The invisible man, 1933, Universal Pictures, 71min.
Direção: James Whale. Fotografia: R.C. Sheriff, romance de H.G. Wells. Fotografia: Arthur Edeson. Montagem: Ted Kent. Música: Heinz Roemheld. Direção de arte: Charles D. Hall. Produção: Carl Laemmle Jr.. Elenco: Claude Rains, Gloria Stuart, William Harrigan, Henry Travers, Una O'Connor. Estreia: 13/11/33
Quando recebeu o convite da Universal para adaptar o romance “O homem invisível”, de H.G. Wells, o roteirista R.C. Sherriff tomou um susto: depois de ler o livro (um clássico da ficção científica já no início dos anos 30), percebeu que todas as 14 (!!) tentativas de adaptação feitas antes que ele assinasse contrato fugiam radicalmente da história original. Não que os criativos roteiristas anteriores mudassem um nome ou outro ou alterassem o desfecho da trama: eles simplesmente chegavam ao extremo de transferir a narrativa para cenários e tempos absolutamente díspares, como a Rússia czarista e Marte. Decidido a escrever uma adaptação com o máximo possível de fidelidade, Sherriff acabou por atingir um nível de excelência admirável. Dirigido por James Whale – de “Frankenstein” – com sua habitual inteligência, “O homem invisível” é um dos mais interessantes produtos do estúdio em sua fase de lucrar com histórias de monstros.
Contado com um insuspeito senso de humor que muitas vezes disfarça o tom bem mais violento e cruel do que as histórias que fizeram a glória do estúdio nos anos 30 – como “Drácula” e “Frankenstein” – “O homem invisível” já começa surpreendendo o público, acostumado a histórias de cientistas malucos que vão enlouquecendo aos poucos: logo de cara o protagonista, Jack Griffin (Claude Rains), chega a uma hospedaria no interior dos EUA e exige privacidade em sua estadia. Vestido com roupas de inverno, óculos escuros e bandagens, ele desperta a curiosidade dos donos do lugar, mas não demora a deixar claro os motivos de sua discrição. Em uma cena cujos efeitos especiais não deixam nada a desejar à tecnologia de hoje, Griffin revela sua invisibilidade aos atônitos frequentadores do local – que, chocados, entram em contato com a polícia, que passam a caçar o cientista.
É só então que o público irá começar a entender os motivos que levaram Griffin à situação em que se encontra. Como não poderia deixar de ser em histórias sobre cientistas malucos que desde sempre povoam a literatura e o cinema, o roteiro de Sheriff mostra o protagonista como vítima dos inesperados efeitos colaterais de uma experiência que não apenas o deixa invisível (e por consequência afeta drasticamente sua psique) como o joga em rota de colisão com seu sócio/rival, Arthur Kemp (William Harrigan) - um homem que aproveita a situação para livrar-se do homem que lhe impede o acesso à mulher que ama, Flora Cranley (Gloria Stuart, que mais de sessenta anos depois, voltaria a conhecer a fama ao ser indicada ao Oscar de coadjuvante por "Titanic", de James Cameron). Apaixonado por Flora, Arthur será o responsável por colocar a polícia e a população atrás de Griffin, em uma perseguição com consequências trágicas e brutais.
Mesclando com equilíbrio raro a comédia física e um suspense que vai se acentuando gradualmente, James Whale faz um filme ainda melhor do que sua mais famosa obra, “Frankenstein” (31). Contando com a atuação impressionante de Claude Rains em seu primeiro papel no cinema falado, Whale conduz sua narrativa de forma a jamais deixar que a plateia antecipe o que virá pela frente. A forma com que o roteiro transforma Griffin de vilão em anti-herói é brilhante (quando ele começa a ser caçado sem piedade fica difícil não torcer por sua fuga) e o clímax do filme é dos mais empolgantes do gênero - isso sem falar que Jack Griffin é um vilão dos mais excitantes dos filmes da Universal, já que não hesita em matar qualquer um que atrapalhe seus planos, como mostra a impressionante sequência de um desastre de trem (realizada, vale lembrar, antes do advento dos efeitos digitais).
Realizado com elegância e sutileza por um James Whale no auge da criatividade, “O homem invisível” se beneficia – e muito – do talento de Claude Rains, que abre mão da vaidade ao interpretar um personagem de quem só se conhece a voz até os minutos finais de projeção: amparado por ótimos efeitos visuais, Rains consegue transmitir todas as nuances de seu personagem através da modulação da voz, um desafio que cumpre com louvor. É Rains a alma do filme – já que o corpo, obviamente, não é visto até o desfecho – e faz dele um dos melhores do pacote de monstros da Universal.
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