12 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (William Wyler), Ator (Charlton Heston), Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora, Figurino Cores, Direção de Arte Cores, Som, Efeitos Especiais
Vencedor de 11 Oscar: Melhor Filme, Diretor (William Wyler), Ator (Charlton Heston), Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Fotografia, Montagem, Trilha Sonora, Figurino Cores, Direção de Arte Cores, Som, Efeitos Especiais
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (William Wyler), Ator Coadjuvante (Stephen Boyd)
Quem achava que depois de "Os dez mandamentos" e a aposentadoria de Cecil B. de Mille os filmes de temática religiosa seriam coisa do passado em Hollywood deve ter ficado de queixo caído quando o remake de um filme lançado em 1925 em uma versão muda estreou nos cinemas, no final de 1959. Adaptado do romance cristão de Lew Wallace publicado em 1880, "Ben-hur" não só pagou seu orçamento estratosférico para a época (U$ 15 milhões) como tornou-se o recordista de estatuetas da Academia por quase 40 anos, com 11 prêmios no currículo ("Titanic" e "O Senhor dos Anéis, o retorno do rei" igualaram a marca em 1998 e 2003, respectivamente). O fato é que, mesmo que não se tenha simpatia pela propaganda do cristianismo feita pelo filme (motivo pelo qual o abertamente ateu Burt Lancaster recusou o papel-título), não se pode deixar de admirar suas inúmeras qualidades e mais ainda, de reconhecê-lo como o mais fascinante, empolgante e emocionante épico religioso de todos os tempos.
A bem da verdade, o militar Lew Wallace começou a pesquisar a vida de Jesus Cristo porque queria escrever um romance que desmentisse Sua existência ou qualquer outro dogma da Igreja católica. Reza a lenda que, depois de exaustivas pesquisas, ele chegou à conclusão não só de que Ele havia existido mas de que era realmente filho de Deus. A partir daí, logicamente, criou um dos mais populares livros de ficção a enfocar (ainda que de forma sutil) a passagem de Cristo pela Terra. Sutil, sim, afinal, apesar da presença dEle em momentos-chave da trama, "Ben-hur" não conta Sua história. O protagonista do filme dirigido por William Wyler - que aceitou fazer o filme por querer fazer algo do estilo de DeMille e porque recebeu o polpudo salário de um milhão de dólares - não faz milagres nem tampouco pode ser considerado um santo ou um líder de multidões. Ben-hur, a personagem, é um homem simples que se vê em uma situação de desespero ímpar e que tem a oportunidade de resgatar sua humanidade e sua dignidade perdidas, mesmo que para isso tenha que apelar para uma sangrenta vingança. Mais humano impossível.
Ben-hur (vivido com garra pelo vencedor do Oscar Charlton Heston)é um jovem e rico judeu que se recusa a delatar aqueles que planejam uma rebelião contra Roma. Considerado traidor pelo seu melhor amigo, Messala (Stephen Boyd), um aristocrata romano, ele tem sua propriedade confiscada e vê sua mãe e irmã aprisionadas. Condenado a servir de escravo em galés, Ben-hur passa três anos trabalhando como remador (daí a famosa expressão cunhada por Nelson Rodrigues, "trabalhava como um remador de 'Ben-hur') e vê sua vida ser novamente transformada quando, durante uma batalha no mar, ele salva a vida do oficial romano Quintus Arrius (Jack Hawkins). Agradecido, o oficial o liberta e lhe dá trabalho como condutor de sua quadriga. Quando se reencontra com Messala, Ben-hur o desafia a uma corrida de quadrigas, onde a rivalidade entre os dois ex-melhores amigos de infância irá chegar a seus níveis mais extremos.
O que é mais fascinante em "Ben-hur" é seu equilíbrio perfeito entre ação e emoção. As sequências mais empolgantes (em que se destaca a até hoje impressionante corrida de quadrigas) se encaixam magistralmente aos momentos mais dramáticos da trama, que envolvem o relacionamento do protagonista com a família e - e aí entra o aspecto religioso do filme que tanto incomodou Burt Lancaster - com um misterioso homem que atravessa seu caminho por duas vezes e transforma sua vida. Em nenhum diálogo o nome de Jesus Cristo é citado, mas não é preciso ser muito inteligente para perceber quem é o misterioso transeunte.
"Ben-hur" é um espetáculo grandioso, que, no entanto, não deixa jamais de dar importância a seu roteiro em vez de dedicar-se somente a seu visual. Não é à toa que, mesmo perdendo o Oscar (única indicação não convertida em estatueta), o script de Karl Turnberg seja até hoje um exemplo de ritmo, estrutura e bons diálogos. Os diálogos, aliás, merecem um capítulo à parte. O escritor Gore Vidal, abertamente homossexual, declarou, no documentário "Celulóide secreto" - que investiga a visão do cinema sobre os gays - que muitos dos diálogos entre Ben-hur e Messala foram escritos por ele e que, nas entrelinhas, faziam menção a um relacionamento de amantes entre os dois amigos. Segundo Vidal, a ira de Messala contra Ben-hur não advinha apenas de motivos políticos e sim do fato de ter sido rejeitado pelo amante. Assistir ao filme tendo essa informação abre portas imensas na compreensão da personalidade de Messala, vivido com gosto por um Stephen Boyd que sabia dessa mensagem subliminar que foi escondida de Charlton Heston, que jamais se submeteria a ela, haja visto sua visão conservadora da vida e da política.
"Titanic" e "O Senhor dos Anéis, o retorno do rei" podem ter empatado em número de Oscar com "Ben-hur", mas ninguém pode negar a supremacia artística do trabalho de William Wyler em relação a eles. Basta lembrar que nenhum dos dois primeiros levou estatuetas de atuação, atendo-se principalmente a prêmios técnicos, ao contrário deste clássico absoluto, que deu prêmios a Heston e Hugh Griffith por suas soberbas interpretações.
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