quarta-feira, 31 de julho de 2013
GUIM TIÓ
Guim Tió Zurraluki, nascido em 1987 e baseado em Barcelona, é dono de método e estilo únicos. Ao manipular páginas de revistas de moda, cobrindo-as com imagens criadas a partir de lapis pastel, o artista plástico dá vida a personagens estranhos, compostos por elementos geométricos, marcas coloridas e formas desproporcionais.
Os bustos desenhados por Guim são inconfundíveis, e denunciam imediatamente o seu ator. É como uma mesma família de seres esquisitos, que surgem de retratos humanos perfeitos – que só poderiam advir dos padrões estéticos das revistas – para se apresentar apoiados em uma outra beleza: delicada, sutil e infinitamente mais rara. Indo além, em cada pescoço alongado, olho esbugalhado ou lábio gigantesco, há uma provocação, fruto da inclinação jocosa com a qual o artista objeta a condição humana.
FERNANDO PESSOA
- Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
De adormecer.
Sou, sem lar, nem conforto, nem esperança,
Nem desejo de os ter.
E um choro por meu ser me inunda
A imaginação.
Saudade vaga, anônima, profunda,
Náusea da indecisão.
Frio do Inverno duro, não te tira
Agasalho ou amor.
Dentro em meus ossos teu tremor delira.
Cessa, seja eu quem for!
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Virgulino Ferreira da Silva, Lampião
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Conhecido como o rei do cangaço e
o governador do sertão, Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de
julho de 1897, na Fazenda Ingazeira, situada no município de Vila Bela
(hoje, Serra Talhada), no sertão de Pernambuco. Foi o segundo filho de
José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. O seu
nascimento, porém, só é registrado no dia 7 de agosto de 1900. Tinha
como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e
Amália. Todos cresceram ouvindo e/ou presenciando estórias de
cangaceiros, e Antônio Silvino lhes serve de exemplo maior.
Naquela
época, o sertão quase não possuía escolas e estradas, viajava-se a pé, a
cavalo, em burro e em jumento. Os denominados coronéis (os
proprietários de terras) imperavam sob o peso da prepotência como os
verdadeiros chefes políticos, sem nunca sofrer represálias porque a
força do Estado estava sempre do seu lado. Neste sentido, eram eles que
davam a palavra final, ou seja, elegiam, destituíam, perseguiam,
condenavam, absolviam, torturavam e matavam.
Em
períodos de crises econômicas, os coronéis recebiam ajuda do Poder
Público. Isto era uma recompensa, um benefício recebido, por causa dos
eleitores que controlavam mediante os "votos de cabresto" - aqueles
votos fornecidos a um candidato, e garantidos pela palavra-de-ordem dos
poderosos, que impõem nomeações e asseguram a hegemonia da classe
política local, sem se importar com a competência profissional dos
nomeados.
Apesar
de muito inteligente, Virgulino abandona a escola para ajudar a família
no plantio da roça e na criação de gado. Torna-se famoso nas
vaquejadas. Gosta muito de dançar, de tocar sanfona, compõe versos e
adora um rifle. Sabe costurar muito bem em pano e couro e confecciona as
próprias roupas.
Ele
tinha 19 anos quando entrou para o cangaço. Dizem que tudo começou
através de disputas com José Saturnino, membro da família Nogueira e
vizinha de terras. Lutando contra essa família durante muitos anos,
Virgulino e seus irmãos já se comportavam como futuros cangaceiros, não
tardando a entrar em conflito com a polícia. A decisão de viver e morrer
como bandido, contudo, só foi tomada, mesmo, quando a polícia mata José
Ferreira da Silva - o patriarca da família - enquanto ele debulhava
milho.
Em
um das primeiras lutas do bando, na escuridão da noite, Antônio (um dos
irmãos Ferreira), espantado com o poder de fogo do rifle de Virgulino,
que expelia balas sem parar e mais parecia uma tocha acesa, gritou o
seguinte:Espia, Levino! O rifle de Virgulino virou um lampião! A partir
desse dia, a alcunha do famoso cangaceiro passa a ser Lampião.
