu sou muito dado à filosofia, eu estudei muito filosofia, principalmente a metafísica, ontologia, essa coisa toda. Sempre gostei muito, me interessei. Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka, Schopenhauer. Depois eu fui canalizando e divergindo, captando as outras coisas, abrindo mais e aceitando as outras coisas. Estudei literatura, comecei a ver a coisa sem verdades absolutas. Sempre aberto, abrindo portas para as verdades individuais.", disse, em entrevista ao jornal Pasquin de novembro de 1973, ano em que lançou o primeiro álbum.

O cantor fazia shows no Cine Roma com a banda até se mudar, aos 27 anos, para o Rio de Janeiro, onde o grupo não foi bem. Graças ao amigo Jerry Adriani, ele foi trabalhar na CBS produzindo grupos como Trio Ternura, Renato & Seus Blue Caps e Tony & Frankie. Mas, um encontro com o capixaba Sérgio Sampaio o fez voltar a cantar. "Acreditei tanto nesse cara que ele me convenceu a voltar a ser artista", disse.

Em 1972, inscreveu-se no VII Festival Internacional da Canção e cantou "Let Me Sing, Let Me Sing", sendo contratao pela gravadora Philips. Um ano depois lançou o álbum "Krig-Ha, Bandolo!", que tinha sucessos como"Ouro de Tolo", o primeiro single a estourar no Brasil, "Mosca na Sopa", "Al Capone" e "Metamorfose Ambulante". Ele se definia como "o único no Brasil que faz o iê-iê-iê realista, pós-romântico". "É uma visão nova das coisas", disse em entrevista à revista Pop, de 1973.

O encontro com Paulo Coelho se deu após Raulzito ler um texto do "mago" sobre discos voadores publicado na revista hippie A Pomba. Juntos, compuseram "Tente Outra Vez", "Medo da Chuva", "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", dentre outros sucessos. Mas nem sempre a parceria foi tranquila. "Posso dizer que existia uma briga cultural com ele, para ver quem ganhava. Eu era o melhor amigo do inimigo, e vice-versa. Depois, houve um certo desgaste no relacionamento. Mas sempre foi uma boa parceria, saíram obras lindíssimas", disse à jornalista Sonia Maia, em entrevista à revista Bizz, em março de 1987.

Os dois foram presos e torturados em 1974, quando já falavam na Sociedade Alternativa e lançaram "Gita" - o maior hit da carreira, vendendo 600 mil exemplares do álbum homônimo. Os dois foram expulsos do Brasil. "Veio uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades. Tudo para eu dizer os nomes de quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto.", explicou à Bizz.

Na década de 80, Raul já mostrava a saúde debilitada, graças ao alcolismo e à diabetes. Foi convidado para cantar com o baiano Marcelo Nova, ex-Camisa de Vênus, em 50 shows por todo o Brasil. Prestes a lançarem o álbum de inéditas "A Panela do Diabo", em 1989, Raul morreu de parada cardíaca.



sábado, 27 de junho de 2015

quinta-feira, 25 de junho de 2015

GRANDES ÁLBUNS

DEVO
Q: ARE WE NOT MEN? A: WE ARE DEVO! (1978)

por TIAGO FERREIRA

A teoria de B. H. Shadduck norteou uma das melhores pilhérias sônicas dos anos 70.


01 Uncontrollable Urge
02 (I Can’t Get No) Satisfaction
03 Praying Hands
04 Space Junk
05 Mongoloid
06 Jocko Homo
07 Too Much Paranoias
08 Gut Feeling / Slap Your Mammy
09 Come Back Jonee
10 Sloppy (I Saw My Baby Gettin’)
11 Shrivel-Up


