sexta-feira, 31 de março de 2017

AC/DC

Bad Boy Boogie


ANGUS YOUNG, 62 YEARS OLD
Angus McKinnon Young
 
31 de Março de 1955, em Glasgow, Escócia

FERNANDO PESSOA

do livro do desassossego



Criei-me eco e abismo, pensando. Multipliquei-me aprofundando-me. O mais pequeno episódio — uma alteração saindo da luz, a queda enrolada de uma folha seca, a pétala que se despega amarelecida, a voz do outro lado do muro ou os passos de quem a diz junta aos de quem a deve escutar, o portão entreaberto da quinta velha, o pátio abrindo com um arco das casas aglomeradas ao luar — todas estas coisas, que me não pertencem, prendem-me à meditação sensível com laços de ressonância e de saudade. Em cada uma dessas sensações sou outro, renovo-me dolorosamente em cada impressão indefinida. Vivo de impressões que me não pertencem, perdulário de renúncias, outro no modo como sou eu.

quinta-feira, 30 de março de 2017

ERIC CLAPTON

LOVE IN VAIN




ERIC CLAPTON
Eric Patrick Clapton
Ripley, Surrey, England, 30 de março de 1945

MILLÔR FERNANDES


Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.


terça-feira, 28 de março de 2017

DISCOTECA BÁSICA


Jimi Hendrix 
Band of Gypsys (1970) 


Apesar de ser um disco ao vivo, a compilação das faixas para Band of Gypsys incluiu apenas material inédito. A plateia de felizardos ali presente pode curtir o reveilon de 1969 atordoada com uma das melhores performances de Hendrix na guitarra.

Foram dois shows realizados no Filmore East, em Nova York, um no dia 31 de dezembro de 69 e outro no dia 01 de janeiro de 70. Se alguém coloca em xeque a supremacia de Hendrix na guitarra, este disco é uma excelente evidência.

Sem truques e nem retoques de estúdio, ele aparece bastante concentrado no instrumento e preparado para a gravação, já que o lançamento era previsto para cumprir uma obrigação contratual (Hendrix não lia os contratos que assinava e entrou em algumas enrascadas por causa disso).

A Band of Gypsys era composta por Billy Cox, baixista e amigo de Hendrix que encarnou todos seus projetos a partir de 69, e Buddy Miles, na época um emergente baterista e vocalista egresso do Electric Flag. Esses companheiros ajudaram Hendrix a fazer seu trabalho com as mais fortes referências funk-soul; uma explosão de grooves que culminava no totem elétrico da Fender Stratocaster de Jimi.

Se a comunidade negra americana implicitamente cobrava uma resposta de Hendrix, foi com todas as cores e sons que ele respondeu. Os vocais divididos com Miles em “Who Knows”, passando pela fotografia dos campos de sangue do Vietnã em “Machine Gun” , mais o balanço irresistível da composição de Miles, “Changes”, e a batida lancinante de “Power of Soul”, colocam nossa
imaginação no poder e entregam um prato cheio de delírios para os ouvintes.


FONTEhttps://consultoriadorock.com/2012/10/14/discografias-comentadas-jimi-hendrix/



segunda-feira, 27 de março de 2017

FOTOGRAFANDO

EM MAIO DE 2009







Fotografias de Ricardo Silva

sexta-feira, 24 de março de 2017

ZÉ DA SILVA


O dr. Mabuse arrancou minha alma e me deixou vagando com os pés descalços. Não há ninguém nesta cidade. Só carros circulando sem parar – e vazios. O silêncio, denso, poderia ser cortado em fatias e passar manteiga nelas. Frase do Raymond Chandler em a Dama do Lago. O que ficou? Colagens de milhões de palavras escritas e lidas enfiadas no liquidificador da cabeça. Valei-me Waly Salomão! Não esqueci nada, mas o coração empedrou e, depois de enterrado na curva do rio, foi levado para dentro do iceberg que cortou o casco do Titanic. Represado, o choro irriga por dentro e se dilui no sangue negro que envolve a solidão. Uma agulha corta o céu, mas não preciso de insulina. Ela espeta um alvo giratório no circo da vida. Não há ninguém preso ali. Não há ninguém em lugar nenhum. Olho os meus pés. Estou na areia. O olhar se perde na poeira desta estrada triste, como sentiu Erasmo, não o de Roterdã – mas sempre cabe sempre um elogio à loucura. Que é vida.


BLOG DO ZÉ BETO: http://www.zebeto.com.br/ze-da-silva-135/#.WNXE_G8rLIU


ROCK AND ROLL

LED ZEPPELIN

DRÁCULA (1931)



Dracula, 1931, Universal Pictures, 85min.
Direção: Tod Browning. Roteiro: Hamilton Deane, John L. Balderston, peça teatral de Garrett Fort, romance de Bram Stoker. Fotografia: Karl Freund. Montagem: Milton Carruth. Direção de arte: Charles D. Hall. Produção: Tod Browning, Carl Laemmle Jr.. Elenco: Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners, Edward Van Sloan, Herbert Bunston. Estreia: 12/02/31
Em 1922, o alemão F.W. Murnau não conseguiu a autorização necessária para adaptar o romance “Drácula”, escrito por Bram Stoker, e resolveu o problema à sua maneira: mudou o nome dos personagens, alterou algumas de suas características e lançou “Nosferatu, uma sinfonia de horror” – que acabou por tornar-se um dos mais influentes filmes de terror da história do cinema. O que poderia ter sido um caso de sucesso total, no entanto, foi maculado por um processo judicial, que levou o estúdio produtor do filme à falência. Menos de uma década depois, porém, a família do escritor irlandês parecia não estar tão irascível: nada menos do que duas peças de teatro baseadas no livro de Stoker já haviam sido inspiradas no romance - uma escrita por Hamilton Deane e outra por John L. Balderson – e finalmente a história do Conde mais famoso da Transilvânia pode chegar às telas de cinema sem disfarces ou artifícios. Produzido pela Universal – que se especializaria em filmes de monstros, como “Frankenstein” e “A múmia” – e adaptado diretamente dos dois espetáculos teatrais de sucesso, “Drácula” estreou no Dia dos Namorados americano de 1931 e, apesar de alguns deslizes no resultado final, acabou por assumir um lugar de destaque entre os clássicos do cinema. Especialmente porque foi o filme que deu origem ao mito Bela Lugosi.

