(La cage aux folles, 1978, Da Ma Produzione, 103min) Direção: Édouard Molinaro. Roteiro: Francis Veber, Édouard Molinaro, Marcello Danon, Jean Poiret, peça teatral de Jean Poiret. Fotografia: Armando Nannuzzi. Montagem: Monique Isnardon, Robert Isnardon. Música: Ennio Morricone. Figurino: Ambra Danon. Direção de arte/cenários: Marco Garbuglia/Carlo Gervasi. Produção: Marcello Danon. Elenco: Ugo Tognazzi, Michel Serrault, Claire Maurier, Rémi Laurent, Carmen Scarpitta, Benny Luke, Luísa Maneri. Estreia: 25/10/78
3 indicações ao Oscar: Diretor (Édouard Molinaro), Roteiro Adaptado, Figurino
Vencedor do Golden Globe de Melhor Filme Estrangeiro
Levando-se em consideração o quanto a plateia norte-americana é avesso a filmes legendados e seu alto grau de conservadorismo, não deixa de ser surpreendente que "A gaiola das loucas", produção italo-francesa dirigida por Édouard Molinaro em 1978 tenha se tornado, à época de seu lançamento, o filme estrangeiro de maior bilheteria nos EUA. Adaptação da peça teatral de Jean Poiret que ficou em cartaz em Paris ininterruptamente entre 1973 e 1978, o filme de Molinaro é uma comédia rasgada, quase histérica e que consegue, quase por milagre, tratar de um assunto delicado - homossexualidade - sem ofender a comunidade gay ou sofrer rejeição do público médio. Assumindo sem medo o histrionismo como forma narrativa e o exagero como forma de atingir a gargalhada, o cineasta mergulha o espectador em um universo recheado de excessos e que conquista justamente por apresentar personagens que, mesmo a um passo do estereótipo, se mostram falíveis e inseguros como boa parte de quem está do lado de fora da tela. Prova maior da sucessão de acertos de Molinaro é o fato de a Academia de Hollywood (normalmente avessa a comédias em suas cerimônias de premiação) ter aberto uma considerável exceção ao lhe indicar a três Oscar, incluindo melhor diretor e roteiro adaptado - além de uma tardia refilmagem feita em 1996 pelo veterano Mike Nichols, também sucesso de bilheteria.
A Gaiola das Loucas do título é a boate parisiense de propriedade do casal Renato Baldi (Ugo Tognazzi) e Albin Mougeotte (Michel Serrault) - que também se apresenta no local, sempre travestido e com shows de grande êxito. Vivendo juntos há mais de vinte anos, eles são surpreendidos com a notícia de que Laurent (Rémi Laurent), fruto da única experiência heterossexual de Renato, irá se casar com a namorada da faculdade. O problema é que a garota é filha de Simon Charrier (Michel Galabru), um político conservador e que zela pela moral e bons costumes da família francesa. Sabendo que contar a verdadeira natureza de seu relacionamento com Albin poderia colocar por água abaixo os planos amorosos do filho, Renato resolve afastar o amante de casa durante o jantar oferecido para que as famílias se apresentem. Ofendido com a ideia, Albin decide comparecer à reunião vestido como a mãe de Laurent - e o que já seria uma atitude temerária fica ainda mais perigosa quando a verdadeira progenitora do rapaz, Simone (Claire Maurier) também surge no apartamento devidamente redecorado para não ferir as suscetibilidades do venerável político.
Trabalhando em ritmo e estrutura de farsa, o roteiro de "A gaiola das loucas" brinca com todos os clichês e estereótipos da homossexualidade masculina, porém o faz com inteligência e respeito. Fica claro, conforme a história anda, que o filme é mais simpático à causa gay - e ao injustiçado Albin, dramático e espalhafatoso - do que à hipocrisia da direita representada por Simon Charrier. Para isso, é claro, o filme conta com a atuação espetacular de Michel Serrault, premiado com o César (o Oscar francês) por seu desempenho nunca aquém de hilariante. Se Ugo Tognazzi sai-se muito bem como a parte racional do casal, sempre tentando manter a paz doméstica mesmo nas crises do parceiro, é Serrault quem tem as cenas e diálogos mais apetitosos, em especial quando, na pele da mãe de Laurent, emplaca uma conversa surreal com o futuro sogro do rapaz. Some-se à essa situação bizarra o interesse da imprensa pelo político depois da morte do presidente em circunstâncias pouco e um empregado insatisfeito com sua obrigação de viver uma farsa e a confusão está formada em todas as frentes.
Sem perder o ritmo de sua narrativa em nenhum momento, sempre acrescentando informações e novidades à trama, Édouard Molinaro faz de "A gaiola das loucas" uma comédia absolutamente bem-sucedida, ao fugir do nicho de produção com temática gay - o que fatalmente o condenaria ao fracasso de bilheteria, haja visto que na década de 70 o assunto era um tabu ainda maior, mesmo no cinema europeu. Sem precisar disfarçar ou amenizar o enfoque na sexualidade de seus protagonistas - ainda que não exiba momentos de intimidade entre eles - o filme simplesmente conta sua história sem preocupar-se em desagradar os setores mais conservadores da plateia. Fazendo rir sem ridicularizar seus personagens (por mais que muitas vezes eles quase implorem por isso), o roteiro entrega à plateia um entretenimento divertido e inofensivo, capaz de fazer rir até ao mais sério dos espectadores. Não à toa, rendeu duas continuações inferiores - em 1980 e 1985 - e permanece vivo na memória do público há mais de trinta anos. Proeza de poucos!