Virgulino consegue realizar seu maior sonho, com a intermediação do Padre Cícero Romão Batista:
adquirir a patente de capitão, no Batalhão Patriótico do deputado Floro
Bartholomeu, o batalhão das forças legais. Além de alimentar sua
vaidade pessoal, a patente funcionaria como uma espécie de
salvo-conduto, permitindo o bando circular pelas divisas dos estados do
Nordeste.
Aproveitando
aquela oportunidade, Virgulino solicita, também, para os companheiros
Antônio Ferreira e Sabino Barbosa de Melo, os postos de 1o. e 2o.
tenentes. Acatada a solicitação, os membros do bando abandonam as
roupas costumeiras, vestem a farda de soldado e, como autoridades
constituídas, passam a ter o dever - por mais irônico que isto possa
soar -, de defender a legalidade e proteger a população nordestina.
Tudo
isso foi redigido pelo Padre Cícero e assinado, a pedido deste, no dia
12 de abril de 1926, pelo engenheiro-agrônomo do Ministério da
Agricultura, Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa. Feliz da vida aos 28 anos
de idade, o jovem Capitão Virgulino reúne a família para tirar
fotografias.
Oficialmente,
ele recebe a missão de combater a Coluna Prestes - um grupo de
comunistas liderados por Luís Carlos Prestes -, grupo que vinha
percorrendo o País durante o governo do presidente Artur Bernardes. No
entanto, após se distanciar uns 6 quilômetros de Juazeiro, Lampião
decide se embrenhar na caatinga, em busca de combates mais lucrativos,
deixando para trás o prometido a Padre Cícero e as responsabilidades
para com o Estado. E os soldados do governo foram chamados de "macacos",
porque saíam pulando quando avistavam os cangaceiros.
No
bando de Lampião tinha indivíduos de todos os tipos: gordos, magros,
ruivos, louros, morenos, altos, baixos, negros e caboclos. Alguns,
inclusive, eram jovens demais: Volta Seca (11 anos), Criança (15 anos),
Oliveira (16 anos). O mais idoso era Pai Velho, com 71 anos de idade.
Lampião
arranjava, facilmente, armamentos e munições, mas, como o fazia, era um
segredo que não contava a ninguém. Uma parte das armas automáticas,
para combater a Coluna Prestes, foi adquirida através do Deputado Floro
Bartholomeu e do Padre Cícero. Os demais armamentos do bando foram
arranjados mediante a intervenção de amigos.
Um
acidente provocado pela ponta de um pau cega o olho direito do Capitão
Virgulino, um órgão que, anteriormente, já se apresentava problemático
devido à presença de um glaucoma. Enxergando com um olho, apenas,
Lampião se vê obrigado a ficar sempre enxugando, com um lenço, as
lágrimas que pingam do olho vazado. A despeito dessa deficiência, ele
nunca deixou de ser um excelente estrategista.
Dizem
que foi uma brincadeira de mau gosto da família Ferreira (o corte da
cauda de alguns animais) a gota d’água que desencadeou uma afronta
irreparável com o fazendeiro José Saturnino, proprietário das terras
vizinhas e membro da família Nogueira. Sendo mais numerosos e tendo o
apoio do governo, essa família termina por expulsar os Ferreira de suas
terras.
A
partir de 1917, Virgulino e a sua família passam a conviver com
intensos tiroteios e emboscadas, não podendo morar em um lugar
específico: são obrigados a vagar pelo sertão e levar uma vida de
nômades.
Em
meio às lutas e fugas, falece Dona Maria Selena, no Engenho Velho. E,
no início de agosto de 1920, o patriarca da família - José Ferreira - é
fuzilado pela volante do sargento José Lucena, enquanto debulhava milho.
Naquele mesmo dia, então, os Ferreira fazem um juramento: o seu luto,
até a morte, iria ser o rifle, a cartucheira e os tiroteios.