Húngaro de nascimento, Lugosi já interpretava Drácula nos palcos, com seu forte sotaque estrangeiro servindo como uma das características mais marcantes de seu desempenho. Sua entrada no filme de Tod Browning, no entanto, não aconteceu graças aos méritos de sua inspirada atuação: o cineasta já havia escalado seu ator preferido, Lon Chaney – de “O corcunda de Notre Dame” (23) e “O fantasma da Ópera” (25) – para o papel, mas foi obrigado pelo destino a mudar de ideia: Chaney morreu precocemente, abrindo de forma trágica o caminho para Lugosi, que não deixou a chance escapar. Com o enorme sucesso de bilheteria do filme, seu rosto virou (ao lado de Boris Karloff) sinônimo de horror. Tudo bem que ele tentou aventurar-se por outros gêneros, mas nem o público nem a crítica o deixavam esquecer de seu maior êxito – aliás, nem Ed Wood, o pior diretor de todos os tempos, que tornou-se seu amigo nos últimos anos de sua vida e contou com ele em algumas de suas produções inenarráveis, como mostra a cinebiografia de Wood, que leva seu nome e foi dirigida por Tim Burton (no filme, Johnny Depp interpreta o cineasta e Martin Landau assombra como Lugosi, em atuação premiada com o Oscar de coadjuvante). O Conde Drácula criado por Lugosi é bem mais fiel ao personagem criado por Bram Stoker – um aristocrata gentil, sedutor e sofisticado – do que o monstro apavorante que Murnau mostrou ao mundo, e talvez esse seja o maior motivo da perenidade de sua caracterização.

Apoiado pela fotografia em preto-e-branco de Karl Freund – familiarizado com a escola expressionista alemã – e pelos cenários inspirados que refletem com precisão o estilo gótico pretendido pelo diretor Browning (especializado em filmes de terror pouco sutis), Lugosi faz de seu Conde um homem amável, que esconde sob seus bons modos e ar cavalheiresco, uma inesgotável sede de sangue traída apenas por seu eloquente olhar, sempre sublinhado pelo jogo de luz e sombras de Freund. Sem apelar para a violência explícita, o cineasta conduz o roteiro de Garrett Fort sem maiores sobressaltos, mas peca por não ousar narrativamente e transformar seu filme em uma obra um tanto quadradinha demais – é um filme de terror que, apesar de Lugosi, da trama e da ambientação, não assusta e nem surpreende. Isso faz dele um filme ruim? Absolutamente, já que nota-se claramente em todo o seu desenvolvimento um cuidado raro em obras do gênero. Mas é preciso admitir que, ao mudar alguns pontos importantes do romance original, o roteiro enfraquece muitas das consequências dramáticas da história. Um exemplo? Quando o filme começa, não é Jonathan Harker quem visita o Conde na Transilvânia e lhe vende uma propriedade em Londres, e sim Reinfield (Dwight Frye) – que no livro já é um escravo de Drácula desde as primeiras páginas e cujo desaparecimento empurra o jovem herói para o universo do vampiro-mor. No filme de Browning, Harker só conhece Drácula no teatro, quando o protagonista também é apresentado à Mina (Helen Chandler) – que aqui não é a reencarnação da amada do monstro, e sim apenas a filha do patrão de Reinfield. E, pecado dos pecados, o clímax da história, quando Drácula é finalmente confrontado por seu caçador, o professor Van Helsing (em boa atuação de Edward Van Sloan), é extremamente fraco e sem emoção, diluindo todo o clima de suspense construído até então.

O curioso é que a versão de “Drácula” que chegou aos cinemas foi encurtada em vinte minutos considerados desnecessários – o que talvez explique alguns pulos na trama e a falta de consistência de alguns personagens. A impressão que se tem é que Browning apostou mais na ambientação do que na história em si – opção que deu a Lugosi a chance de brilhar com um personagem cujo mistério é mais uma qualidade do que um defeito. Aliás, a ambientação atenciosa também serviu ao cineasta George Melford, que, à mesma época, usou os cenários para contar a mesma história, com roteiro e elenco diferentes... e em língua espanhola. No entanto, por melhor que possa ter saído o resultado do filme de Melford, ele não tinha o maior trunfo da versão de Browning: o olhar certeiro e inesquecível de Bela Lugosi, que apavorou (e ainda impressiona) gerações e gerações de cinéfilos.

FOTOS









FONTE:

terça-feira, 21 de março de 2017

SOLDA

CÁUSTICO



SOLDA CÁUSTICOhttp://cartunistasolda.com.br/


APENAS OS JOVENS ESTÃO NA PRAIA


Charles Bukowski

apenas os jovens estão na praia.
eu tenho um corpo bom para a minha idade
pescoço e peito de touro
e poderosas pernas.
mas minhas costas são marcadas
por uma doença.
eu sinto um pouco de vergonha de minhas deformidades
e eu não estaria lá
apenas minha mulher insiste
e se ela tem a coragem de estar lá
comigo
então eu preciso ter a coragem de ir
com isso.

mas eu me pergunto onde o velho e o aleijado
e o feios estão?
as praias não deveriam ser deles também?
onde estão as pessoas de uma perna só?
os sem braços?

Eu vejo os meninos em suas pranchas
corpos finos deslizando.

alguns deles acabarão em manicômios
alguns deles vão ganhar 40 quilos
alguns deles irão cometer suicídio.

a maioria deles vão parar de vir para a
praia.

e há o sol e há a areia
e os meninos jovens aumentam as paliçadas de água
e as meninas jovens assistem eles.

eles são imprudentes e contentes.

eu me alongo
curvo meu estômago
e eles
se foram.