3 indicações ao Oscar: Diretor (Édouard Molinaro), Roteiro Adaptado, Figurino
Vencedor do Golden Globe de Melhor Filme Estrangeiro
Levando-se em consideração o quanto a plateia norte-americana é avesso a filmes legendados e seu alto grau de conservadorismo, não deixa de ser surpreendente que "A gaiola das loucas", produção italo-francesa dirigida por Édouard Molinaro em 1978 tenha se tornado, à época de seu lançamento, o filme estrangeiro de maior bilheteria nos EUA. Adaptação da peça teatral de Jean Poiret que ficou em cartaz em Paris ininterruptamente entre 1973 e 1978, o filme de Molinaro é uma comédia rasgada, quase histérica e que consegue, quase por milagre, tratar de um assunto delicado - homossexualidade - sem ofender a comunidade gay ou sofrer rejeição do público médio. Assumindo sem medo o histrionismo como forma narrativa e o exagero como forma de atingir a gargalhada, o cineasta mergulha o espectador em um universo recheado de excessos e que conquista justamente por apresentar personagens que, mesmo a um passo do estereótipo, se mostram falíveis e inseguros como boa parte de quem está do lado de fora da tela. Prova maior da sucessão de acertos de Molinaro é o fato de a Academia de Hollywood (normalmente avessa a comédias em suas cerimônias de premiação) ter aberto uma considerável exceção ao lhe indicar a três Oscar, incluindo melhor diretor e roteiro adaptado - além de uma tardia refilmagem feita em 1996 pelo veterano Mike Nichols, também sucesso de bilheteria.
A Gaiola das Loucas do título é a boate parisiense de propriedade do casal Renato Baldi (Ugo Tognazzi) e Albin Mougeotte (Michel Serrault) - que também se apresenta no local, sempre travestido e com shows de grande êxito. Vivendo juntos há mais de vinte anos, eles são surpreendidos com a notícia de que Laurent (Rémi Laurent), fruto da única experiência heterossexual de Renato, irá se casar com a namorada da faculdade. O problema é que a garota é filha de Simon Charrier (Michel Galabru), um político conservador e que zela pela moral e bons costumes da família francesa. Sabendo que contar a verdadeira natureza de seu relacionamento com Albin poderia colocar por água abaixo os planos amorosos do filho, Renato resolve afastar o amante de casa durante o jantar oferecido para que as famílias se apresentem. Ofendido com a ideia, Albin decide comparecer à reunião vestido como a mãe de Laurent - e o que já seria uma atitude temerária fica ainda mais perigosa quando a verdadeira progenitora do rapaz, Simone (Claire Maurier) também surge no apartamento devidamente redecorado para não ferir as suscetibilidades do venerável político.
Trabalhando em ritmo e estrutura de farsa, o roteiro de "A gaiola das loucas" brinca com todos os clichês e estereótipos da homossexualidade masculina, porém o faz com inteligência e respeito. Fica claro, conforme a história anda, que o filme é mais simpático à causa gay - e ao injustiçado Albin, dramático e espalhafatoso - do que à hipocrisia da direita representada por Simon Charrier. Para isso, é claro, o filme conta com a atuação espetacular de Michel Serrault, premiado com o César (o Oscar francês) por seu desempenho nunca aquém de hilariante. Se Ugo Tognazzi sai-se muito bem como a parte racional do casal, sempre tentando manter a paz doméstica mesmo nas crises do parceiro, é Serrault quem tem as cenas e diálogos mais apetitosos, em especial quando, na pele da mãe de Laurent, emplaca uma conversa surreal com o futuro sogro do rapaz. Some-se à essa situação bizarra o interesse da imprensa pelo político depois da morte do presidente em circunstâncias pouco e um empregado insatisfeito com sua obrigação de viver uma farsa e a confusão está formada em todas as frentes.
Sem perder o ritmo de sua narrativa em nenhum momento, sempre acrescentando informações e novidades à trama, Édouard Molinaro faz de "A gaiola das loucas" uma comédia absolutamente bem-sucedida, ao fugir do nicho de produção com temática gay - o que fatalmente o condenaria ao fracasso de bilheteria, haja visto que na década de 70 o assunto era um tabu ainda maior, mesmo no cinema europeu. Sem precisar disfarçar ou amenizar o enfoque na sexualidade de seus protagonistas - ainda que não exiba momentos de intimidade entre eles - o filme simplesmente conta sua história sem preocupar-se em desagradar os setores mais conservadores da plateia. Fazendo rir sem ridicularizar seus personagens (por mais que muitas vezes eles quase implorem por isso), o roteiro entrega à plateia um entretenimento divertido e inofensivo, capaz de fazer rir até ao mais sério dos espectadores. Não à toa, rendeu duas continuações inferiores - em 1980 e 1985 - e permanece vivo na memória do público há mais de trinta anos. Proeza de poucos!
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