Quando
sabia da existência de um coronel perverso, Lampião não perdia a
oportunidade de queimar-lhe as fazendas e matar-lhe o gado. Nas
incursões em vilas e povoados, o grupo saqueava, dizimava e matava. As
violências cometidas pelo bando eram inúmeras: tatuagem a fogo, corte de
orelha ou de língua, castração, estupro, morte lenta, entre outras.
Muitos habitantes abandonavam definitivamente as suas propriedades,
tornando desertas as caatingas, já que elas estavam entregues a soldados
e cangaceiros.
Virgulino
Ferreira era bastante impulsivo. Às vezes, passavam-se meses sem se
ouvir falar nele, pensando-se, inclusive, que tinha morrido. Mas, de
repente, ele surgia do nada com o seu bando, como um tremendo furacão,
lutando contra as volantes, incendiando fazendas, roubando e matando com
a maior naturalidade. Em algumas ocasiões, seus gestos eram generosos:
confraternizava com as pessoas, organizava festas, distribuía dinheiro,
pagava bebida para todos.
Em
uma de suas paradas para descansar, perto da Cachoeira de Paulo Afonso,
conheceu Maria Déia, filha de um fazendeiro de Jeremoabo, na Bahia. Há
cinco anos ela era casada com José de Nenén - um comerciante da região -
mas nutria uma paixão platônica por Lampião, mesmo sem nunca tê-lo
encontrado.
Alguns
afirmam que foi a própria mãe de Maria Déia que segredou a Lampião
sobre essa paixão. Já outros dizem que foi Luís Pedro - integrante do
bando - que insistiu para o rei do cangaço conhecê-la. Na realidade, o
fato é que Virgulino caiu de amores ao vê-la. E, impressionado com a sua
beleza, passou a chamá-la de Maria Bonita.
Em
vez de três dias, ficou dez na Fazenda Malhada da Caiçara. Com a
concordância dos pais, que apoiavam o desejo da filha, Maria Déia coloca
as suas roupas em dois bornais, penteia os cabelos, despede-se para
sempre do marido, e parte com Lampião rumo à caatinga. Era o ano 1931 e
ela tinha 20 anos.
Pouco
tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o
casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita
dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de
Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro.
Como
se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a
vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la
dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico
porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de
Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a
criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda
Jaçoba.
O
Capitão Virgulino adora ser fotografado e filmado. Neste sentido,
consente que Benjamim Abraão, um fotógrafo libanês, conviva durante
meses com o seu bando e colete muito material sobre o cangaço. Esse
fotógrafo, contudo, é assassinado por um coronel, e grande parte do seu
acervo é destruída.
Maria
Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado.
Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de
Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano.
Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido
oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se
recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do
hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à
carvão, na parede do quarto:
Doutor,
o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi
o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião.
Além
das emboscadas planejadas para liquidá-lo, cabe ressaltar que Lampião
conseguiu sobreviver ao veneno e ao fogo. Do primeiro, contou com a
dosagem fraca que lhe deu, somente, um inconveniente desarranjo
intestinal; do segundo, apesar de chamuscado, conseguiu escapar pulando.
Mas foi ferido à bala diversas vezes.
Excetuando-se
João, todos os irmãos de Virgulino morreram antes dele. Em 1926,
Antônio foi morto em Serra Talhada, no encontro com uma volante
pernambucana. Uma outra volante desse mesmo estado matou Levino
Ferreira. O último a falecer foi Ezequiel, gravemente ferido pela
polícia de Sergipe. Mas, quando Lampião percebeu que seu irmão estava se
ultimando e sofrendo, saca do próprio revólver e dispara um tiro de
misericórdia bem em cima de sua testa.
Em
uma outra luta contra a volante pernambucana, na vila de Serrinha,
próximo a Garanhuns, Maria Bonita foi baleada. Como estava perdendo
muito sangue, Lampião deu ordem para encerrar a luta imediatamente: pega
a amada nos braços e segue rumo ao município de Buíque, onde ela é
tratada na vila de Guaribas.
Vale
deixar registrado que o bando de Lampião resistiu durante quase 20
anos, brigando com grupos de civis que o perseguiam e com a polícia de 7
estados nordestinos. Por todo esse tempo, assaltou propriedades de
grandes fazendeiros, atacou povoados, vilas e cidades, roubou, pilhou,
torturou e matou os seus adversários.
