Paramount Pictures, 126min) Direção: Roman Polanski. Roteiro: Roman Polanski, Gérard Brach, romance de Roland Topor. Fotografia: Sven Kykvist. Montagem: Françoise Bonnot. Música: Philippe Sarde. Figurino: Jacques Schmidt. Direção de arte/cenários: Pierre Guffroy. Produção executiva: Hercules Bellville. Produção: Andrew Braunsberg. Elenco: Roman Polanski, Isabelle AdjanShelley Winters, Melvyn Douglas, Jo Van Fleet, Bernard Fresson, Lila Kedrova. Estreia: 24/5/76 (Festival de Cannes)
Último capítulo da famosa "trilogia do apartamento" de Roman Polanski, "O inquilino" antecede, em pelo menos uma década, o tom onírico e delirante das obras de David Lynch. Inspirado em um romance de Roland Topor que estava em vias de ser filmado por Jack Clayton ("Os inocentes" e "Todas as noites às nove") e lançado dois anos após a consagração do cineasta polonês com "Chinatown", que havia lhe dado uma indicação ao Oscar de melhor diretor, o suspense estrelado pelo próprio Polanski e pela musa francesa Isabelle Adjani na flor de seus 20 anos de idade, "O inquilino" é, ainda hoje, perturbador a ponto de dar um nó na cabeça do espectador, acostumado com as tramas mastigadinhas proporcionadas por Hollywood - é uma surpresa, aliás, saber que foi produzido por um estúdio americano e que tenha chegado às telas sem sua interferência. Sinal de que o prestígio do diretor por seu noir estrelado por Jack Nicholson e Faye Dunaway ainda estava em alta - o que só seria abalado por sua acusação de estupro de uma menor de idade e sua proibição de voltar a trabalhar nos EUA, o que lhe obrigou a manter uma carreira internacional, ainda que premiada e quase sempre louvada pela crítica.
Tema constante na filmografia de Polanski, a perda da sanidade mental é o mote central de "O inquilino", em que o diretor volta a trabalhar como ator. Ele é quem vive o protagonista, Trelkovski, um funcionário público simples e discreto que vê seu equilíbrio posto à prova depois de alugar o apartamento de uma jovem estudante que acaba de cometer suicídio. Constantemente assediado por seus estranhos vizinhos, que reclamam de barulhos que ele não faz e falam de outros moradores que ele sequer consegue ver, aos poucos o tímido burocrata passa também a ter visões estranhas e comportar-se de forma errática, como se assumisse a personalidade da antiga moradora do apartamento, uma egiptologista a quem visitou no hospital pouco antes de sua morte. Sem saber o que fazer para impedir que seu fim seja semelhante ao dela - cujos hábitos de consumo ele também começa a manter - Trelkovski pede ajuda a uma amiga da morta, Stella (Isabelle Adjani). Não demora muito, porém, para que ele veja nela uma outra ameaça à sua vida. Sem saber o que fazer, ele mergulha em uma espiral de loucura e obsessão.
O mais radical dos trabalhos de Roman Polanski - por sua profusão de simbolismos, seu tom delirante e por seu final em aberto que não explica nada e deixa tudo nas mãos da plateia - "O inquilino" estreou mundialmente no Festival de Cannes de 1976, de onde saiu sem nenhum prêmio mas com fartos elogios da crítica. Não é para menos: com um estilo econômico de narrativa, sem excessos ou artifícios que façam dele um suspense vulgar ou tipicamente comercial, seu filme é um soco no estômago de quem procura um thriller convencional. Não há sustos a cada dez minutos ou um desfecho trivial. O roteiro - co-escrito pelo diretor e seu colaborador habitual Gérard Brach - tem seu ritmo próprio, com uma pegada europeia que exige do espectador uma atenção que o gênero normalmente dispensa em seus exemplares mais banais. Até mesmo quando a trama ameaça escorregar com um grau bastante elevado de situações bizarras o controle de Polanski no comando da ação a impede de cair no ridículo. Poucas vezes investindo na carreira de ator, ele também consegue destacar-se com uma interpretação contida e adequada, trabalhando ao lado de vencedores do Oscar, como Melvyn Douglas, Shelley Winters, Lila Kedrova e Jo Van Fleet - todos perfeitamente inseridos na atmosfera de pesadelo criada por sua direção inspirada.
Que não se espere de "O inquilino" um suspense banal. Apostando fortemente no teor psicológico da trama e amparado em uma direção de arte que enfatiza cada ângulo distorcido e cada nota da bela trilha sonora de Philippe Sarde, o filme de Polanski conduz o espectador por um labirinto de emoções perversas e tensão, com um sentimento de incômodo de que somente os grandes cineastas conseguem imprimir em seus trabalhos. O final pode não agradar a todos, mas é inegável que poucos filmes são capazes de despertar tanto desconforto sem apelar para a sanguinolência explícita ou efeitos visuais de última geração. Polanski é sempre Polanski, para o bem e para o mal. Vale experimentar!