FONTE: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/charles-bukowski-poemas-traduzidos/

domingo, 19 de março de 2017

BERNIE WRIGHTSON

Bernard Albert "Bernie" Wrightson 
(October 27, 1948 – March 19, 2017)







CHUCK BERRY

Johnny B. Goode (Beat Club 1972)

sábado, 18 de março de 2017

CHUCK BERRY

Charles Edward Anderson Berry 
Saint Louis, 18 de outubro de 1926 - St. Charles, 18 de março de 2017

A NATUREZA


Em suma: a contemplação da natureza propicia-nos um gosto antecipado da graça celeste, uma alegria constante para a alma e o princípio de sua completa renovação – nela reside o ponto mais alto da felicidade humana.                                     
Lineu (1707-1778)

* Lineu

Fundador da história natural moderna, o naturalista sueco Lineu dotou-a de uma linguagem positiva, rigorosa e universal. Sua metodologia, embora tivesse falhas, foi aperfeiçoada com o tempo, e a classificação que propôs para os seres vivos pôs fim à confusão até então reinante nesse domínio.
Carl von Linné, conhecido como Lineu a partir da forma latinizada de seu nome, Carolus Linnaeus, nasceu em Ráshult em 23 de maio de 1707. Formou-se em medicina, mas seu maior interesse era a botânica. Em 1730 passou a fazer conferências sobre organização e enriquecimento dos jardins botânicos. Foi enviado à Lapônia pela Academia de Ciências de Uppsala, em 1732, para estudar a flora local. Prosseguiu com suas pesquisas na Holanda e na França, e conheceu os mais destacados cientistas da época. Em 1741, tornou-se catedrático de botânica na Universidade de Uppsala.
A publicação de um livreto de 12 páginas, Systema naturae (1735; Sistema da natureza), lhe trouxe notoriedade internacional. Dividida em três partes, relativas aos reinos animal, mineral e vegetal, a obra foi enriquecida nas edições seguintes até chegar à forma definitiva, em dois volumes, de 1758-1759. A grande inovação do Systema foi agrupar em classes, ordens, gêneros e espécies as plantas já conhecidas e as que então eram descobertas em ritmo acelerado. Para identificá-las de modo válido em todo o mundo, atribuía-se-lhe um primeiro nome em latim, correspondente ao gênero, e um segundo, que indicava a espécie. A nomenclatura binomial trouxe imediatos progressos ao estudo da botânica e mantém-se ainda em vigor na classificação sistemática dos seres vivos.
O sistema de classificação das plantas de Lineu, baseado nos estames e pistilos como características sexuais, só foi codificado em sua obra Philosofia botanica (1750). Pouco depois, em nova edição do Systema naturae, aplicou o método aos animais. Mais tarde, tentou estabelecer um sistema natural de classificação das plantas, pois o que se baseava no aparelho sexual não o satisfez plenamente. Criador de termos científicos que passaram a ser de uso comum, como flora, fauna e mamíferos, Lineu abriu caminho para naturalistas como Lamarck e Darwin. Deixou ao todo cerca de 180 trabalhos, uns destinados à aplicação dos princípios do Systema, como Genera plantarum (1737; Gêneros de plantas) e Species plantarum (1753; Espécies de plantas), outros que abordam áreas particulares de pesquisa, como Flora suecica (1745; Flora sueca) e Hortus uppsaliensis (1748; Horto uppsaliense).
Doente, Lineu afastou-se do trabalho ativo em 1774. Morreu em 10 de janeiro de 1778 em Uppsala. Seu acervo está preservado na Sociedade Lineana, em Burlington House, Londres.



FOTOGRAFANDO

Em Alagoas

 Mar Vermelho
 Barra de Santo Antonio, praia da Tabuba
 Estrela de Alagoas
  Barra de Santo Antonio, praia da Tabuba
Paulo Jacinto

Fotografias de Ricardo Silva

quinta-feira, 16 de março de 2017

segunda-feira, 13 de março de 2017

JOSÉ MOJICA MARINS



José Mojica Marins (São Paulo, 13 de março de 1936) é um cineasta, ator, roteirista de cinema e televisão brasileiro. Mojica também é conhecido como Zé do Caixão, seu personagem mais famoso.

Embora Mojica seja conhecido principalmente como diretor de cinema de terror, teve trabalhos anteriores cujos gêneros variavam entre faroestes, dramas, aventura, dentre outros, incluindo filmes do gênero pornochanchada, no Brasil, durante aquela época. Mojica desenvolveu um estilo próprio de filmar que, inicialmente desprezado pela crítica nacional, passou a ser reverenciado após seus filmes começarem a ser considerados cult no circuito internacional. Mojica é considerado como um dos inspiradores do movimento marginal no Brasil.

Em todos seus filmes, com exceção de Encarnação do Demônio, José Mojica Marins foi dublado. Na década de 1960, diversos filmes nacionais necessitavam serem dublados, por diversas razões: nitidez de som nas externas e até realçar uma melhor interpretação. Algumas vezes o próprio ator dublava o seu personagem, mas em outras ocasiões necessitava de um profissional qualificado para um melhor desempenho. Na Odil Fono Brasil, lhe mostraram vários filmes, para que escolhesse um dublador. Mojica ficou particularmente impressionado com a voz usada para dublar o ator italiano Mario Carotenuto: a voz de Laercio Laurelli. Laurelli fez a voz de Zé do Caixão em À Meia-Noite Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver e O Estranho Mundo de Zé do Caixão; enquanto O Ritual dos Sádicos, Finis Hominis, Quando os Deuses Adormecem foram dublados por Araken Saldanha, na AIC; já Exorcismo Negro e Delírios de um Anormal tiveram a voz de João Paulo Ramalho, também na AIC.



Início

Nascido em uma fazenda pertencente à fábrica de cigarros Caruso, na Vila Mariana, em São Paulo, é filho dos artistas circenses Antônio André e Carmen Marins, primo de Fernando Marins, e neto do espanhol José Marins que chegou ao Brasil em 1904. Seu tio (Miguel, também filho de José Marins) foi toureiro enquanto o avô, José Marins, fazia performance de toureiro vestido de palhaço no picadeiro.

José Mojica Marins ainda criança, passava horas lendo gibis, assistindo a filmes na sala de projeção do Cinema em que seu pai trabalhava, brincava de teatro de bonecos e montava peças com fantasias feitas de papelão e tecido. Quando tinha 3 anos, a família de Mojica veio a se mudar para os fundos de um cinema na Vila Anastácio. O pai de Mojica passou a ser gerente do cinema.

Depois que ganhou uma Câmera V-8, aos 12 anos, não mais parou de fazer cinema, essa era a sua vida. Muitos de seus filmes artesanais feitos nessa época eram exibidos em cidades pequenas, cobrindo assim os custos de produção. Autodidata, montou uma escola de interpretação para amigos e vizinhos e quando tinha 17 anos, depois de vários filmes amadores, fundou com ajuda de amigos, a Companhia Cinematográfica Atlas. Especializado em terror escatológico, criou uma escola de atores (1956), onde na década seguinte, montaria uma sinagoga (1964), no bairro de Brás, onde fazia experiências com atores amadores, usando insetos para medir sua coragem.