Apesar
de ter sido baleado nove vezes, Lampião sobreviveu a todos os
ferimentos, sem contar com qualquer tipo de assistência médica formal.
Naquela época, desconheciam-se os antibióticos e as sulfas. Para
estancar o sangue e curar os ferimentos, por exemplo, usavam-se mofo, pó
de café e, até, excrementos de gado. Eram usadas, ainda, ervas
medicinais e rezas dos curandeiros, que nem sempre funcionavam como se
esperava. Um ferimento em seu pé, neste sentido, condenou Virgulino a
mancar para o resto da vida.
Extremamente
jeitoso, além de dotado de grande capacidade de improvisação, era o
Capitão Virgulino que fazia os curativos, encanava pernas e braços
quebrados dos feridos e fazia os partos das mulheres dos cangaceiros.
Super dotado de inteligência, ele era médico, farmacêutico, dentista,
vaqueiro, poeta, estrategista, guerrilheiro, artesão. Desconfiado, só
ingeria algo depois que alguém tivesse provado o alimento. Por outro
lado, só entregava o dinheiro após ter recebido a mercadoria.
Entretanto, não conseguiu se livrar da traição dos falsos amigos.
No
dia 27 de julho de 1938, conforme o costume de anos a fio, o bando
acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo
tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e
todos dormiam em suas barracas. Na madrugada do dia 28, a volante chegou
tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Quando um dos cangaceiro
deu o alarme, já era tarde demais.
Não
se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro,
segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente
desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento
Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os
cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.
O
ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à
morte. Dos 34 cangaceiros presentes, 11 morreram ali mesmo. Lampião foi
um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente
ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu
líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os
policiais saquearam e mutilaram os mortos. Roubaram todo o dinheiro, o
ouro, e as jóias.
A
força volante, de maneira bastante desumana, decepa a cabeça de
Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida,
quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira e
Mergulhão: tiveram suas cabeças arrancadas em vida.
Feito
isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de
querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e
ensangüentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos
urubus. Guardadas as devidas proporções, após ter passado,
praticamente, cento e cinqüenta anos da Revolução Francesa, os
brasileiros retrocederam ao século XVIII, decepando cabeças como fizeram
com Luís XVI e Maria Antonieta.
Percorrendo
os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já
em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma
multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Maceió e, depois,
foram ao sul do Brasil.
No
Instituto de Medicina Legal de Maceió, as cabeças foram medidas,
pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não
viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao
contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer
sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido
classificados, pura e simplesmente, como normais.
Do
sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação,
as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Lá, tornaram a
ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma
patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu
Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.
Durante
muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram
para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio
Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos
esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e
parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o
depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a
sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o
braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.
O
enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto
de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos
meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do
poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o
reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia
6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu
enterro uma semana depois.
Virgulino
morreu aos 41 anos de idade. No entanto, contabilizando-se os riscos
enfrentados durante 20 anos de cangaço, a alimentação incerta, as
emboscadas, os ferimentos, a falta de assistência médica, entre outros,
pode-se afirmar que o rei do cangaço viveu mesmo muito tempo. Vale
registrar, por outro lado, que Lampião e Maria Bonita possuem parentes
próximos em Aracaju: sua filha, Expedita, casou com Manuel Messias Neto e
teve quatro filhos (Djair, Gleuse, Isa e Cristina).
Por
fim, a grande inteligência de Virgulino Ferreira da Silva, bem como o
seu valor como estrategista valem a pena ser ressaltados. Mais de
sessenta anos após sua morte, ele continua sendo lembrado na música, na
moda, na literatura de cordel,
no teatro, no cinema, em escolas, em museus, em conferências e debates.
O temido cangaceiro, indubitavelmente, o mais importante e carismático
de todos, deixou gravado nas caatingas sertanejas um pedaço da história
do Nordeste do Brasil.
Recife, 24 de julho de 2003.
