sexta-feira, 30 de maio de 2014

FRANK FRAZETTA


Autorretrato

por Mário Latino

Poucos artistas conseguiram atingir o grau de soberbia vitalidade e energia que este nova-iorquino soube colocar em seus trabalhos. Mais ainda, ele influenciou a todos os grandes ilustradores das últimas décadas, gente como Boris Vallejo, Luis Bermejo, Joe Jusko, Royo, Redondo, Shulz e Norem. Não é pouca coisa.

Foi com as capas feitas para a revista Famous Funnies, lá pelos anos 50, que Frazetta começou a impor o padrão estético que viria a ser sua marca registrada. Mas, antes disso, ele já tinha feito o percurso comum dos desenhistas de histórias em quadrinhos.

Pelo que se sabe, Frazetta desenhava desde criança. Seu treinamento “formal” começou aos 8 anos, no ateliê dum italiano chamado Michael Falanga. Na “escolinha” os garotos adquiriam noções básicas de pintura, retrato e escultura em argila. Eram horas e horas estudando o Davi de Michelângelo ou a Vênus de Milo. Apesar de todo esse banho de cultura artística, Frank só estava interessado em fazer quadrinhos. Era aí que o dinheiro rolava e gente como Al Capp e Milton Caniff podiam comprová-lo.
Suas primeiras influências na arte seqüencial foram Hal Foster, Elsie Segar e Jack Kirby. Nessa época foi trabalhar a Standard Publications. Aí, o diretor de arte Ralph Mayo, emprestou-lhe dois livros de anatomia para que corrigisse algumas deficiências. Frazetta foi para casa e entusiasmado estudou todo o material numa noite! A partir desse dia seu trabalho cresceu em qualidade. Tanto que a Standard encarregou-lhe a história Dan Brand & Tippy. Enquanto muitos artistas sofrem para descobrir os segredos da arte seqüencial, Frank parecia ter nascido com aquelas habilidades. Seu domínio da perspectiva e da composição era assustador. Desenhava tendo como único elemento de apoio a própria imaginação, quando a norma era procurar elementos de referência.
Após Dan Brand & Tippy, Frazetta mudou-se para a EC, onde fez capas para Famous Funnies e Weird Science Fantasy. Em 1952 mudou-se para o Mc Naught Syndicate onde desenhou a tira Johnny Comet, que foi cancelada um ano depois. Após a desastrada experiência com Johnny Comet, Frank foi trabalhar no estúdio de Al Capp. Por um salário de 500 dólares semanais ele passou 9 anos desenhando a página dominical de Li’l Abner. O acordo terminou quando Capp, um déspota com seus desenhistas, decidiu arbitrariamente reduzir-lhe o salário. E aí começou o drama.
Embora estivesse trabalhando para o mercado de quadrinhos, Frazetta como artista estava sumido. E, pior, após de anos desenhando, tinha esquecido como arte-finalizar. Tentando recuperar seu espaço procurou o pessoal da DC, MAD, e EC, sem resultados. George Evans foi o único a dá-lhe trabalho. Mais tarde, Harvey Kurtzman encomendou-lhe alguns trabalhos deAnnie Fanny. Foi então que um pôster de Ringo Starr, feito por encomenda para a MAD, chamou a atenção do pessoal do estúdio cinematográficoUnited Artist. Seu primeiro trabalho para eles foi o pôster do filme What’s New, Pussycat? Repentinamente, Frazetta se viu com mais serviço do que podia dar conta. E em cada trabalho para United Artist ele ganhava mais que em um ano fazendo quadrinhos!
Em 1964, Frazetta conheceu Jim Warren, dono e diretor do magazineCreepy. Pelo acordo com Warren, ele teria total liberdade artística. Foi então que ele fez Sea Witch, Egyptian Queen e Vampirella.O pagamento era uma mixaria, mas Frazetta estava à vontade. O acordo durou até 1972, quando Creepy faliu. Nos anos seguintes, Frazetta se afastou dos quadrinhos e passou a expor suas pinturas. Fez trabalhos de ilustração por encomenda e ganhou muito dinheiro.
Em 1986 teve problemas hormonais relacionados com a tiróide. Perdeu a vontade de viver e de desenhar. Seu peso corporal de 76 quilos foi para 60. O calvário durou 8 anos nos quais Frazetta perambulava de clínica em clínica procurando uma cura para a doença. Finalmente, voltou a ser uma pessoa normal. Voltou à prancheta de desenho.
Conhecido pelo enorme talento no desenho da figura humana, Frazetta tem um conceito de força que foge ao padrão estético dos desenhistas contemporâneos. Para ele, a força reside nas coxas, nas nádegas, no tronco quadrado (não triangular), nos tríceps e nos antebraços. E é fácil entender tal conceito quando vemos os homens desenhados por ele, transmitindo uma sensação de força e potência explosiva que dificilmente o ‘marvel style’ conseguiria.
No desenho das formas femininas, Frazetta prefere mulheres carnudas e voluptuosas, mais para Marilyn Monroe que para Cindy Crawford. “É esse tipo de mulher que mexe com nossas fantasias”.
E na hora de trabalhar uma ilustração, ele começa pelo cenário. Só depois é que encaixa a figura humana dentro dele. Assim o desenho fica mais realista, com a personagem num cenário e não ao contrário, com o cenário acompanhando a personagem. Podem parecer detalhes insignificantes do afazer de um artista, mas quando vemos seu trabalho e o comparamos com o de outros, hoje com mais fama que ele, entendemos que a qualidade se consegue com esses pequenos detalhes.


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