Anos 50

Começo da carreira profissional


Depois da fundação de sua escola, a carreira profissional de Mojica Marins passou a ficar cada mais mais próxima. Mojica Marins tentou realizar o filme Sentença de Deus por três vezes e o filme acabou como inacabado. Semi-profissional, o filme Sentença de Deus é experimental no sentido mais genuíno e revela os primeiros passos de José Mojica Marins na arte do cinema.

Em 1958, veio a ser concluído A Sina do Aventureiro, em lente 75 mm, com apenas duas pessoas que não eram da escola de atores de Mojica Marins, mas que depois vieram a ter aulas, Ruth Ferreira e a Shirley Alvez. A Sina do Aventureiro é um faroeste caboclo (ou “western feijoada”, na definição do pesquisador Rodrigo Pereira), vertente prolífica, mas desprezada pela historiografia clássica do cinema brasileiro. Insere-se, portanto, na tradição mais ampla dos filmes rurais de aventura, território que compreende nomes tão heterogêneos quanto significativos como E. C. Kerrigan, Amilar Alves, Luiz de Barros, Humberto Mauro, Eurides Ramos, Antoninho Hossri, Victor Lima Barreto, Carlos Coimbra, Wilson Silva, Osvaldo de Oliveira, Reynaldo Paes de Barros, Edward Freund, Ozualdo Candeias, Tony Vieira e Rubens Prado.

Para lançar o filme A Sina do Aventureiro, Mojica Marins contou com a ajuda dos irmãos Valancy, que eram proprietários do Cine Coral, em São Paulo, aonde o filme permaneceu em cartaz por muito tempo. O realizador do filme, Mojica Marins explicou, posteriormente, como foi o sucesso do filme.


"Para fazer sucesso, eu usei um estratagema, porque já era difícil você entrar uma semana, e ficar três semanas em cartaz num cinema era mais difícil ainda. O que eu fiz? Eu pegava os meus alunos, numa época em que os cinemas tinham fila, e dividia um grupo de alunos numa fila, outro grupo em outra e mais outra. Todos eram atores, né? Então ficavam todos no meio da fila e diziam: “Pô, a gente perdendo tempo nessa fila, passando uma fita tão boa no Cine Coral!”. Com isso, eles saíam de lá e levavam o pessoal da fila. E ia todo mundo para o Cine Coral. A fita foi muito bem nas capitais. Estourou em Salvador, em Porto Alegre. Porque ela tem uma miscelânea de Nordeste, de roupa nordestina com roupa gaúcha, com roupa americana. Eu misturo tudo, tem uma miscelânea. No final, tem uma curiosidade: a fita realmente agradou, só não agradou aos padres. Aí eu tive uma desavença com os padres que me acompanharia a vida toda".



— José Mojica Marins Portal Brasileiro de Cinema

Depois de aceitar a proposta de Augusto de Cervantes, de fazer um filme que agradasse aos padres, Mojica Marins criou a história de Meu Destino em Tuas Mãos e procurou Ozualdo Candeias para fazer o roteiro - que não foi creditado. As tragédias familiares são apresentadas pelo cineasta com requintes de maldade, temperados por aquele neo-realismo involuntário das produções sem dinheiro. A direção de Mojica deixou o filme ainda mais cru e violento.

O filme conta o drama de cinco crianças pobres que vivem infelizes com suas respectivas famílias. Cansados de abuso e desprezo, os amigos fogem de casa e saem pelas estradas, acompanhados do violão e da cantoria de Carlito (vivido por Franquito), o mais velho deles. O jovem Franquito, o “garoto da voz de ouro”, foi uma aposta para embarcar no estrondoso sucesso de Pablito Calvo, astro-mirim de Marcelino, pão e vinho (1955). Mojica compôs três das dez canções interpretadas por Franquito. Meu destino em tuas mãos foi realizado com o dinheiro da venda dos long plays de Franquito, hoje uma raridade por ser um dos primeiros filmes a ter disco com todas as músicas lançado pela gravadora Copacabana. O filme, apesar de ter agradado os padres, não teve repercussão nenhum e acabou esquecido.

Algum tempo depois, o produtor Nelson Teixeira Mendes contratou Mojica para ser ator no O diabo de Vila Velha, um bang-bang. Como condição, o Mojica pediu para poder levar o pai, que estava muito doente, para o Paraná, onde o filme ia ser feito. Após muitas discussões com o diretor Ody Fraga, este veio a se afastar e Mojica assumiu a direção filme, aonde demonstrou afinidade com o gênero faroeste, que já havia exercitado em A sina do aventureiro e ao qual voltaria em D’Gajão mata para vingar.


Anos 60

O Personagem: Zé do Caixão

Mojica Marins criou um personagem popular sem basear-se em nenhum mito do horror conhecido mundialmente. "Zé do Caixão", seu personagem mais conhecido, foi criado por ele em 11 de outubro de 1963, após ser atormentado por um pesadelo no qual um vulto o arrastava até seu próprio túmulo. Segundo o próprio José Mojica Marins, o nome Zé do Caixão veio de uma lenda de um ser que viveu há milhões de anos no planeta terra que se transformou em luz e depois de anos esta luz voltou a terra. A primeira aparição do personagem foi no filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1963). Desde então, ele apareceu em diversos filmes, ganhou popularidade e tem sido retratado em diversas outras mídias.

Embora raramente mencionada nos filmes, o nome verdadeiro Zé do Caixão é Josefel Zanatas. Marins dá uma explicação para o nome em uma entrevista para o Portal Brasileiro de Cinema:

" Eu fui achando um nome: Josefel – “fel” por ser amargo – e achei também o Zanatas legal, porque de trás para frente dava Satanás".

