T. Rex
The Slider (1972)
(Edição 56,Março de 1990)
No dia 16 de setembro de 1977, às cinco da manhã, Marc Bolan morria num acidente automobilístico, em Londres. Estava prestes a completar 31 anos e foi uma imensa perda para o meio musical, dada a influência que exerceu (e continua exercendo) sobre várias tendências do pop contemporâneo. Como profeta-mor do glitter, Bolan tornou-se um caso à parte no universo do rock, com sua voz manhosa e anasalada junto a uma incrível capacidade de conceber canções repletas de calafrios e sensibilidade em carne viva.
A princípio integrado ao movimento mod, Bolan lançou dois compactos solo, sem maiores conseqüências, antes de se reunir ao grupo John's Children, nos idos de 1967. No ano seguinte, formaria o Tyrannosaurus Rex, ao lado do vocalista/multiinstrumentista Steve Peregrine Took. Nesta fase inicial - que se estendeu até o início de 1970 - as composições de Bolan eram verdadeiras viagens, calcadas em devaneios intimistas ao som de flutuantes violões e percussão com tendências orientalistas. Um peculiar som lisérgico, que foi registrado em seus quatro primeiros álbuns.
Com a substituição de Peregrine por Mickey Finn e a redução do nome simplesmente para T. Rex, o grupo debutou com álbum homônimo lançado em dezembro de 1970, que marcava nova guinada na carreira de Bolan. As nuances psicodélicas tornaram-se apenas um tempero a mais numa receita aparentemente simples, mas de uma eficiência a toda prova, que incluía também boogie, rhythm'n'blues e hard rock.
O LP seguinte, "Eletric Warrior" (1971), fez explodir na Inglaterra o termo gliter rock, estilo pelo qual o T. Rex foi o maior responsável e, por que não, seu mais significativo expoente. O glitter consistiu em fundir o cósmico com um paraíso de cosméticos, na exacerbação da cor (paetês e purpurina em primeiro plano), na construção da imagem, em um teatro existencial decorado pôr afetações, sacarmos e certa dose de romantismo. Este estilo, também chamado de glam rock, seria consolidado de forma definitiva por Bolan no LP seguinte do T. Rex, "The Slider".
Lançado originalmente em julho de 1972, o disco foi gravado em Paris e Copenhague com produção de Tony Visconti (que também vinha trabalhando com David Bowie, a quem apresentado pelo próprio Bolan). Acompanhado pela bateria de Bill legend, o baixo de Steve Currie, os backing vocais afetadíssimos dos ex-Turtles Howard Kaylan e Mark Volmah, além da percussão e vocais de Finn, a voz penetrante e a guitarra psicoespacial de Bolan conduziram aqui algumas das mais marcantes canções de toda a sua carreira. Verdadeiros hinos glitter como a arrepiante "Metal Guru" (com sutis intervenções de cordas arranjadas por Visconti), a faixa-título (uma boogie ballad imersa em tristeza e escapismo) e "Telegram Sam" (posteriormente regravada pelo Bauhaus). Outras músicas memoráveis eram aclimatadas em narcotizantes inflexões de boogie - como "Rock On", "Baby Boomerang" e "Baby Strange", o lado mais dançante do T.Rex - junto às incursões pelo heavy metal de "Buick Mackane" e "Chariot Choogle".
Mais encantos podiam ser encontrados em baladas com atmosferas espaciais como "Mystic Lady", "Spaceball Ricochet" e a pungente "Ballrooms of Mars", na qual eram citados John Lenon, Bob Dylan e Alan Freed (O DJ que lançou Chuck Berry, em troca da co-autoria de "Maybellene"). E também nos delicados climas bluesísticos de "Rabbit Fighter" e na lisergia folk de "Main Man". Um álbum único, que se tornou a principal obra-prima de glitter.
Fernando Naporano
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
domingo, 24 de fevereiro de 2013
sábado, 23 de fevereiro de 2013
OFERENDA
de Ticiana Vasconcelos Silva
Já que meu destino é mesmo um paradoxo estendido ao infinito e que o tempo está perdido no espaço dos olhos vagos, que o momento é único e vivo, passado e futuro não existem e que o caminho já é há muito tempo perdido e só o encontrou quem se perdeu, então estendo meu orgulho ao pé do ouvido pra ouvir a glória do adeus.