Gravadora: Warner Bros

Os integrantes do Devo não estavam errados quando disseram que os humanos estão devoluindo – ou seja, regredindo.
No final dos anos 1970 as teorias conspiratórias, de uma forma ou de outra, acabavam envolvendo o avanço da tecnologia. Para o Devo, estávamos nos tornando imbecis – um generalizado das castas inferiores que o escritor Aldous Huxley preconizou em Admirável Mundo Novo.
Todos nós ‘somos Devo’, diz a banda em “Jocko Hommo”, extraído do manifesto de B. H. Shadduck, dos anos 1920, que diz: “o pecado no Jardim do Éden foi o esforço de um macaco em se tornar humano. Deus fez o homem, mas usou o macaco para apanhar a sujeira”. O pecado é um álibi. “Eis a loucura de tudo”, grifa o manifesto, sob a imagem de um anjo apontando para a direita e um macaco segurando um homem que deseja avançar à esquerda.

E eis que do grifo surge a banda para colocar sentido nisso. Ou totalmente danificá-lo, como faz muito bem no álbum de estreia Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!.

Uma banda torta e amalucada como o Devo assinar com uma major como a Warner Bros não era comum (como ainda não é hoje). Acontece que, além dos integrantes do Devo, haviam outros adeptos à teoria de Shadduck. Um deles era Chuck Statler, que ganhou a premiação no Ann Arbor Film Festival em 1976 pelo curta-metragem The Truth About De-Evolution. A trilha havia sido composta pelo Devo, que logo receberia convite de Neil Young para a trilha de Human Highway (1982).

Só que o grande salto ainda estava por vir. Foi pelo conselho da esposa que o guitarrista Michael Aylward, do Tin Huey (também de Ohio), mostrou o EP Be Stiff, gravado pelo Devo naquele 1978, aos amigos David Bowie e Iggy Pop.

O Camaleão mostrou interesse em produzir a banda na hora, com aval do guitarrista Robert Fripp. Sem tempo de seguir com o projeto por conta das filmagens de Apenas Um Gigolô (dirigido por David Hemmings), Bowie deixou o destino nas mãos de Fripp, que o encaminhou a Brian Eno (contextualizando: nessa época Fripp e Eno estavam por trás dos excelentes discos de David Bowie, hoje conhecidos como a ‘Trilogia de Berlim’: Low, Heroes e Lodger).

A pegada do Devo tinha tudo a ver com os experimentos de Eno: a transição punk/new-wave envolto a um conceito tão degenerado quanto criativo.

O Devo não queria teorizar Shadduck; queria ser a banda que já assimilara suas ideias de putrefação humana

As gravações tiveram início antes do contrato com a Warner, portanto, a banda teve que cruzar o Atlântico contanto com empréstimo do produtor.

Mas as coisas não desenrolaram como desejado. Dentro da proposta tresloucada da banda, Eno queria inserir mais teclados e sintetizadores, como posteriormente desenvolveria com o Talking Heads. A grande pegada do Devo, pelo menos naquele momento, era juntar um vigor de batalha com depravação sonora.

Quem ouve Q: Are We Not Men… provavelmente não associaria de cara a um pano de fundo tão pessimista quanto a teoria de Shadduck. Isso porque a banda não queria teorizar; queria ser a banda que já assimilara as ideias de putrefação humana.

Por isso, aqui “Mongoloid” soa como um hino ainda mais potente do que a banda mostraria anos depois em seus shows acachapantes. Por isso “Jocko Hommo” obteria o acompanhamento de séquitos dum sectarismo do ridículo (e os synths aqui souberam sonorizar o ridículo muito bem). Por isso este disco se tornaria uma das melhores pilhérias de toda a década.

“Jocko Hommo” é uma canção de alienados, feito por uma banda que aparenta ser alienada e que consegue deixar qualquer ouvinte alienado logo na primeira audição. É uma das grandes músicas dos anos 1970 e clássico irredutível do Devo.

“Uncontrollable Urge” mostra de cara a irracionalidade vontade de gritar, aloprar, ‘perder o controle‘. Em seguida entra o cover de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, que muitos encaram como a grande contradição do disco. Ora bolas, dentro dessa teoria a grande graça é ser imprevisível – principalmente na execução, que a encara como uma música conformista. Se eu fosse integrante dos Rolling Stones, ficaria mais incomodado do que lisonjeado. Mas, musicalmente falando, ficou boa pra caramba.