— José Mojica Marins Portal Brasileiro de Cinema


Zé do Caixão é um personagem amoral e niilista que se considera superior aos outros e os exploras para atender seus objetivos. Zé do Caixão é um descrente obsessivo, um personagem humano, que não crê em Deus ou no diabo. O cruel e sádico agente funerário Zé do Caixão é temido e odiado pelos habitantes da cidade onde mora. O tema principal da saga do personagem é sua obsessão pela continuidade do sangue: ele quer o pai da criança superior a partir da "mulher perfeita". Sua ideia de uma mulher "perfeita" não é exatamente físico, mas alguém que ele considera intelectualmente superior à média, e nessa busca ele está disposto a matar quem cruza seu caminho.

Quanto à concepção visual do Zé do Caixão, fica evidente a inspiração do personagem clássico Drácula (interpretado por Bela Lugosi na versão da década de 30, dos estúdios Universal). Entretanto, Mojica acrescentou aos trajes negros e elegantes do personagem características psicológicas profundas e enraizadas nas tradições brasileiras. Além disso, as unhas grandes foram claramente inspiradas no personagem-título de Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens.

Mojica Marins afirma que a idéia do personagem surgiu em um sonho: 

"Certa noite, ao chegar em casa bem cansado, fui jantar. Em seguida, estava meio sonolento, entre dormindo e acordado, e foi aí que tudo aconteceu: vi num sonho um vulto me arrastando para um cemitério. Logo ele me deixou em frente a uma lápide, lá havia duas datas, a do meu nascimento e a da minha morte. As pessoas em casa ficaram bastante assustadas, chamaram até um pai-de-santo por achar que eu estava com o diabo no corpo. Acordei aos berros, e naquele momento decidi que faria um filme diferente de tudo que já havia realizado. Estava nascendo naquele momento o personagem que se tornaria uma lenda: Zé do Caixão. O personagem começava a tomar forma na minha mente e na minha vida. O cemitério me deu o nome; completavam a indumentária do Zé a capa preta da macumba e a cartola, que era o símbolo de uma marca de cigarros clássicos. Ele seria um agente funerário."

— José Mojica Marins Portal Brasileiro de Cinema


Futuramente, José Mojica Marins definiria melhor a origem de seu personagem:

"Josefel Zanatas nasceu em berço de ouro, seus pais tinham uma rede de agências funerárias, fato que fez com que Josefel fosse uma criança muito sozinha, pois seus colegas os discriminaram por causa da profissão de seus pais.

Na escola era um ótimo aluno e, como não tinha amigos, fez dos livros seus grandes companheiros. Foi na escola que conheceu Sara, uma menina muito bonita e de boa família. Logo se tornaram grandes amigos, não se separavam por nada. Cresceram juntos e com o passar do tempo a amizade se transformou em amor. Decidiram que iriam se casar e mudar para uma cidade maior onde teriam mais chances de crescer na vida. Sara queria se casar fora do país, então tanto os pais de Sara quanto de Josefel resolveram viajar antes para começarem os preparativos para cerimônia.

Durante o voo, uma tragédia acontece: o avião com os pais de Sara e Josefel sofre um acidente e não há sobreviventes. Por causa do luto eles decidem adiar o casamento. Em decorrência da II Guerra Mundial, em agosto de 1943, cria-se a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Somente vinte e oito mil pessoas se alistaram, Josefel era um deles e em conversa com Sara decidem juntos que só casariam quando ele voltasse da guerra.

E assim, na noite de 30 de junho, Josefel parte para a Itália. Durante o tempo que ficou lá, Josefel sofreu muito, e as saudades de Sara foram aumentando depois que ele parou de receber cartas dela. Depois que Josefel partiu para a Guerra, Sara continuou cuidando da funerária. Sempre escrevia para ele, mas depois de muitas cartas sem resposta, acabou concluindo que ele deveria estar morto. Como a vida não estava fácil, Sara aceitou o convite que havia recebido do prefeito e se casou com ele.

No dia 18 de julho de 1945, Josefel desembarca na estação de sua cidade e percebe que a cidade está vazia e sua casa fechada. Desesperado para encontrar Sara, decide perguntar a um bêbado onde estavam todos. O bêbado informa que a cidade inteira estava na casa do prefeito, pois havia uma festa para comemorar a volta dos "Pracinhas". Chegando na festa ele encontra Sara sentada no colo do prefeito e, antes que ela pudesse se explicar, ele saca o revólver e mata os dois. Josefel não é condenado pelo crime pois foi alegado que ele estava traumatizado pela guerra. Para ele não importava ser preso ou não, ele havia perdido Sara e com ela perderia também o sentimento chamado amor.Josefel, que até então era um homem doce e bondoso, se torna uma pessoa amarga e sem sentimentos. Passa então a aterrorizar os moradores da cidade e logo recebe o apelido de Zé do Caixão. Zé do Caixão é um homem sem crenças, não acredita em Deus nem no Diabo, só acredita nele mesmo, acha que é o único que pode fazer justiça. Seu objetivo é encontrar uma mulher que compartilhe seus pensamentos e juntos tenham um filho, que possa dar continuidade à sua espécie, que ele acredita ser superior. Para Zé do Caixão, as crianças são os únicos seres puros, sem maldade no coração. Em busca pela mulher superior, ele passa por cima de todos aqueles que atrapalharem seus planos, não tem dó nem piedade e mata se for preciso. "


— José Mojica Marins Site Oficial do Zé do Caixão

À Meia Noite Levarei Sua Alma


Por falta de um ator, pois não havia nenhum que se submetesse à caracterização do personagem, o autor transformou-se em Zé do Caixão. Mojica, na época, estava de barba, por causa de uma promessa de família. Com o tempo o nome do personagem passou a confundir-se com o do próprio autor e lhe trouxe praticamente toda sua fama. Com dificuldade, pois os atores não confiavam nem acreditam em Mojica, ele realizou as filmagens de À Meia Noite Levarei Sua Alma, com apenas atores de sua escola de teatro.

O filme marca a maturidade de José Mojica Marins como diretor, que se relaciona perfeitamente com o domínio da linguagem cinematográfica. Em À meia-noite levarei sua alma há todo um requintado trabalho de construção de espaços diferenciados para Zé do Caixão, e esse é o modo como o filme logra distinguir este personagem dos outros.