Prefiro ser muda a falar coisas vis, pois sou amante da verdade. Prefiro morrer tentando ver do que sofrer os sortilégios desta grande ilusão que se chama vida e que deve ser comida com todas as suas cascas mal despidas, seu fruto venenoso, até que se encontre a razão de seu viver.
Coloco em meu peito as noites mal dormidas tentando acender a chama do amor brando e sutil como a brisa do mar que não cansa de sussurrar seu louvor e levo minha história para o manjar dos deuses nessa oferenda de sabedoria.
Poesia.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/02/23/oferenda-2/
Já que meu destino é mesmo um paradoxo estendido ao infinito e que o tempo está perdido no espaço dos olhos vagos, que o momento é único e vivo, passado e futuro não existem e que o caminho já é há muito tempo perdido e só o encontrou quem se perdeu, então estendo meu orgulho ao pé do ouvido pra ouvir a glória do adeus.
Prefiro ser muda a falar coisas vis, pois sou amante da verdade. Prefiro morrer tentando ver do que sofrer os sortilégios desta grande ilusão que se chama vida e que deve ser comida com todas as suas cascas mal despidas, seu fruto venenoso, até que se encontre a razão de seu viver.
Coloco em meu peito as noites mal dormidas tentando acender a chama do amor brando e sutil como a brisa do mar que não cansa de sussurrar seu louvor e levo minha história para o manjar dos deuses nessa oferenda de sabedoria.
Poesia.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/02/23/oferenda-2/
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
GILBERT SHELTON
Gilbert Shelton (1940, Houston, Texas) é um dos expoentes dos quadrinhos underground. Seus primeiros desenhos foram publicados na Texas Ranger,
revista de humor editada pela Universidade do Texas, onde, em 1961
Shelton se graduou em Ciências Sociais.
Residente em Paris, já publicou
no Brasil Aventuras do gato do Fat Freddy, The fabulous Furry Freak Brothers e The Freak Brothers.
O trio de maconheiros – Freewheelin' Franklin, Phineas T. Freakears e
Fat Freddy Freekowtski –, sempre acompanhado do gato Fat Freddy, que
vivia imerso em sexo, drogas e rock’n’roll, ajudou a estampar a
cara da contracultura dos anos 1960-70.
Apesar de aposentados desde
meados da década de 1980, quando Shelton se mudou para Paris com sua
mulher, a agente literária Lora Fountain, são os Freak Brothers e suas
inúmeras reedições em língua estrangeira que ainda sustentam o autor,
atualmente envolvido na produção de um longa-metragem animado estrelado
por eles.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Touro
era uma boa causa ele jurava para si mesmo por isso foi à dispensa saiu com o tubo de álcool apanhou a caixa de fósforo que ciro monteiro não aceitaria para tocar jogou o líquido nas lascas de madeira que tinha tirado do fundo podre do guarda-roupa velho junto com as roupas que pareciam ter sido atacadas por seres alienígenas e tocou fogo como gostaria de fazer um sobrinho piromaníaco desde que nasceu e então surgiram as pequenas chamas fortes como deve ser representantes de um dos três elementos mas logo veio a fumaça que saiu do controle exercido pelas paredes da churrasqueira quase abandonada e tomaram a dimensão do descontrole e entraram toxicamente por todas as janelas e os cômodos desapareceram junto com os móveis aparelhos eletrodomésticos anda logo a esticar a mangueira e abrir a torneira para apagar o fogo e foi pior meu deus será que alguém vai chamar os bombeiros porque aí aquela fumaça amarela cinza preta já tomara conta dos quintais e a água não diminuía nada só aumentava os rolos e ele ficou em desespero e os olhos com milhões de formigas e a garganta trancada e mesmo assim apontava o jato de água e aí não aguentou saiu dali e o céu ficou negro mas não era da fumaça e o temporal caiu e ele ficou ali parado olhando tudo como uma das maiores surpresas a quebrar a monotonia do dia.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
DISCOTECA BÁSICA
GILBERTO GIL
EXPRESSO 2222 (1972)
(Edição 126,Dezembro de 1995)
Quando começou a circular o Expresso 2222 , em 72, a luz no fim do túnel era a locomotiva da ditadura vindo em sentido contrário. Como Caetano, Gilberto Gil voltava de um exílio de dois anos em Londres, após uma prisão arbitrária, e recomeçava a carreira a todo o vapor unindo as duas pontas básicas do ideário tropicalista. De um lado, o regionalismo fundador da tosca & revolucionária Banda De Pífanos De Caruaru ("Pipoca Moderna"). De outro, uma canção do exílio universalista, "Back In Bahia", que ao invés de palmeiras e sabiás, planta Celly Campelo e um velho baú de prata.