Percebemos a influência sônica de Brian Eno em “Praying Hands”, que começa com loopings de sintetizadores. O Devo a coloca no seu terreno com típicos riffs crus e a música se desenvolve na convergência synths vs. guitarra, que provavelmente justificaria o termo new-wave.

Tudo bem que a new-wave entremeia-se ao som do Devo, mas outros dois elementos contribuíram para a iconoclastia da banda: as guitarras da no-wave com uma esquizofrenia vocal que prossegue o legado de Captain Beefheart – vide “Space Junk”, que poderia ser extraído de um Lick My Decals Off, Baby (1970).

Justificativas não faltariam para se somar à obrigatoriedade de ouvir Devo. Mas a mais convincente ainda é: Q: Are We Not Men… é recheado de clássicos!

De doideira em doideira, temos um álbum repleto de canções ótimas. Escolha a maluquice que melhor se encaixa ao seu lado doidivanas: seria “Too Much Paranoias”, com excepcionais linhas de guitarra de Bob Casale e Bob Mothersbaugh? A supostamente séria “Gut Feeling”, levada pelos teclados ágeis de Mark Mothersbaugh? “Shrivel-Up” e sua estrutura cósmica? Ou as já mencionadas acima?

Devoluir pode não ser a melhor das notícias. Mas, ao som do Devo, pelo menos é divertido, confortante e espiritualmente libertador.




RYOHEI HASE




quarta-feira, 24 de junho de 2015

CABEÇA DE PEDRA

Filosofia

Achou a filosofia bem filha da puta. No bom sentido, se é que poderia ser classificada assim. A frase veio do nada, mas o fez pensar em quantos seres filhos da puta, no mau sentido, tinha conhecido em tantos anos de existência. Não, não tinha a ver com as mães dos tais, porque elas nunca merecem, mas com o caráter filho da puta dos crápulas que, do nada, demonstraram porque eram filhos da puta. Teve um que, do nada, foi pedir sua cabeça ao chefe do local onde trabalhava. Teve outro que ficou lhe devendo uma fortuna por trabalho feito e certa vez, ao ser cobrado, resmungou: "Você só pensa em dinheiro!" Cortou dos pensamentos as revelações dos descasamentos, porque estas eram clichês conhecidos em todas as Varas de Família. Lembrou de um amigo empresário de jogador que, no meio de uma madrugada, ao saber que sua estrela tinha caído com o carro dentro de um rio canalizado, e às vésperas de ser vendido por milhões, gritou: "Este filho da puta quer me foder!!" Não era o caso de caráter, apenas de bebedeira. Então ele se debruçou de novo sobre a frase que desencadeou tudo rapidinho, e repetiu em voz alta, olhando nos próprios olhos diante do espelho: "Ser filho da puta não é um ideal a ser alcançado. É, sim, uma grande filhadaputice".


terça-feira, 23 de junho de 2015

BEN-HUR (1959)

BEN-HUR (Ben-hur, 1959, MGM Pictures, 212min) Direção: William Wyler. Roteiro: Karl Turnberg, baseado no romance de Lew Wallace. Fotografia: Robert L. Surtees. Montagem: John D. Dunning, Ralph E. Winters. Música: Miklos Rosza. Produção: Sam Zimbalist. Elenco: Charlton Heston, Stephen Boyd, Jack Hawkings, Haya Harareet, Hugh Griffith, Martha Scott, Cathy O'Donnell. Estreia: 18/11/59

12 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (William Wyler), Ator (Charlton Heston), Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora, Figurino Cores, Direção de Arte Cores, Som, Efeitos Especiais
Vencedor de 11 Oscar: Melhor Filme, Diretor (William Wyler), Ator (Charlton Heston), Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Fotografia, Montagem, Trilha Sonora, Figurino Cores, Direção de Arte Cores, Som, Efeitos Especiais
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (William Wyler), Ator Coadjuvante (Stephen Boyd)