(Texto atualizado em 19 de março de 2008).
sexta-feira, 26 de julho de 2013
quarta-feira, 24 de julho de 2013
DOR DE AMOR
Ai... dói!
A costela dói, o coração dói e a dor me mói.
Mas a dor é de amor
Sentimento que me alucina
Como morfina
Que para a dor e me faz delirar!
Ticiana Vasconcelos Silva
FONTE: http://paradoxodoser.blogspot.com.br/
domingo, 21 de julho de 2013
DISCOTECA BÁSICA
Clube da Esquina(1972)
(Edição 199,Março de 2006)
Em 1970, Milton Nascimento já tinha quatro discos lançados e a fama de cantor e compositor fora
de série - Burt Bacharach, por exemplo, era seu fã. Só que, em vez de partir para mais um álbum de composições próprias, ele resolveu dividir
a criação e deixar sua música ser inseminada por outras cabeças. Desse espírito coletivista nasceu Clube da Esquina. Milton convidou um amigo dez anos mais novo, Lô Borges, que conheceu ainda criança em Belo Horizonte, para dividir as composições. Ele sabia que podia confiar no taco beatlemaníacodo rapaz, pois tinha gravado três músicas de Lô no disco anterior, Milton. Em uma casa alugada na praia de Piratininga, em Niterói, Milton e Lô passaram um ano e meio compondo e recebendo a visita de amigos letristas (Fernando Brant. Ronaldo Bastos e Márcio Borges) e músicos (como Beto Guedes, trazido por Lô).
As músicas foram gravadas nos estúdios da Odeon no Rio, "tudo ao vivo, só com os vocais colocados mais tarde", como contou Lô. As idéias e os arranjos iam surgindo no estúdio.
Todos davam palpites, inclusive os letristas.
O resultado desse esforço coletivo chegou às lojas no auge dos tempos barra-pesada
da ditadura e, segundo Lô, foi recebido com frieza. "Diziam que era música de uns caras que tocavam violão, olhavam para as montanhas e falavam de nuvens e céu azul." Clube da Esquina é tido como o disco que lançou o o som e a turma dos "mineiros" (de fato, ele envolve Lô, Beto, Toninho Horta, Nelson Ângelo, Tavito e um monte de músicos de lá), mas a "mineirice" de Clube da Esquina não está em supostas raízes ou ritmos folclóricos. Está na tradição de juntar uma galera num boteco, ouvir e falar de Beatles, rock progressivo, tocar violão e - no caso de BH - olhar para as montanhas. A voz abençoada de Milton, o mistério das letras (de onde vieram coisas como "um gosto vidro e corte/um sabor de chocolate" ou "vento solar e estrelas do mar/a terra azul da cor de seu vestido"?)
e as levadas folk-rock piraram a cabeça da rapaziada da época,
e a versão em CD, lançada 20 anos mais tarde, foi recebida como um tesouro no Japão (onde existe o "Fã-Clube da Esquina"), na Europa e nos EUA.
A mistura de baladas beatle e MPB com sabor afro-Iatino soa muito bem. Ainda mais nas
canções sensacionais de Milton (como "San Vicente", "Cravo e Canela", "Nada Será Como Antes") e Lô(Tom Jobim era fã de ‘Trem Azul”,David Byrne de “Um Girassol da cor de seu cabelo”).
A casa na praia em Niterói,em que brotaram essas músicas,deveria ser tombada e ter uma placa:”Aqui nasceu um dos discos mais influentes já feitos no Brasil”.
Thomas Pappon
FONTE: http://rateyourmusic.com/lists/list_view?list_id=133037&show=50&start=150
sábado, 20 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
quarta-feira, 17 de julho de 2013
CABEÇA DE PEDRA
Viagem à cidade dos mocorongos
FONTE: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/
sexta-feira, 12 de julho de 2013
FERNANDO PESSOA
Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
- Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.
domingo, 7 de julho de 2013
O CASTELO ANIMADO
(Hauru No Ugoku Shiro, 2004)
Enquanto as animações ocidentais aparecem cada vez mais sofisticadas, com efeitos de computação gráfica que deixam o público indeciso quanto ao estúdio mais competente, o diretor Hayao Miyazaki e o Studio Ghibli não trocam por nada seu estilo de animação. Os traços transparentes e inconfundíveis permanecem, mesclando-se perfeitamente com detalhes computadorizados, em cenários deliciosos que estúdio ocidental nenhum poderia imaginar.
