Fotografias de Ricardo Silva
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
O CICLO DO PAVOR
Título original: Operazione Paura
Direção: Mario Bava
Ano: 1966
País: Itália
Ano: 1966
País: Itália
por VINA
Em um pequeno e sinistro vilarejo estranhos acontecimentos perturbam a paz da população, misteriosos assassinatos acontecem quando o sino das ruínas de uma velha igreja começam a soar. Um médico legista é chamado para fazer a autópsia dos corpos e descobrir algo em comum entre as mortes, algo que possa levar a alguma explicação racional dos funestos acontecimentos. Mas este médico não encontrará nenhuma explicação racional, e ele deveria saber disso quando assinou o contrato para atuar em um filme de Mario Bava!
Como bom amante do horror, estava mais do que na hora de escrever sobre o maestro do macabro. Falo sem medo de ser crucificado, Bava está no nível de lendas como Hitchcock e Kubrick, e digo mais, ninguém consegue superá-lo na estética visual, assistir um filme de Bava é uma viagem lisérgica pelo medo, em especial esta jóia aqui chamada O ciclo do Pavor.
O roteiro simples é uma marca registrada de Bava, mas não se enganem, simples é muito diferente de ruim, a simplicidade do roteiro é a tela em branco que permite a Bava criar sua narrativa pictórica para contar a história. Quando a tensão do filme aumenta o espectador é induzido ao medo, cores fortes, o claro, o escuro são usados sem nenhuma preocupação com a realidade, estão ali apenas para a sensação visual do medo, a sensação de assistir O ciclo do pavor é a de estar dentro de um pesadelo, onde o inexplícavel é aceito de forma natural.
Neste pequeno fragmento do filme é possível conferir um pouco do lirismo e a atmosfera onírica criada pelo maestro do macabro.
Outro aspecto usado para criar a atmosfera macabra é o som, não vi em nenhum filme antecessor a O ciclo do pavor o som ser explorado de forma tão genial, sempre ouvimos um passo a mais do que o protagonista dá, isso nos deixa a sensação de que ele está sendo seguido e sempre nos sentimos ameaçados, ruídos e sons bizarros se mesclam com a música e criam uma sensação proposital de desconforto que nos propícia ao susto, é aquela coisa, um barulho chato que aumenta e se torna cada vez mais chato até que derrepente uma boneca de porcelana sinistra é jogada na sua cara, não tem como não arrepiar nem que seja um só pêlo.
Todo mundo sabe que o Terror e o pornô são estilos que envelhecem com o tempo, mas isso não acontece com O ciclo do pavor, o filme é de 1966 mas continua com a sua essência macabra intácta e é por essas e outras que considero Bava "O" gênio do horror, não vou falar das atuações, e outras caraterísticas técnicas, porque o que me leva a assistir um filme de Mario Bava é justamente por ser de Mario Bava.
PS: Relendo o texto, percebi um discurso ufanista de minha parte, e vou deixar exatamente assim o texto, por que Mario Bava é do caralho!
FONTE: http://cinefilosofos.blogspot.com.br/2010/09/o-ciclo-do-pavor-operazione-paura.html
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
DISCOTECA BÁSICA
New York Dolls
Too Much Too Soon (1974)
(Edição 36,Julho de 1988)
por Celso Pucci
Uma garagem, guitarras, baixo e bateria: rock simples e direto, tocado muito alto, pegando na veia. Esta história começou durante os anos 60 com o surgimento de inúmeras bandas americanas em resposta à "invasão britânica" capitaneada pelos Beatles e os Stones, baseadas em um despojamento musical que se cristalizaria no som demencial de grupos como o Velvet, os Stooges e o MC5. Serviu de estopim para a explosão do punk em 76 e continua a ser contada até hoje, através de sua influência em diversas tendências do rock contemporâneo. Esta história tem um capítulo especial reservado para as "bonecas de Nova York".
No visual, os Dolls levavam às últimas conseqüências - beirando o escracho total - a androginia sugerida pelo glitter que se projetava nas figuras de David Bowie e Marc Bolan: maquilagem pesada, bijuterias e roupas femininas. Em termos musicais, foram essenciais no processo de criação de uma estética típica do rock nova-iorquino, que mais tarde floresceria nos trabalhos do Television, Talking Heads, Blondie, Ramones e outros.
Formado no fim de 71, o grupo era composto originalmente pelo vocalista David Johansen, os guitarristas Johnny Thunders e Rick Rivets, o baixista Arthur Kane e o baterista Billy Murcia. Logo, Rivets foi substituído por Sylvain Sylvain, e assim os Dolls começaram a se apresentar no cenário local, causando sensação. Em novembro de 72, durante a primeira tour inglesa da banda, Billy Murcia morreu de overdose, em Londres. De volta a Nova York, os Dolls só retornam à ativa no ano seguinte, já com Jerry Nolan na bateria.