Entre os extremos dessa arqueologia há espaço para o nordeste agreste de João do Vale (mais Ayres Viana e Alventino Cavalcanti), turbinado por guitarras em "O Canto Da Ema" e a parábola da contaminação cultural, do repertório de Jackson do Pandeiro, "Chiclete Com Banana". A que fala em samba/rock antes de Lobão nascer e mistura Miami com Copacabana, quando a era Collor ainda era um brilho fugidio nos olhos psicopatas de seus genitores. Com anos-luz de antecedência, o forró-core e o mague-bit já pulsavam nos hormônios freventes da sucinta "Sai do Sereno" (Onildo de Almeida), em duo com Gal Costa, edificada numa única estrofe poética.
Antes da trilogia "Re" do autor (o ruralista/macrô "Refazenda", o funkiado "Refavela" e o pop "Realce"), este "Expresso" para depois do ano 2000 já falava em estrada do tempo pré-infovias de Bill Gates. A clássica faixa-título foi repaginada no recente "Acústico" de Gil com uma acentuação de sua pisada de xaxado implícita na versão original. O disco de 72 também faz um inventário ideológico da geração do desbunde com palavras de ordem com "O Sonho Acabou". Ao mote de John Lennon, Gil acrescenta pitadas tropicalistas ("dissolvendo a pílula de vida do Dr. Ross/na barriga de Maria") e um atestado de que os caretas perderam o bonde da história. "Quem não dormiu no sleeping bag/nem sequer sonhou/ e foi pesado o sono pra quem não sonhou".
Além de uma distinção de perfis com o xifópago estético Caetano em "Ele E Eu" ("Ele vive calmo/e na hora do Porto Da Barra/fica elétrico"), Gil manda o editorial do disco obra-prima em "Oriente". "Se oriente rapaz/pela constatação de que a aranha/vive do que tece/ vê se não se esquece". De tão sólida, a teia do Expresso 2222 sobreviveu ao vírus do tempo.
Tárik de Souza
EXPRESSO 2222 (1972)
(Edição 126,Dezembro de 1995)
Quando começou a circular o Expresso 2222 , em 72, a luz no fim do túnel era a locomotiva da ditadura vindo em sentido contrário. Como Caetano, Gilberto Gil voltava de um exílio de dois anos em Londres, após uma prisão arbitrária, e recomeçava a carreira a todo o vapor unindo as duas pontas básicas do ideário tropicalista. De um lado, o regionalismo fundador da tosca & revolucionária Banda De Pífanos De Caruaru ("Pipoca Moderna"). De outro, uma canção do exílio universalista, "Back In Bahia", que ao invés de palmeiras e sabiás, planta Celly Campelo e um velho baú de prata.
Entre os extremos dessa arqueologia há espaço para o nordeste agreste de João do Vale (mais Ayres Viana e Alventino Cavalcanti), turbinado por guitarras em "O Canto Da Ema" e a parábola da contaminação cultural, do repertório de Jackson do Pandeiro, "Chiclete Com Banana". A que fala em samba/rock antes de Lobão nascer e mistura Miami com Copacabana, quando a era Collor ainda era um brilho fugidio nos olhos psicopatas de seus genitores. Com anos-luz de antecedência, o forró-core e o mague-bit já pulsavam nos hormônios freventes da sucinta "Sai do Sereno" (Onildo de Almeida), em duo com Gal Costa, edificada numa única estrofe poética.
Antes da trilogia "Re" do autor (o ruralista/macrô "Refazenda", o funkiado "Refavela" e o pop "Realce"), este "Expresso" para depois do ano 2000 já falava em estrada do tempo pré-infovias de Bill Gates. A clássica faixa-título foi repaginada no recente "Acústico" de Gil com uma acentuação de sua pisada de xaxado implícita na versão original. O disco de 72 também faz um inventário ideológico da geração do desbunde com palavras de ordem com "O Sonho Acabou". Ao mote de John Lennon, Gil acrescenta pitadas tropicalistas ("dissolvendo a pílula de vida do Dr. Ross/na barriga de Maria") e um atestado de que os caretas perderam o bonde da história. "Quem não dormiu no sleeping bag/nem sequer sonhou/ e foi pesado o sono pra quem não sonhou".
