terça-feira, 24 de maio de 2016

DISCOTECA BÁSICA


Herbie Hancock
Head Hunters (1973)
(Edição 195,Novembro de 2005) 

por  Alex Antunes

Quando estava introduzindo sua fase fusion, por volta de In A Silent Way(1969) e Bitches Brew (1970), Miles Davis teve de aporrinhar seus pianistas para que usassem teclados eletrônicos. Ou melhor, teve de aporrinhar Chick Corea, Joe Zawinul e Keith Jarrett - porque o versátil Herbie Hancock nunca se vexou com o jazz plugado. Pelo contrário, mesmo na fase acústica ele já gostava de gadgets: levava um protótipo de gravador portátil aos shows e o deixava embaixo do piano.
Depois, Hancock gravou álbuns em que fez recombinações de seu jazz c1assudo e climático com fragmentos de boogie elétrico-Crossings e Sextant,em que os créditos das programações de Moog e ARP vão para o dr. Patrick Gleason. Ecléticos sim, até afro¬tecno-primitivo-futuristas (numa estranha junção de codinomes tribais e processamento eletrônico), mas ainda assim discos "de jazz'.
Nada que alertasse para o balanço sem volta de Head Hunters. Por trás de uma daquelas estantes gigantes de teclados e efeitos - piano, rhodes, clavinet. órgão, sintetizadores, mellotron, echoplex -, como um Rick Wakeman negão, Hancock comandou o mais fulminante destacamento do jazz-funk: Bennie Maupin,
sax e clarone; Paul Jackson, baixo; Harvey Mason, bateria; Bill Summers, percussão.
Só que a vistosa tecladeira era usada com concisão, precisão e senso de groove robóticos e intrincados - a contrapartida com melanina e testosterona ao Kraftwerk, numa antecipação do electro nova-iorquino que daria origem ao hip hop e ao techno, anos depois.
Os puristas ficaram tão alarmados com os timbres abstratos e as conduções lineares que
se esqueceram de notar que, nas composições e nos solos de piano, o talento jazzístico continuava intacto. E Herbie provocava dizendo que ainda não tinha conseguido soar "comercial" de fato.
Na capa ele desaparece atrás de uma máscara tradicional africana onde V.U. e potenciômetros substituem os búzios. A primeira coisa que se ouve é uma levada sintética de baixo que é suingue e galhofa puros. Faça a experiência: toque os primeiros compassos de "Chameleon" em qualquer festinha black, electro-rock ou hip-hop, e as mentes seguirão as bundas. Até o início dos 80, Herbie testou a receita em meia dúzia de álbuns, alguns deles realmente comerciais, enquanto cultivava o jazz acústico em paralelo.
Só para dar uma idéia do imaginário do cara, na ilustração da capa de Thirst(1974) ele pilota uma espaçonave sobre Machu Picchu. Então, em 1983, veio Future Shock, nova Obra-prima com Bill laswell, e o hino break "Rockit" fazendo dançar as posses de b-boys em todo o universo


FONTE
http://rateyourmusic.com/list/Mhrr/discoteca_basica_revista_bizz/4/

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