Quem achava que depois de "Os dez mandamentos" e a aposentadoria de Cecil B. de Mille os filmes de temática religiosa seriam coisa do passado em Hollywood deve ter ficado de queixo caído quando o remake de um filme lançado em 1925 em uma versão muda estreou nos cinemas, no final de 1959. Adaptado do romance cristão de Lew Wallace publicado em 1880, "Ben-hur" não só pagou seu orçamento estratosférico para a época (U$ 15 milhões) como tornou-se o recordista de estatuetas da Academia por quase 40 anos, com 11 prêmios no currículo ("Titanic" e "O Senhor dos Anéis, o retorno do rei" igualaram a marca em 1998 e 2003, respectivamente). O fato é que, mesmo que não se tenha simpatia pela propaganda do cristianismo feita pelo filme (motivo pelo qual o abertamente ateu Burt Lancaster recusou o papel-título), não se pode deixar de admirar suas inúmeras qualidades e mais ainda, de reconhecê-lo como o mais fascinante, empolgante e emocionante épico religioso de todos os tempos.

A bem da verdade, o militar Lew Wallace começou a pesquisar a vida de Jesus Cristo porque queria escrever um romance que desmentisse Sua existência ou qualquer outro dogma da Igreja católica. Reza a lenda que, depois de exaustivas pesquisas, ele chegou à conclusão não só de que Ele havia existido mas de que era realmente filho de Deus. A partir daí, logicamente, criou um dos mais populares livros de ficção a enfocar (ainda que de forma sutil) a passagem de Cristo pela Terra. Sutil, sim, afinal, apesar da presença dEle em momentos-chave da trama, "Ben-hur" não conta Sua história. O protagonista do filme dirigido por William Wyler - que aceitou fazer o filme por querer fazer algo do estilo de DeMille e porque recebeu o polpudo salário de um milhão de dólares - não faz milagres nem tampouco pode ser considerado um santo ou um líder de multidões. Ben-hur, a personagem, é um homem simples que se vê em uma situação de desespero ímpar e que tem a oportunidade de resgatar sua humanidade e sua dignidade perdidas, mesmo que para isso tenha que apelar para uma sangrenta vingança. Mais humano impossível.



Ben-hur (vivido com garra pelo vencedor do Oscar Charlton Heston)é um jovem e rico judeu que se recusa a delatar aqueles que planejam uma rebelião contra Roma. Considerado traidor pelo seu melhor amigo, Messala (Stephen Boyd), um aristocrata romano, ele tem sua propriedade confiscada e vê sua mãe e irmã aprisionadas. Condenado a servir de escravo em galés, Ben-hur passa três anos trabalhando como remador (daí a famosa expressão cunhada por Nelson Rodrigues, "trabalhava como um remador de 'Ben-hur') e vê sua vida ser novamente transformada quando, durante uma batalha no mar, ele salva a vida do oficial romano Quintus Arrius (Jack Hawkins). Agradecido, o oficial o liberta e lhe dá trabalho como condutor de sua quadriga. Quando se reencontra com Messala, Ben-hur o desafia a uma corrida de quadrigas, onde a rivalidade entre os dois ex-melhores amigos de infância irá chegar a seus níveis mais extremos.

O que é mais fascinante em "Ben-hur" é seu equilíbrio perfeito entre ação e emoção. As sequências mais empolgantes (em que se destaca a até hoje impressionante corrida de quadrigas) se encaixam magistralmente aos momentos mais dramáticos da trama, que envolvem o relacionamento do protagonista com a família e - e aí entra o aspecto religioso do filme que tanto incomodou Burt Lancaster - com um misterioso homem que atravessa seu caminho por duas vezes e transforma sua vida. Em nenhum diálogo o nome de Jesus Cristo é citado, mas não é preciso ser muito inteligente para perceber quem é o misterioso transeunte.