Além de uma distinção de perfis com o xifópago estético Caetano em "Ele E Eu" ("Ele vive calmo/e na hora do Porto Da Barra/fica elétrico"), Gil manda o editorial do disco obra-prima em "Oriente". "Se oriente rapaz/pela constatação de que a aranha/vive do que tece/ vê se não se esquece". De tão sólida, a teia do Expresso 2222 sobreviveu ao vírus do tempo.
Tárik de Souza
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
CHARLES BUKOWSKI
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros
na
Europa?
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele
saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
DEUSES
por Ticiana Vasconcelos Silva
Coloridas são as nuances das faces nuas
Que em suas malícias cruas
Desvanecem e oferecem as loucuras mais puras
Sendo fortes e suaves
Ao mesmo tempo e em sincronicidade
Fazem dos céus uma doce miragem
Dançam e bailam pela terra
Erguem o pó das dores
E amedrontam os mentirosos
Suores de prazeres em doces volúpias
Esculpidas no fogo das emoções sussurradas
Por bocas sedentas, por línguas e olhares
São almas de cores, sabores e dores
São olhos de secura e lágrimas misturadas
São corpos cansados do mundo sem luares
São deuses a esconder as suas faces.
Coloridas são as nuances das faces nuas
Que em suas malícias cruas
Desvanecem e oferecem as loucuras mais puras
Sendo fortes e suaves
Ao mesmo tempo e em sincronicidade
Fazem dos céus uma doce miragem
Dançam e bailam pela terra
Erguem o pó das dores
E amedrontam os mentirosos
Suores de prazeres em doces volúpias
Esculpidas no fogo das emoções sussurradas
Por bocas sedentas, por línguas e olhares
São almas de cores, sabores e dores
São olhos de secura e lágrimas misturadas
São corpos cansados do mundo sem luares
São deuses a esconder as suas faces.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Sagitário
nove meses depois nasceu a morena porque ele pegou o ônibus na rodoviária e foi até recife tomar caipirinha de pitu sem gelo e bate-bate embaixo do sol do meio-dia e ao som da banda de metais com frevo na fervura nóís sofre mas não goza o bloco e tudo era como foto com cores puxadas mas não havia digitais faz trinta anos e ele foi para olinda e viu carros sem capota e sem portas tudo cerrado e gente cheirando lança e fumando diamba ai que medo sentiu e os casarões apertavam multidões nas ladeiras e uma igreja e seus santos protegiam tudo e o refrão era olinda quero cantar pra ti e ficou três dias na folia e não viu uma briga só alegria isso sim é que é carnaval queria voltar não voltou nunca mais mas ele tem a menina que é sensível como os poetas e forte como a cor do mar visto lá de cima da pirambeira e através das rendas das barracas e sabe falar como os guias meninos com sotaque gostoso como olhar os bonecos gigante lá longe no meio do povo de suassuna na casa de gilberto freyre meu povo ele germinou a semente lá.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/02/08/horoscopo-355/
Sagitário
nove meses depois nasceu a morena porque ele pegou o ônibus na rodoviária e foi até recife tomar caipirinha de pitu sem gelo e bate-bate embaixo do sol do meio-dia e ao som da banda de metais com frevo na fervura nóís sofre mas não goza o bloco e tudo era como foto com cores puxadas mas não havia digitais faz trinta anos e ele foi para olinda e viu carros sem capota e sem portas tudo cerrado e gente cheirando lança e fumando diamba ai que medo sentiu e os casarões apertavam multidões nas ladeiras e uma igreja e seus santos protegiam tudo e o refrão era olinda quero cantar pra ti e ficou três dias na folia e não viu uma briga só alegria isso sim é que é carnaval queria voltar não voltou nunca mais mas ele tem a menina que é sensível como os poetas e forte como a cor do mar visto lá de cima da pirambeira e através das rendas das barracas e sabe falar como os guias meninos com sotaque gostoso como olhar os bonecos gigante lá longe no meio do povo de suassuna na casa de gilberto freyre meu povo ele germinou a semente lá.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/02/08/horoscopo-355/
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
FERNANDO PESSOA
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis, 1-7-1916
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
SIMON TAYLOR
É hoje!
Simon Taylor lança livro e exposição “Meus Cases de Sucesso”
Em 2011 o chargista e ilustrador Simon Taylor inaugurou uma exposição virtual chamada “Meus Cases de Sucesso”. A mostra, composta por desenhos surrealistas, humor e crítica social e comportamental, foi muito bem recebida. Agora, a necessidade de sair do mundo virtual e existir no mundo real chega ao Museu Guido Viaro na forma de uma exposição dos desenhos originais e do lançamento do livro.