Após a etapa de montagem com Luiz Elias, Mojica Marins iria atrás do distribuidor da Bahia que havia levado A Sina do Aventureiro e que estava em São Paulo e havia ido à Boca do Lixo. Após assistir o filme montado, o distribuidor passou a divulgar o filme que já era tido como um grande sucesso. Na mesma época, Mojica Marins relançou A Sina do Aventureiro e teve um retorno lucrativo grande. Ele havia feito amizade como um cineasta cubano que realizava filmes pornográficos e pediu a Mojica que acrescentasse mais dez minutos de cenas mais fortes - onde Mojica colocou algumas cenas de nudez de algumas moças.
O filme foi vendido por cerca de 20% do que havia sido gasto.


Dificuldades, Auge, Decadência e Retorno 


Na capa do disco de Zé Ramalho, com Xuxa Lopes

Apresentou, na década de 1990, o programa Cine Trash, que obteve alta audiência e as apresentações macabras de zé do caixão se tornaram um marco na televisão, o programa foi exibido na Rede Bandeirantes.

Mojica teve seus títulos lançados na Europa e nos Estados Unidos, onde participou de mostras, festivais e recebeu prêmios. No Brasil, Mojica não conseguiu o mesmo sucesso e reconhecimento. Existem poucos títulos de seus filmes disponíveis no mercado, o que tornou sua obra pouco conhecida. Sua participação na mídia se dá quase sempre de maneira cômica, fato que teve que abraçar por necessidades financeiras.

Com Tim Burton

Atualmente, tem um programa de entrevistas chamado O Estranho Mundo de Zé do Caixão, no Canal Brasil. Zé Do Caixão tem uma filha chamada Liz Vamp.

Em 2009 interpretou um personagem diferente no longa-metragem de Cesar Nero, em vez de Zé do Caixão, o nome de seu personagem era Dark Morton, porém o visual do personagem era o mesmo de Zé do Caixão, com a tradicional cartola e capa preta.

No Carnaval Carioca de 2011, foi homenageado e participou do Desfile da Escola Unidos da Tijuca, Vice-Campeã.

Em 2012, prefaciou o livro 3355 Situações Que Você Deve Saber Para Não Morrer Como Nos Filmes de Terror, do escritor Gerson Couto.

Em 2013, aparece na capa do disco Expulsos do Purgatório , curiosamente ano 13, da lendária banda punk Excomungados e nos encartes juntamente com os integrantes, sendo que o vocalista Pekinez Garcia, que toca nu inspirado no personagem principal do filme Finis Hominis já foi internado 2 vezes em hospícios e segundo uma lenda urbana o vocalista foi amaldiçoado pelo Zé do Caixão.

Matheus Nachtergaele

Em 2015, o canal por assinatura Space fez uma minissérie biográfica sobre Mojica intitulada Zé do Caixão, com o cineasta interpretado por Matheus Nachtergaele.


Wikipédia

domingo, 12 de março de 2017

ANARQUISTA CONSERVADOR


Eu gostaria de ter um governo mínimo, mas lamentavelmente os governos – até os maus governos – ainda são necessários. Como a polícia, que evidentemente é necessária. Se fôssemos eticamente perfeitos, os governos não seriam necessários. Eles são um perigo, sem dúvida. Mas eu não posso opinar em matéria de política. Sou um anarquista conservador.



*De Jorge Luís Borges, em entrevista realizada em 1982 por Claudio Pérez Míguez e publicada em 2016 no jornal El País

sexta-feira, 10 de março de 2017

DISCOTECA BÁSICA


The Beatles
Revolver (1966)
(Edição 191,Junho de 2001)

Paul McCartney incentivando os Beatles a fazerem pequenos trechos superpostos, inspirados em John Cage e Stockhausen. John Lennon querendo soar como o dalai-lama no alto do Himalaia ao cantar letras inspiradas no Livro Tibetano dos Mortos. O dedo oriental de George Harrison em uma canção sem mudanças de acordes. A bateria frouxa e hipnótica de Ringo Starr, mais tarde ressuscitada por moderninhos como Beck ("New Pollution") e Chemical Brothers ("Setting Sun"). O produtor George Martin obrigando funcionários dos estúdios Abbey Road a sincronizarem gravadores em colagens aleatórias de som. O técnico Ken Townshend inventando os vocais ADT (Artificial Double Tracking) e o engenheiro de som Geoff Emerick metendo a voz de Lennon numa caixa Leslie dentro de um órgão Hammond. E isso tudo no primeiro dia de gravação do sétimo disco dos Beatles, para uma única canção. A música era "Tomorrow Never Knows", mas ali, no início do álbum, o grupo assinalava a faixa como o começo de uma nova fase, batizando-a sem modéstia de "Mark I".
A canção marcava o princípio de uma era de experimentação na música popular que iria explodir na renascença psicodélica do ano seguinte, transformando o horizonte da cultura pop em um calidoscópio de referências. Com Revolver, os Beatles entravam em uma escalada que desembocaria em obras-primas como Sgt. Pepper's, Album Branco e Abbey Road. De 1966 em diante, passariam a explorar as novas fronteiras da arte, sem perder o senso de perfeição que haviam mirado no álbum anterior. De repente, descobriam as vantagens da manipulação sonora. "Quando experimentamos o som de trás para frente, eles passaram a inverter tudo", diz George Martin no livro Paz, Amor e Sgt. Pepper.
As inovações iam além: microfones dentro de instrumentos de sopro, grudados em violoncelos, colados na bateria. Mas a banda estava ousando mesmo nas composições, com as drogas exercendo um papel fundamental "Dr. Robert" cantava sobre um médico pronto para levantar o astral de quem quisesse. "Got To Get You Into My Life" expõe o entusiasmo de Paul McCartney com o fumo. "She Said She Said" e "Tomorrow Never Knows" falam de ácido:a primeira disfarça uma viagem que Lennon teve com o ator Peter Fonda e a segunda escancara a exploração de realidades induzidas ("desligue sua mente", "ouça as cores do seu sonho”).
Por outro lado, os Beatles continuavam entrando em portas musicais abertas nos discos anteriores. "Eleanor Rigby" é a evolução natural de "Yesterday","Love You To" é George Harrison em sua primeira incursão de cabeça na cultura hindu, com a qual havia flertado em "Norwegian Wood". "Here, There And Everywhere" e "For No One" transformam McCartney em um jovem Schubert, compondo pequenas sinfonias em vez de baladas de amor. Os assuntos abordados iam da cobrança de impostos a contos infantis, passando por existencialismo, psicodelia, fossa, amor à vida, paixão latente, crítica social e metáforas diversas.
O álbum encontra a banda no exato momento da guinada, um sofisticado registro da melhor música pop de 1966. Poucos meses depois, o grupo encerrou definitivamente a primeira fase de sua carreira ao anunciar que não iria mais tocar ao vivo. ''A transformação toda foi gradual", conta John Lennon no livrão Anthology. "Mas estávamos consciente de que, se havia uma fórmula ou algo do tipo, esta era mover-se para a frente.