"Ben-hur" é um espetáculo grandioso, que, no entanto, não deixa jamais de dar importância a seu roteiro em vez de dedicar-se somente a seu visual. Não é à toa que, mesmo perdendo o Oscar (única indicação não convertida em estatueta), o script de Karl Turnberg seja até hoje um exemplo de ritmo, estrutura e bons diálogos. Os diálogos, aliás, merecem um capítulo à parte. O escritor Gore Vidal, abertamente homossexual, declarou, no documentário "Celulóide secreto" - que investiga a visão do cinema sobre os gays - que muitos dos diálogos entre Ben-hur e Messala foram escritos por ele e que, nas entrelinhas, faziam menção a um relacionamento de amantes entre os dois amigos. Segundo Vidal, a ira de Messala contra Ben-hur não advinha apenas de motivos políticos e sim do fato de ter sido rejeitado pelo amante. Assistir ao filme tendo essa informação abre portas imensas na compreensão da personalidade de Messala, vivido com gosto por um Stephen Boyd que sabia dessa mensagem subliminar que foi escondida de Charlton Heston, que jamais se submeteria a ela, haja visto sua visão conservadora da vida e da política.

"Titanic" e "O Senhor dos Anéis, o retorno do rei" podem ter empatado em número de Oscar com "Ben-hur", mas ninguém pode negar a supremacia artística do trabalho de William Wyler em relação a eles. Basta lembrar que nenhum dos dois primeiros levou estatuetas de atuação, atendo-se principalmente a prêmios técnicos, ao contrário deste clássico absoluto, que deu prêmios a Heston e Hugh Griffith por suas soberbas interpretações.




FOTOS




Fotografias de Ricardo Silva

segunda-feira, 22 de junho de 2015

FERNANDO PESSOA

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos



MOVIE STAR

ELISABETH SHUE





domingo, 21 de junho de 2015

sábado, 20 de junho de 2015

TAKATO YAMAMOTO



DISCOTECA BÁSICA


Nuggets: Original Artyfacts From the First Psychedelic Era 1965–1968
(1972) (Compilation) - Various Artists
(Edição 120,Julho de 1995)

Não é costume uma coletânea constar desta seção. Só que Nuggets... é uma honrosa exceção. O disco, compilado e idealizado por Lenny Kaye (crítico de rock e ex-marido e guitarrista do grupo de Patti Smith), virou sinônimo de determinado tipo de música e atitude, chamando a atenção para um importante extrato da cultura pop americana do anos 60 - as bandas de garagem.
Kaye foi audacioso ao lançar o disco. Em 72, frescura e pretensão alcançavam o ponto máximo no rock. Então, por que "levantar a bola" de grupos imitadores, barulhentos, cujas canções mal chegaram às paradas? Bom, aí estava a graça. Desde seu começo, o rock foi anti-social e espontâneo. Ninguém fez isso melhor do que estas bandas. E ponto final.
No meio do anos 60, qualquer bando de garotos suburbanos americanos achava que poderia competir com a "invasão britânica". Deixavam os cabelos crescer, compravam instrumentos vagabundos (guitarras Danelectro, com muito fuzz, e orgãos Farfisa) e arrumavam contratos com pequenas gravadoras. O que viesse pela frente era lucro.
Assim, tínhamos bandas xerocando The Yardbirds, com mais fúria do que o grupo original (The Shadows Of Knight, The Count Five), ou ecoando Bob Dylan em sua fase rosnante (Mouse And The Traps).
Se o trio The Strangeloves atacava com "Night Time" e The Blues Magoos iam de "Tobacco Road", The Knickerboxers faziam a melhor música que os Beatles não gravaram, a notável "Lies". Sem contar The Chocolate Watch Band detonando seu machismo adolescente em "Let´s Talk About Girls". E para escolher ao menos um grupo como exemplo daquela época, poderiam ser citados os arrogantes e censurados The Standells, presentes no disco com a canção "Dirty Water".
As drogas psicodélicas eram o combustível das bandas e o período deu ao rock´n´roll dois de seus cidadãos mais doidões: Roky Erickson (Thirtheenth Floor Elevators) e Sky Saxon (The Seeds). Futuros superstars como Todd Rundgren e Ted Nugent tiveram o seu treinamento básico tocando com os grupos Nazz e The Amboy Dukes, respectivamente.
Para resumir a influência destas bandas: nos anos 60, o estilo já era chamado de punk rock e o termo garage band foi outra coisa que se ouviu muito a partir do começo dos anos 90.