A série faz uma crítica bem-humorada à obsessão pelo sucesso a qualquer custo de nossos tempos, e dos esforços desumanos que as pessoas fazem para alcançá- lo. Usando de personagens que se transformam de maneira surrealista em suas respectivas profissões, o artista ridiculariza esse comportamento desesperado e vazio ao tocar na ferida.
Serviço:
Onde: Museu Guido Viaro (Rua XV de Novembro, 1348, em frente ao prédio da Reitoria da UFPR) - www.museuguidoviaro.org e www.museuguidoviaro.blogspot.com
Quando: 5 de fevereiro, terça-feira, às 19h30
Exposição: de 5 a 16 de fevereiro.
O livro custa R$ 15,00
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Câncer
A primeira xícara rachada ele viu num bar. Era o primeiro passeio com o pai. Aeroporto. Avião que sobe, avião que desce. Nariz colado no vidro. Nem sonhava em um dia entrar naquele corpo metálico dotado de asas. Era domingo. Na saída um cafezinho. Quer com leite? Ele queria puro. Estava quente. A xícara tinha um faixa azul perto da borda. Ele assoprou. Como sua mãe ensinou. Tomou de um gole só. A pele descolou no céu da boca. Ele fingiu ser machão. Tinha sete anos. Foi aí que viu. Aquela linha marrom percorrendo de cima abaixo todo um lado da xícara. Teve nojo. Não sabe por quê. Assim como até hoje não sabe porque espatifou-a no chão usando toda a força que tinha para o arremesso. O pai fechou a cara. Pagou pelo prejuízo. Quase não sobra dinheiro para as passagens dos dois ônibus que os levaram de volta para a meia-água no fundo do quintal. Ele cresceu quebrando xícaras, copos com defeitos, pratos, etc. Sempre da mesma maneira. Talvez para ter certeza de que não mais seriam usados. Questão de higiene, começou a justificar já adulto. Mas um dia, casado, chegou em casa e estranhou algo. O que sentiu era como se estivesse no ar. A mulher, então, lhe falou. Apareceu uma rachadura na parede do quarto. Ele foi ver. A cicatriz era como aquela da primeira xícara. Tinha o mesmo traçado. Ele se arremessou contra ela. De cabeça. Chamaram vizinhos, polícia, ambulância. Ficou internado por um bom tempo. Saiu. Nunca mais quebrou nada. Na testa, uma cicatriz. Igualzinha.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/02/05/horoscopo-361/
Câncer
A primeira xícara rachada ele viu num bar. Era o primeiro passeio com o pai. Aeroporto. Avião que sobe, avião que desce. Nariz colado no vidro. Nem sonhava em um dia entrar naquele corpo metálico dotado de asas. Era domingo. Na saída um cafezinho. Quer com leite? Ele queria puro. Estava quente. A xícara tinha um faixa azul perto da borda. Ele assoprou. Como sua mãe ensinou. Tomou de um gole só. A pele descolou no céu da boca. Ele fingiu ser machão. Tinha sete anos. Foi aí que viu. Aquela linha marrom percorrendo de cima abaixo todo um lado da xícara. Teve nojo. Não sabe por quê. Assim como até hoje não sabe porque espatifou-a no chão usando toda a força que tinha para o arremesso. O pai fechou a cara. Pagou pelo prejuízo. Quase não sobra dinheiro para as passagens dos dois ônibus que os levaram de volta para a meia-água no fundo do quintal. Ele cresceu quebrando xícaras, copos com defeitos, pratos, etc. Sempre da mesma maneira. Talvez para ter certeza de que não mais seriam usados. Questão de higiene, começou a justificar já adulto. Mas um dia, casado, chegou em casa e estranhou algo. O que sentiu era como se estivesse no ar. A mulher, então, lhe falou. Apareceu uma rachadura na parede do quarto. Ele foi ver. A cicatriz era como aquela da primeira xícara. Tinha o mesmo traçado. Ele se arremessou contra ela. De cabeça. Chamaram vizinhos, polícia, ambulância. Ficou internado por um bom tempo. Saiu. Nunca mais quebrou nada. Na testa, uma cicatriz. Igualzinha.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/02/05/horoscopo-361/