por  Alexandre Matias

SOLDA

CÁUSTICO



SOLDA CÁUSTICOhttp://cartunistasolda.com.br/

VAMPIROS DE ALMAS

Invasion of the Body Snatchers, 1956

por  Ronald Perrone




Por mais que coloquem o diretor Don Siegel como um dos grandes mestres do cinema policial, western e de ação norte-americano, o que de fato não deixa de ser, frequentemente é VAMPIROS DE ALMAS, um sci-fi aterrorizante de relativo baixo orçamento, o trabalho mais lembrado e celebrado de sua carreira e que o próprio diretor considerava um de seus prediletos. Mas realmente é uma obra bastante curiosa em diversos aspectos e acabou se tornando um dos filmes mais importantes e definitivos sobre invasão alienígena em pleno auge da ficção científica nos anos 50.

O fato de VAMPIROS DE ALMAS possuir um estilo de direção minimalista, realista, num gênero fantasioso combinado a uma alegoria sobre o fator dominante crescente da desumanização, da falta de sentimento, do conformismo e da uniformidade de pensamento das sociedades, seria suficiente para justificar sua reputação. Só que o filme ganhou uma proporção ainda mais relevante ao trabalhar o tema de invasores do espaço de uma maneira que dialogaria fortemente com o contexto político do momento, a paranoia da Guerra Fria e do temor da ideologia comunista invadindo o “perfeito” modo de vida americano, a “caça às bruxas” promovida pelo então senador Joseph McCarthy, que realizava uma intensa patrulha anticomunista, período que ficou conhecido como Macartismo (ou, no original McCarthyism).

Na trama de VAMPIROS DE ALMAS, temos o protagonista, Dr. Miles (Kevin McCarthy, que havia trabalhado com Siegel em seu filme anterior, AN ANNAPOLYS STORY), que é um dos primeiros a perceber que uma aparente neurose coletiva era, na verdade, uma invasão alienígena de proporções impensáveis. Aos poucos, de forma cadenciada, o filme vai trabalhando essa invasão, representada por enormes vagens leguminosas que se alojam próximo a seres humanos adormecidos e lhes duplicam o físico e a mente, mantendo as mais íntimas características e sua essência, mas não as emoções.



Concluído o processo de duplicação, o humano matriz é destruído de alguma forma, restando só a cópia. Mesmo aqueles que passam a desconfiar do seu vizinho, ou amigo ou até mesmo um parente, acaba não tendo muito o que fazer, porque uma hora ou outra terão de dormir e serão duplicados. Uma situação simples, mas aterradora. Se esses invasores são seres desprovidos de emoção, não possuem individualidade, acabam refletindo, portanto, exatamente o que era o estereótipo do comunista (comedores de criancinhas, como berram alguns). Assim como as garantias que esses seres dão de que a vida será mais agradável ao aceitar esse estado mental coletivo, pode também ter ecos no que se pensava sobre a ideologia do comunismo.

Por outro lado, alguns responsáveis pela existência do filme afirmam que nunca tiveram a intenção de criar esse comentário sobre a “ameaça comunista”. Jack Finney, autor do livro que inspirou VAMPIROS DE ALMAS, disse que a sua intenção foi escrever uma história pura de terror e ficção científica sem outra pretensão que não o divertimento. No livro Dança Macabra, de Stephen King, Finney comenta: “Tenho lido explicações do ‘significado’ dessa história que me divertem pelo fato de que não há significados; foi simplesmente uma história feita para entreter, e com nenhum significado além desse. A primeira versão em filme do livro foi feita com grande fidelidade, exceto pelo final medíocre; e sempre me divertia com as argumentações das pessoas envolvidas com o filme de que eles tinham alguma espécie de mensagem em mente. Se era assim é muito mais do que eu jamais fiz, e, dada a proximidade com que eles seguiram minha historia, é difícil ver como essa mensagem surgiu. E quando a mensagem foi definida, sempre me pareceu um pouco pobre de espírito“.



Siegel, quando perguntado sobre a referência política específica ao Macartismo, disse, na sua entrevista com Peter Bogdanovich, que acreditava que o cinema servia principalmente ao propósito de entreter (e é curioso ele dizer isso, porque seu cinema sempre foi bastante reflexivo), mas que era inevitável naquele momento que tal assunto não viesse à tona, por mais que não tentasse enfatizá-lo.

De fato, assistir a VAMPIROS DE ALMAS com a simples intenção de entreter-se durante pouco menos de 90 minutos também não deixa de ser um bom negócio. É eficiente como suspense e algumas sequências são realmente tensas e memoráveis. Mas quanto mais se pensa o filme e aprofunda-se em algumas questões é que a coisa fica ainda mais interessante. É possível até notar um tom totalmente contrário em relação a alegoria anti-comunista.

É possível fazer uma leitura do filme como uma crítica à histeria anti-comunista, o que sugere que a ideia de que comunistas estão secretamente tentando se infiltrar e influenciar nos vários aspectos do cotidiano americano (como era imaginado pelos impertinentes anti-comunistas, como o senador McCarthy) é tão ridícula quanto é provável que seres alienígenas venham do espaço plantar vagens que crescem réplicas perfeitas de seres humanos específicos a quem vão substituir. É como acontece hoje no Brasil, onde há gente esperando acontecer o grande golpe comunista do PT. Vão esperar sentados (detalhe, não sou petista, nem defendo partido algum, mas dizer que o Brasil corre o risco de sofrer um golpe comunista é algo tão fantasioso quanto o roteiro de ficção científica dos ano 50).



Já o astro do filme, o ator Kevin McCarthy (cujo sobrenome compartilhado com o tal senador confere uma ironia adicional) chegou a declarar em entrevista que sentia que os seres invasores surgidos das vagens refletiam os capitalistas sem coração que trabalham na Madison Avenue, publicitários que fazem de tudo para vender qualquer coisa. Na verdade, se o comunismo era percebido pelos norte-americanos da década de 50 como uma ameaça à sua individualidade, o próprio capitalismo também era frequentemente visto da mesma maneira.