Paulo Cavalcanti

SOLDA

CÁUSTICO



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quinta-feira, 18 de junho de 2015

DAVID BOWIE

Space Oddity

MILLÔR E A REALIDADE


- Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.

Brasil: um filme pornô com trilha de Bossa Nova.

- Corrompo logo existo.

- Em política nada se perde e nada se transforma - tudo se corrompe.

- A corrupção anda tão generalizada que já tem político ofendido ao ser chamado de incorruptível.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

TABUBA 2013






Fotografias de Ricardo Silva

domingo, 14 de junho de 2015

DALTON TREVISAN


Minha Vida Meu Amor

Olha minha vida meu amor
Há muito não és mais meu
Toda a loucura que fiz
Foi por você
Que nunca me deu valor
Por isso perdeu tua mulher
E teus filhos
Não posso com esta cruz
Acho muito pesada João
Você vem me desgostando
A ponto de me por no hospício
Uma vez conseguiu
Mas duas não
Aqui ô babaca
De tuas negras
Que nem os filhos se interessou
De batizar na igreja
Você só vai no bar do Luís
Outro boteco não achou
Mais perto da tua família
Só me operei que você obrigou
Agora não presto
Já não sirvo na cama?
Quis fazer de mim
A última mulher da rua
Mas não deixei
Por tua causa amor
Eu morro pelada
Abraçada com os dois anjinhos
No fundo do poço
Amor desculpe algum erro
E a falta de vírgula


FOLHA DE SÃO PAULO, 27/11/1983¹

¹A pedido do autor, tem-se aqui uma versão revista do texto publicado pela primeira vez no “Folhetim”.

Textos extraídos do livro “FIGURAS DO BRASIL 80 AUTORES EM 80 ANOS DE FOLHA”, Editora PUBLIFOLHA. – FOLHA DE SÃO PAULO pág. 254 e 255.


sábado, 13 de junho de 2015

JIM WOODRING





PACTO DE SANGUE


PACTO DE SANGUE (Double indemnity, 1944, Paramount Pictures, 107min) Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder, Raymond Chandler, romance de James M. Cain. Fotografia: John F. Seitz. Música: Miklós Rózsa. Figurino: Edith Head. Direção de arte/cenários: Hans Dreier, Hal Pereira/Bertram Granger. Produção executiva: Buddy G. DeSylva. Produção: Joseph Sistrom. Elenco: Fred MacMurray, Barbara Stanwyck, Edward G. Robinson, Tom Powers, Jean Heather, Porter Hall. Estreia: 24/4/44

7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Billy Wilder), Atriz (Barbara Stanwyck), Roteiro Adaptado, Fotografia em p&b, Trilha Sonora Original, Som.

Se existe um filme que merece ser chamado de noir, este filme é, "Pacto de sangue": dirigido com a maestria absoluta de Billy Wilder, fotografado em um assombroso preto-e-branco por John F. Seitz e apresentando todas as características que mais tarde seriam o DNA do subgênero mais famoso do cinema policial, a adaptação do romance de James M. Cain (que também escreveu "Mildred Pierce", que virou "Almas em suplício" e deu à Joan Crawford o Oscar de melhor atriz) conquista o espectador logo de cara, com a narração em off do protagonista (outro sinal inequívoco do estilo), começando a narrar os caminhos tortuosos que o levaram a uma situação nada invejável: ferido e acuado, Walter Neff (Fred MacMurray) viu sua vida relativamente tranquila de agente de seguros virada de pernas para o ar desde o momento em que pôs os olhos na melíflua Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck, com uma peruca que o próprio Wilder detestava e uma atuação na medida exata entre a paixão e o cinismo). O início da intrincada trama - que modificou sensivelmente alguns pontos da obra de Cain com o apoio do autor - é apenas o começo, também, para Neff e para o público, que durante pouco menos de duas horas acompanhará uma história de paixão, lúxuria, morte e traição assinada por um dos mais brilhantes cineastas da Hollywood de ouro.