Desta vez, Miyazaki optou por transportar às telas uma história já existente, um livro da britânica Diana Wynne Jones, que, tendo sido aluna de mestres como J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis, acrescenta às suas obras o teor ideal de fantasia. O livro conta a história de Sophie, uma jovem que vive numa cidade industrial, de formato claramente europeu, e leva uma vida ordinária em sua chapelaria. Sua rotina muda completamente quando uma bruxa vem visitá-la, lançando sobre ela um feitiço que a transforma numa velha senhora de 90 anos.
A partir daí, Miyazaki atrela seu estilo à obra original. Sophie foge de casa e procura outro abrigo, acabando por encontrar o castelo que dá título ao filme, onde conhece o demônio de fogo Calcifer, o garoto Markl e o próprio dono do castelo, Howl. Enquanto procura a relação existente entre Howl, Calcifer e as guerras que eclodem a todo momento, Sophie imerge num mundo inimaginável e absolutamente fantástico, tendo que lidar com as armadilhas do caráter humano e seus desdobramentos. A premissa criada por Diane Wynne Jones permanece; o que Miyazaki faz é retocá-la, adicionando e modificando elementos que se complementam. No final, é como se o filme e o livro fossem extensões de si mesmos.
As comparações com A Viagem de Chihiro são inevitáveis, por ter sido este o ápice da expressão artística de Miyazaki. Chihiro sintetiza todo o estilo do diretor, toda sua filosofia de trabalho e também seu modo de expressão. Por isso mostra-se um filme visivelmente chocante e metafórico, munido de produção artística atordoante. O Castelo Animado é menos arrebatador, como que uma retomada de fôlego após tanto estardalhaço visual. Ainda assim, Miyazaki não abandonou sua melhor arma – as cores – e coloriu cenários e personagens até não poder mais. O melhor de tudo – e mais surpreendente – é que o visual fervescente não cansa, nem enjoa, talvez porque a preocupação de Miyazaki não seja colorir apenas para agradar.
Os traços delicados e ainda assim veementes, a leveza do desenho e as metáforas visuais são apenas um anestésico, se comparados à inventividade da animação. As personagens, inclusive animais e seres inanimados, têm seus próprios conflitos e amadurecem durante a película, moldando características e personalidade. A maldição de Sophie, transformar-se numa velha de 90 anos, acaba por se tornar num aprendizado, e ela aprende que a vida é proveitosa em qualquer idade.
O Castelo Animado, bem como a maioria dos desenhos feitos pelo Studio Ghibli, é um filme inegavelmente adulto, apenas disfarçado como diversão infantil. É através deste disfarce, inclusive, que Miyazaki lembra ao espectador comum a importância do sonho e da imaginação, porque o próprio Miyazaki, ao que parece, não cessará seus sonhos tão cedo.
|
Por Flávio Augusto |
CABEÇA DE PEDRA
OLHOS DE ASSASSINO
Na beira do rio, no meio da floresta, o estranho deu a senha. Olhos de assassino. E eu ali me arrastando nas trevas da doença da alma, tentando ver beleza no que era belo e de força absurda. Aquilo ficou gravado como se fosse um código, que poderia ser acessado a qualquer hora, para deflagar o desconhecido. Os contos de Rubem Fonseca vieram apenas completar. Ele sabia! Ele sabia! A necessidade de ceifar vidas desconhecidas para não ter remorso. Apenas ceifar, como um deus ou um diabo vestido de ser humano. Os olhos do assassino tomaram conta numa noite qualquer, de tédio, de televisão jogando lixo na cara, de comida gelada, de café requentado, de ninguém para conversar, de saco cheio de tudo. Quando voltei para casa, o coração aos pulos, tinha feito, mas não sabia direito o quê. Lembrava do barulho do tiro e do movimento de me virar rápido e sair correndo na rua escura e deserta. Quem foi? Quem seria? Nada. Lawrence da Arábia na cena em que diz ter gostado de matar. Os olhos de assassino voltaram no dia seguinte para ver a cena. Não havia marcas. Ninguém tinha ouvido nada. Os jornais e rádios também não noticiaram. Comecei a desconfiar que tinha entrada em delírio. Ou talvez que tenha disparado contra minha própria cabeça.
CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/07/olhos-da-assassino.html
Na beira do rio, no meio da floresta, o estranho deu a senha. Olhos de assassino. E eu ali me arrastando nas trevas da doença da alma, tentando ver beleza no que era belo e de força absurda. Aquilo ficou gravado como se fosse um código, que poderia ser acessado a qualquer hora, para deflagar o desconhecido. Os contos de Rubem Fonseca vieram apenas completar. Ele sabia! Ele sabia! A necessidade de ceifar vidas desconhecidas para não ter remorso. Apenas ceifar, como um deus ou um diabo vestido de ser humano. Os olhos do assassino tomaram conta numa noite qualquer, de tédio, de televisão jogando lixo na cara, de comida gelada, de café requentado, de ninguém para conversar, de saco cheio de tudo. Quando voltei para casa, o coração aos pulos, tinha feito, mas não sabia direito o quê. Lembrava do barulho do tiro e do movimento de me virar rápido e sair correndo na rua escura e deserta. Quem foi? Quem seria? Nada. Lawrence da Arábia na cena em que diz ter gostado de matar. Os olhos de assassino voltaram no dia seguinte para ver a cena. Não havia marcas. Ninguém tinha ouvido nada. Os jornais e rádios também não noticiaram. Comecei a desconfiar que tinha entrada em delírio. Ou talvez que tenha disparado contra minha própria cabeça.
CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/07/olhos-da-assassino.html
sábado, 6 de julho de 2013
ROGER DEAN
Roger Dean, nascido a 31 de agosto de 1944 em Ashford, kent na Inglaterra, tendo passado a maior parte da infância viajando pelo mundo pois seu pai fazia parte da Marinha Britânica retornando a Inglaterra em 1959 após completar o ensino médio estudou na Escola Canteburry de Arte tornando-se Publicitario e Artista.
Mundialmente conhecido a partir do final da década de 60 por trabalhar nas capas mais fantasticas de albuns principalmente de Rock Progressivo, a primeira capa onde trabalhou foi para uma banda chamada “gun”.
Em 1971 criou a capa do primeiro album da “Osibisa” e no mesmo ano começou a trabalhar nas capas da banda “Yes” onde seu primeiro projeto foi para o album “Fragile”, ele veio a criar o logotipo da banda que viria a aparecer em todos os albuns da banda, desde então vem fazendo as capas do Yes até os dias de hoje tendo inclusive colaborado com seu irmão Martin na concepção de varios shows da banda.
Dean inicialmente trabalhava com aquarelas, atualmente em muitas obras utiliza varias tecnicas: tinta, lápis, colagem, esmalte e outras absorveu várias influências mas talvez as maiores tenham vindo dos antigos pintores chinêses e da literatura de Tolkien.
Flertou inclusive com a arquitetura desenvolvendo o projeto de uma casa completamente concebida em seu estilo inconfundível, a casa parece ter sido esculpida na parte interna de uma colina com grama e plantas crescendo sobre ela não agredindo o visual natural, internamente parece um dos cenarios de Tolkien, a extrutura é toda em fibra de vidro fazendo com que haja isolamento completo do ambiente, nos dias frios mantém o calor e nos dias quentes faz o ambiente fresco, á partir daí surgiram outros incríveis projetos arquitetonicos. Dean também é respeitado por suas obras de caligrafia e disign de logotipos, trabalhou no projeto de apresentação de jogos para video game, tem alguns livros que apresentam a compilação de sua obra, artista completo recentemente influênciou tambem o cinema.
por Eduardo Piloto