quinta-feira, 24 de agosto de 2017

ZÉ DA SILVA


Um corpo que cai

 
Um corpo que cai da torre negra. Alfred Hitchcok e Stephen King, quem diria, acabaram no subúrbio – e não era Irajá. O bombardeio sempre é de dentro pra fora – e saem pelos dedos para desafiar o espaço em branco da tela de 26 polegadas. Na saída do banheiro minúsculo no quintal do cortiço aconteceu a queda. Um passo em falso depois de puxar a descarga e abrir a porta com aquelas frestas por onde se olhava as meninas e as mulheres adultas – sempre na escuridão da noite do lado de fora. O rodopio fez a cabeça ir direto para o piso de cimento áspero. O topete de bode quase pulou fora. A dor… a dor… Foi a partir daí que se instalou na alma o lado escuro da vida – e o mundo encantado da criança que ainda usava calça curta se foi. Sobrevivente, anos depois tive certeza de que ali, no abismo de rosas, caí nos espinhos.


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