Billy Wilder - prolífico diretor e roteirista, capaz de assinar desde dramas humanos como "Farrapo humano" como comédias ácidas como "Quanto mais quente melhor" e romances elegantes como "Sabrina" - tem a seu crédito uma meia-dúzia de obras-primas, mas, à época do lançamento de "Pacto de sangue" ainda tinha poucos títulos em seu currículo (três, para ser mais exato). No entanto, quando se assiste a este seu quarto filme, fica difícil acreditar que ele nunca tivesse comandado um policial. Dotado de um ritmo impecável e um direção segura de atores, Wilder moldou a base do filme noir, borrando as fronteiras entre o bem e o mal e entregando à audiência um protagonista bem longe do maniqueísmo que imperava desde que o infame Código Hayes passou a ditar as regras na produção cinematográfica. Essa ousadia - que tão bem faz o filme e tão libertadora foi para que o público não se deixasse bitolar por leis absurdas de puritanismo - é uma das marcas registradas do cinema de Wilder e fica patente em cada sequência de "Pacto de sangue".

O protagonista, Walter Neff (vivido pelo mesmo Fred MacMurray que trabalharia novamente com o diretor em "Se meu apartamento falasse", de 1960, como o chefe canalha de Jack Lemmon) é um primor de ambiguidade: ao mesmo tempo em que é o herói da trama (ao menos dentro daquele padrão convencional de definição de herói de cinema), ele é também um mau-caráter de primeira ordem. Tudo bem, existe o atenuante de estar apaixonado, mas, no cinema noir homem apaixonado é alvo fácil, e Neff não contraria a regra: deslumbrado por Phyllis Dietrichson desde que viu pela primeira vez sua tornozeleira, displicentemente encoberta por uma toalha de banho, ele cai em suas garras e em seu plano malévolo. Convencido por ela, ele obriga seu marido (Tom Powers) a assinar um seguro de vida milionário dotado de uma cláusula que duplica a indenização caso a morte seja acidental. Se hoje o público já sabe de longe que vem problema por aí, o mesmo não pode ser dito de Neff, que entra em uma jogada arriscada: matar o milionário e forjar um acidente - para então ficar com sua esposa e o dinheiro de seu seguro.

Plano bolado e plano executado, é claro que as coisas começam a parecer o que realmente são: uma teia de mentiras e traição para ninguém botar defeito. Billy Wilder, a partir daí, mantém a plateia com a respiração suspensa, com cenas construídas milimetricamente para manter a tensão constante - e de dar orgulho ao mestre Alfred Hitchcock. Baseado em um caso real que tomou as manchetes dos jornais nos anos 20, o romance de James M. Cain encontrou em Wilder o diretor ideal, e o roteiro (que não teve a coautoria de habitual colega Charles Brackett, que não gostou do tema denso da história) contou com a colaboração do escritor Raymond Chandler, cuja relação com o cineasta não foi nem um pouco amistosa. As constantes desavenças entre os dois, porém, não se deixa entrever no resultado final, um filme impecável que é o responsável pelo surgimento de uma espécie de cinema que é até hoje, sete décadas depois, fonte inesgotável de inspiração e admiração.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

