domingo, 5 de novembro de 2017

TICIANA VASCONCELOS SILVA



No peito arde a mais inglória dor
Sangrando palavras mórbidas
Corroendo os dentes imóveis
Sussurrando sombras e mistérios

No peito vive a mais espantosa flor
Como se de mantos velhos se cobrisse
Como se abrisse e sumisse
Como se na primavera se abrumasse

Espantos do dia, luzes da noite
Solenes curvas que sobrecarregam o que ainda está por vir
Porvir sem constatações
Cantos sem objeções

No sangue a matéria inconstante
Permanecendo vítima do ritmo moribundo do mundo
Sonhos estranhos
Tamanho o desassossego
Desenho raso de um mar sem cor

O verbo rasgado e usado
Sem dar movimento, estagnado
Urso hibernando
Poema sem vigor

E na pele amaldiçoada
A cinza esparramada
Os olhos trêmulos
O gesto do desamor


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