Último capítulo da famosa "trilogia do apartamento" de Roman Polanski, "O inquilino" antecede, em pelo menos uma década, o tom onírico e delirante das obras de David Lynch. Inspirado em um romance de Roland Topor que estava em vias de ser filmado por Jack Clayton ("Os inocentes" e "Todas as noites às nove") e lançado dois anos após a consagração do cineasta polonês com "Chinatown", que havia lhe dado uma indicação ao Oscar de melhor diretor, o suspense estrelado pelo próprio Polanski e pela musa francesa Isabelle Adjani na flor de seus 20 anos de idade, "O inquilino" é, ainda hoje, perturbador a ponto de dar um nó na cabeça do espectador, acostumado com as tramas mastigadinhas proporcionadas por Hollywood - é uma surpresa, aliás, saber que foi produzido por um estúdio americano e que tenha chegado às telas sem sua interferência. Sinal de que o prestígio do diretor por seu noir estrelado por Jack Nicholson e Faye Dunaway ainda estava em alta - o que só seria abalado por sua acusação de estupro de uma menor de idade e sua proibição de voltar a trabalhar nos EUA, o que lhe obrigou a manter uma carreira internacional, ainda que premiada e quase sempre louvada pela crítica.
Tema constante na filmografia de Polanski, a perda da sanidade mental é o mote central de "O inquilino", em que o diretor volta a trabalhar como ator. Ele é quem vive o protagonista, Trelkovski, um funcionário público simples e discreto que vê seu equilíbrio posto à prova depois de alugar o apartamento de uma jovem estudante que acaba de cometer suicídio. Constantemente assediado por seus estranhos vizinhos, que reclamam de barulhos que ele não faz e falam de outros moradores que ele sequer consegue ver, aos poucos o tímido burocrata passa também a ter visões estranhas e comportar-se de forma errática, como se assumisse a personalidade da antiga moradora do apartamento, uma egiptologista a quem visitou no hospital pouco antes de sua morte. Sem saber o que fazer para impedir que seu fim seja semelhante ao dela - cujos hábitos de consumo ele também começa a manter - Trelkovski pede ajuda a uma amiga da morta, Stella (Isabelle Adjani). Não demora muito, porém, para que ele veja nela uma outra ameaça à sua vida. Sem saber o que fazer, ele mergulha em uma espiral de loucura e obsessão.
O mais radical dos trabalhos de Roman Polanski - por sua profusão de simbolismos, seu tom delirante e por seu final em aberto que não explica nada e deixa tudo nas mãos da plateia - "O inquilino" estreou mundialmente no Festival de Cannes de 1976, de onde saiu sem nenhum prêmio mas com fartos elogios da crítica. Não é para menos: com um estilo econômico de narrativa, sem excessos ou artifícios que façam dele um suspense vulgar ou tipicamente comercial, seu filme é um soco no estômago de quem procura um thriller convencional. Não há sustos a cada dez minutos ou um desfecho trivial. O roteiro - co-escrito pelo diretor e seu colaborador habitual Gérard Brach - tem seu ritmo próprio, com uma pegada europeia que exige do espectador uma atenção que o gênero normalmente dispensa em seus exemplares mais banais. Até mesmo quando a trama ameaça escorregar com um grau bastante elevado de situações bizarras o controle de Polanski no comando da ação a impede de cair no ridículo. Poucas vezes investindo na carreira de ator, ele também consegue destacar-se com uma interpretação contida e adequada, trabalhando ao lado de vencedores do Oscar, como Melvyn Douglas, Shelley Winters, Lila Kedrova e Jo Van Fleet - todos perfeitamente inseridos na atmosfera de pesadelo criada por sua direção inspirada.
Que não se espere de "O inquilino" um suspense banal. Apostando fortemente no teor psicológico da trama e amparado em uma direção de arte que enfatiza cada ângulo distorcido e cada nota da bela trilha sonora de Philippe Sarde, o filme de Polanski conduz o espectador por um labirinto de emoções perversas e tensão, com um sentimento de incômodo de que somente os grandes cineastas conseguem imprimir em seus trabalhos. O final pode não agradar a todos, mas é inegável que poucos filmes são capazes de despertar tanto desconforto sem apelar para a sanguinolência explícita ou efeitos visuais de última geração. Polanski é sempre Polanski, para o bem e para o mal. Vale experimentar!
UM FILME POR DIA : http://clenio-umfilmepordia.blogspot.com.br/2016/11/o-inquilino.html
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