CABEÇA DE PEDRA


Estômago

Ainda bem que ouvido não tem estômago. Ele leu aquilo e foi como se uma flecha com veneno tivesse atravessado seu cérebro. Pensou: como alguém consegue tal poder para nos desnortear? Foi o irmão que mandou na tela branca do computador. Assim, sem mais nem menos - e ficou em silêncio, sem explicação, que também não foi pedida. E se tivesse estômago, o que aconteceria? Ele pensou logo nas conversas de políticos, nos gritos dos militantes, na arrogância das ordens policiais, nos xingamentos entre desconhecidos no trânsito... Sim, pensou em coisas ruins, porque aí o ouvido poderia vomitar. As declarações de amor fariam tão bem, alimentariam o estômago da alma. Êpa! O ouvido tem alma ou é da alma? Ficou pensando em tudo isso quando lhe colocaram bem na frente o prato que pediu naquele restaurante caído: rabada com polenta e agrião.


CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/

CHISTOPHER LEE

Christopher Lee, ator conhecido como o Drácula nas produções da Hammer, o Conde Dookan (ou Dooku) de Star Wars, e o Saruman de Os Senhor dos Anéis, morreu no domingo (7), aos 93 anos, segundo o jornal The Telegraph.
Nascido em 27 de maio de 1922, Christopher Frank Carandini Lee começou sua carreira no teatro, desde cedo dedicando-se a papéis de malfeitores. Seu primeiro personagem foi Rumpelstiltskin, antagonista do conto homônimo dos Irmãos Grimm.
Formado em literatura clássica, Lee perseguiu seu interesse na atuação até que se voluntariou para lutar contra os soviéticos na Guerra de Inverno, do lado dos finlandeses, em 1939. Na sequência, serviu como oficial de inteligência para os britânicos na Força Aérea Real durante a Segunda Guerra Mundial.
Com o fim da guerra, o ator pode dedicar-se à sua carreira. Em sua primeira década como profissional, não teve papeis de destaque, mas atuou em cerca de 30 produções. 
Sua sorte começou a mudar quando assinou contrato com a nascente Hammer Films, empresa que se tornaria sinônimo de filmes de horror pelas próximas duas décadas. O primeiro filme do gênero da Hammer, A Maldição de Frankenstein (1957), tinha Lee como o monstro formado de partes de corpos humanos. Mas foi como outra criatura famosa que o ator destacou-se e é lembrado até hoje: Drácula. Na companhia, o senhor dos vampiros foi vivido por Lee em um filme de 1958, depois em 1965, 1968, 1969 e 1970 - todos sucessos comerciais. Outras duas produções, que tentavam modernizar o mito, não tiveram sucesso.
Durante esse ciclo, Lee interpretou o monge louco Rasputin, participou de A Múmia, e realizou alguns filmes de Sherlock Holmes - inclusive como o detetive. A seguir, continuou vivendo papeis fortes e de vilões em filmes como a série Fu Manchu (com maquiagem oriental), uma versão de O Médico e o Monstro e diversos filmes de terror menores - incluindo um retorno, agora no cinema alemão, como Drácula.
Em 1973, Lee interpretou o antagonista de um de seus filmes favoritos, O Homem de Palha ,longa-metragem que o diretor do original, Robin Hardy, está reinventando com o ator novamente no centro da trama. Na mesma década, também viveu um dos mais antológicos vilões de James Bond, Francisco Scaramanga, o Homem da Pistola de Ouro.
Nos últimos 15 anos, Lee foi apresentado a toda uma nova geração, ao interpretar vilões em duas importantes franquias. Em O Senhor dos Anéis viveu o mago Saruman. Em Star Wars , foi o sith Conde Dookan. Também teve destaque em filmes de Tim Burton como A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate e Sombras da Noite, além de ter narrado e dublado outros, como Sweeney Todd, Alice e A Noiva-Cadáver.
Além do prolífico trabalho como ator, que soma mais de 200 produções, Lee também participou de álbuns musicais, como narrador de discos conceituais da Rhapsody of Fire (com a qual também cantou em "The Magic of the Wizard Dreams") e com a banda de heavy metal Manowar.