DANÇA DA SOLIDÃO (1972)
por TIAGO FERREIRA
Álbum, que exibe primor em produção e musicalidade, navega pelos mais densos sentimentalismos do músico.
Paulinho da Viola já foi um botequeiro de primeira linhagem. E isso contribuiu bastante para a poeticidade de um dos mais prolíficos sambistas que o Brasil já teve. Com Cartola e Zé Keti, Paulo César Faria obteve o impulso necessário para abraçar de vez a condição de sambista nos anos 70, em um período em que a música popular brasileira sofria com as censuras da Ditadura Militar.
Paulinho da Viola herdou do mestre Cartola um intimismo com suas canções que as tornam sinceras, tocantes
O sambista já estava envolvido no cenário musical desde os anos 1960, gravando duetos com Elton Medeiros e colaborando com Cartola na profusão de letras densas, sentimentais. Hoje, Paulinho da Viola já abandonou as bebidas, mas permanece com a importante alcunha de ser o maior sambista vivo.
E não é exagero nenhum ovacionar a impecável produção de um dos seus discos mais importantes,Dança da Solidão. Lançado em 1972, a obra navega pelos mais densos sentimentalismos do músico. Paulinho herdou de Cartola um intimismo com suas canções que as tornam sinceras, tocantes. Só que, ao contrário do mestre que se deixava ofuscar pela morbidez, Paulinho transpunha para a viola suas desilusões, como mostra a faixa-título do álbum.
Em relação à produção, Milton Miranda e Maestro Gaya deixaram o som limpo para a viola fluir naturalmente em meio às percussões, os violinos e cavaquinhos. “Coração Imprudente” cai mais para o gingado da canção ao invés de adotar um tom deprimente pelo ‘coração machucado’. É como se o samba confortasse o músico assim como uma família ajuda a superar as maiores misérias amorosas.
Mas engana-se quem pensa que a faceta triste é o grande marco desse disco. “Guardei Minha Viola” começa com uma alegria jovial para afastar as desilusões de sua viola. Paulinho tem o instrumento como uma lembrança vivaz de um ‘alguém que só me fez ingratidão’, aceitando a condição de sensível enquanto músico.
Na faixa seguinte, o sambista já volta ao seu lado terno. ‘Eu sou assim/quem quiser gostar de mim/eu sou assim’, canta Paulinho em “Meu Mundo e Hoje (Eu Sou Assim)”. Ele se mostra como um homem feliz com suas condições sociais: as grandes reviravoltas na sua vida ocorrem com os amores. ‘Não levarei arrependimento/nem o peso da hipocrisia/tenho pena daqueles/que se agacham até o chão/por dinheiro ou posição’. Pois, ‘além de flores/nada mais vai no caixão’.
Paulinho também faz algumas releituras, como a sólida “Duas Horas da Manhã”, de Nelson Cavaquinho, e “Acontece”, de Cartola – dois dos mais tristes sambistas que serviram como inspiração para o músico. Além delas, Paulinho dá um tom orquestral para a belíssima “Falso Moralista”, de Nelson Sargento.
O jornalista Arley Pereira resumiu bem a obra desse álbum: “Um dos melhores discos da carreira de Paulinho da Viola, que fornece repertório para regravações de novas gerações que encontram nele a matéria-prima sempre perfeita para ouvidos de bom gosto”.
Não precisa dizer mais nada.
Álbum, que exibe primor em produção e musicalidade, navega pelos mais densos sentimentalismos do músico.
Paulinho da Viola já foi um botequeiro de primeira linhagem. E isso contribuiu bastante para a poeticidade de um dos mais prolíficos sambistas que o Brasil já teve. Com Cartola e Zé Keti, Paulo César Faria obteve o impulso necessário para abraçar de vez a condição de sambista nos anos 70, em um período em que a música popular brasileira sofria com as censuras da Ditadura Militar.
Paulinho da Viola herdou do mestre Cartola um intimismo com suas canções que as tornam sinceras, tocantes
O sambista já estava envolvido no cenário musical desde os anos 1960, gravando duetos com Elton Medeiros e colaborando com Cartola na profusão de letras densas, sentimentais. Hoje, Paulinho da Viola já abandonou as bebidas, mas permanece com a importante alcunha de ser o maior sambista vivo.
E não é exagero nenhum ovacionar a impecável produção de um dos seus discos mais importantes,Dança da Solidão. Lançado em 1972, a obra navega pelos mais densos sentimentalismos do músico. Paulinho herdou de Cartola um intimismo com suas canções que as tornam sinceras, tocantes. Só que, ao contrário do mestre que se deixava ofuscar pela morbidez, Paulinho transpunha para a viola suas desilusões, como mostra a faixa-título do álbum.
Em relação à produção, Milton Miranda e Maestro Gaya deixaram o som limpo para a viola fluir naturalmente em meio às percussões, os violinos e cavaquinhos. “Coração Imprudente” cai mais para o gingado da canção ao invés de adotar um tom deprimente pelo ‘coração machucado’. É como se o samba confortasse o músico assim como uma família ajuda a superar as maiores misérias amorosas.
Mas engana-se quem pensa que a faceta triste é o grande marco desse disco. “Guardei Minha Viola” começa com uma alegria jovial para afastar as desilusões de sua viola. Paulinho tem o instrumento como uma lembrança vivaz de um ‘alguém que só me fez ingratidão’, aceitando a condição de sensível enquanto músico.
Na faixa seguinte, o sambista já volta ao seu lado terno. ‘Eu sou assim/quem quiser gostar de mim/eu sou assim’, canta Paulinho em “Meu Mundo e Hoje (Eu Sou Assim)”. Ele se mostra como um homem feliz com suas condições sociais: as grandes reviravoltas na sua vida ocorrem com os amores. ‘Não levarei arrependimento/nem o peso da hipocrisia/tenho pena daqueles/que se agacham até o chão/por dinheiro ou posição’. Pois, ‘além de flores/nada mais vai no caixão’.
Paulinho também faz algumas releituras, como a sólida “Duas Horas da Manhã”, de Nelson Cavaquinho, e “Acontece”, de Cartola – dois dos mais tristes sambistas que serviram como inspiração para o músico. Além delas, Paulinho dá um tom orquestral para a belíssima “Falso Moralista”, de Nelson Sargento.
O jornalista Arley Pereira resumiu bem a obra desse álbum: “Um dos melhores discos da carreira de Paulinho da Viola, que fornece repertório para regravações de novas gerações que encontram nele a matéria-prima sempre perfeita para ouvidos de bom gosto”.
Não precisa dizer mais nada.
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