Um sistema capitalista altamente complexo necessita, para o seu funcionamento, um nível de padronização, especialmente de mão de obra. Chaplin já havia abordado o assunto na década de 30, em TEMPOS MODERNOS. Nos anos 50, no crescimento pós-Segunda Guerra, a coisa já tinha tomado uma proporção gigantesca, é a era de ouro da homogeneização das técnicas de produção de massa orientada para a máxima eficiência nos mais variados setores comerciais. Ou alguém vai me dizer que um funcionário do McDonald’s não passava por uma autêntica lavagem cerebral?

Essa dialética anti-capitalismo x anti-comunismo dá margem para muita discussão que ultrapassa os limites do filme. De todo modo, há uma questão que converge em ambos pontos de vista, que é a alienação coletiva, a desumanização e o conformismo, independente de que lado você esteja. É o grande medo do Dr. Miles, um sujeito individualista auto-suficiente que vê o mundo pelos seus próprios padrões e não pretende aceitar um pensamento imposto, um modo de vida onde todos são iguais e não possuem sentimentos. Há um certo diálogo em que um dos personagens desabafa que prefere sentir dor e tristeza do que não sentir absolutamente nada. O que acaba sendo bem mais relevante como reflexão humana do que acusar um lado em posicionamentos políticos.



VAMPIROS DE ALMAS é relativamente fiel a adaptação de um romance de Jack Finney, publicado pela primeira vez como um conto na revista Collier, em 1954, com o título Sleep No More, que aliás, é muito melhor que o título dado na versão expandida posteriormente sob a forma de romance, na qual é mais conhecida: The Body Snatchers. Grande parte do enredo e personagens criados por Finney estão intactos na adaptação, assim como o local onde a história transcorre, a pequena cidade do interior, Santa Mira.

A principal alteração é o final. Se os realizadores usassem os escritos de Finney, mostrariam um Dr. Miles numa batalha heroica contra os invasores fazendo com que os alienígenas desistissem de colonizar a terra, o que seria complicado de filmar por causa do orçamento. O que temos, no entanto, mantém um bocado o tom otimista original, com o protagonista conseguindo avisar as autoridades da ameaça. Mas não deixa de ser ambíguo, já que o filme nunca mostra se a mobilização contra a invasão teve sucesso ou não. Essa versão não me incomoda em nada, apesar de muita gente reclamar. A verdade é que ela foi imposta pelo estúdio como resposta ao final imaginado por Siegel, um desfecho pessimista em que um histérico Dr. Miles no meio do trânsito grita aos motoristas: “você será o próximo!” e terminava o filme apontando o dedo para a câmera, para o próprio público, “você será o próximo!“, o que seria simplesmente genial.



As filmagens de VAMPIROS DE ALMAS duraram algo em torno de três a quatro semanas, com um orçamento de US$ 400 mil dólares, o que já não era muito em comparação ao que estava sendo feito no gênero no período, como um FORBIDDEN PLANET, por exemplo. Mas o filme gasta muito pouco com cenário elaborados, efeitos especiais e outras técnicas visuais extravagantes. Siegel nunca deixa o tom do filme subir a um nível de espetáculo épico. Ao contrário, prefere trabalhar com um suspense intimista e atmosférico, com situações que beiram o palpável, o que a maioria dos exemplares sci-fis do período nem sonhavam em ter. O fato é que com esse tipo de suspense, Siegel consegue ser bastante preciso ao tocar nos receios básicos que a sociedade americana possuía na década de 50.

É uma pena que Siegel não tenha retornado à ficção científica. Grande parte da sua habilidade única em trabalhar a ação e o suspense que poderão ser notadas posteriormente em filmes como THE KILLERS, MADIGAN e CHARLEY VARRICK começam a dar sinais em VAMPIROS DE ALMAS. Embora seja o seu décimo primeiro longa, soa mais como um trabalho seminal que estabelecia um estilo próprio que o diretor vinha construindo ao longo da carreira. Aqui chegaria no seu ápice. A sequência que se passa na caverna, no clímax do filme, é a prova disso. De uma sensibilidade absurda, uma bela noção de como criar um clima de horror e tensão e que culmina na famosa sequência de McCarthy na rodovia no meio dos carros (não para o grande desfecho que Siegel queria, mas não deixa de ser espetacular).



De tão eficiente, universal e atemporal, a clássica história de VAMPIROS DE ALMAS ganhou mais três versões cinematográficas ao longo das décadas. Podem não acreditar, mas até hoje não vi a de 1978, OS INVASORES DE CORPOS, dirigido por Philip Kaufman e estrelado por Donald Sutherland, Leonard Nimoy e Jeff Goldblum; A versão de 1993, que por algum motivo se chama OS INVASORES DE CORPOS – A INVASÃO CONTINUA, de Abel Ferrara, não chega a ser melhor que a do Siegel, mas é um interessante exercício de horror deste grande diretor. Em 2007 tivemos INVASORES, a última versão até o momento e que nunca me despertou interesse algum.

Imagem bônus:
Participação de um jovem Sam Peckinpah, que também trabalhou como diretor de diálogos.


quinta-feira, 9 de março de 2017

CHARLES BUKOWSKI


eu

mulheres não sabem como amar,
ela me disse.
você sabe como amar
mas mulheres só querem parasitar.
sei disso porque sou
mulher.

hahaha, eu ri.

por isso não se preocupe terminando
com Susan
porque ela apenas irá parasitar
outro homem.

falamos um pouco mais
então me despedi
desliguei o telefone
fui ao banheiro
e mandei uma boa merda de cerveja
basicamente pensando, bem,
continuo vivo
e tenho capacidade de expelir
sobras do meu corpo.
e poemas.
e enquanto isso acontecer
serei capaz de lidar com
traição
solidão
unhas encravadas
gonorréia
e o boletim econômico do
caderno de finanças.

com isso
me levantei
me limpei
dei a descarga
e então pensei:
é verdade:
eu sei como
amar.

ergui minhas calças e caminhei
para a outra peça.



*O amor é um cão dos diabos (2007, pg. 30)


FONTE: http://bukowski-poemas.blogspot.com.br/