Então, gravam seu álbum de estréia, com produção de Todd Rundgren (ex-Nazz), que contava com faixas antológicas como "Personality Crisis" e "Looking for a Kiss", que retratavam fielmente a fúria primitiva do som do grupo. Em 74, eles gravariam seu segundo e último disco "oficial", que, junto com o primeiro, tornaram-se legendários. Não menos legendário foi o nome escolhido para produzir Too Much Too Soon: George "Shadow" Morton, um dos grandes produtores do começo dos anos 60, criador das Shangri-Las e fundador da Red Bird Records, ao lado de Phil Spector, Jerry Leiber e Mike Stoller. Morton reforçou a vertente rhythm'n'blues da banda, que desta feita optou por inserir quatro covers entre as dez faixas do disco. Resultado: "Stranded in the Jungle" (sucesso do grupo vocal The Cadets, em 56), "(There's Gonna Be a) Showdown" (da dupla Gamble e Huff, mestres do soul da Philadelphia), "Don't Start Me Talkin'" (do bluesman Rice Miller, ou Sonny Boy Williamson) e "Bad Detective" (de K. Lewis) transformaram-se em clássicos instantâneos na interpretação dos Dolls. O material próprio do grupo também não deixava por menos, especialmente nas faixas compostas por Johansen e Thunders: "Babylon", "Who Are the Mystery Girls?", "It's Too Late" e "Human Being", que já soltavam as faíscas que originariam o incêndio que tomou conta do circo do rock dois anos depois.
Apesar da aclamação da crítica, tanto New York Dolls como Too Much Too Soon foram retumbantes fracassos comerciais, o que precipitou o fim da banda, depois de um curto período em que foram empresariados por Malcolm McLaren. Porém, Johansen e Sylvain continuaram a se apresentar como New York Dolls até 77, com vários músicos acompanhantes, até partirem para erráticas carreiras solo (assim como Thunders, depois de um breve período ao lado de Nolan nos Heartbreakers). Hoje em dia, Johansen atende pela alcunha de Buster Poindexter, um impagável entertainer. Das outras "bonecas", nenhuma mova notícia. Mas, seja como for, as marcas deixadas pelas "assassinas de batom" continuam vivas.
Too Much Too Soon (1974)
(Edição 36,Julho de 1988)
por Celso Pucci
Uma garagem, guitarras, baixo e bateria: rock simples e direto, tocado muito alto, pegando na veia. Esta história começou durante os anos 60 com o surgimento de inúmeras bandas americanas em resposta à "invasão britânica" capitaneada pelos Beatles e os Stones, baseadas em um despojamento musical que se cristalizaria no som demencial de grupos como o Velvet, os Stooges e o MC5. Serviu de estopim para a explosão do punk em 76 e continua a ser contada até hoje, através de sua influência em diversas tendências do rock contemporâneo. Esta história tem um capítulo especial reservado para as "bonecas de Nova York".
No visual, os Dolls levavam às últimas conseqüências - beirando o escracho total - a androginia sugerida pelo glitter que se projetava nas figuras de David Bowie e Marc Bolan: maquilagem pesada, bijuterias e roupas femininas. Em termos musicais, foram essenciais no processo de criação de uma estética típica do rock nova-iorquino, que mais tarde floresceria nos trabalhos do Television, Talking Heads, Blondie, Ramones e outros.
Formado no fim de 71, o grupo era composto originalmente pelo vocalista David Johansen, os guitarristas Johnny Thunders e Rick Rivets, o baixista Arthur Kane e o baterista Billy Murcia. Logo, Rivets foi substituído por Sylvain Sylvain, e assim os Dolls começaram a se apresentar no cenário local, causando sensação. Em novembro de 72, durante a primeira tour inglesa da banda, Billy Murcia morreu de overdose, em Londres. De volta a Nova York, os Dolls só retornam à ativa no ano seguinte, já com Jerry Nolan na bateria.
Então, gravam seu álbum de estréia, com produção de Todd Rundgren (ex-Nazz), que contava com faixas antológicas como "Personality Crisis" e "Looking for a Kiss", que retratavam fielmente a fúria primitiva do som do grupo. Em 74, eles gravariam seu segundo e último disco "oficial", que, junto com o primeiro, tornaram-se legendários. Não menos legendário foi o nome escolhido para produzir Too Much Too Soon: George "Shadow" Morton, um dos grandes produtores do começo dos anos 60, criador das Shangri-Las e fundador da Red Bird Records, ao lado de Phil Spector, Jerry Leiber e Mike Stoller. Morton reforçou a vertente rhythm'n'blues da banda, que desta feita optou por inserir quatro covers entre as dez faixas do disco. Resultado: "Stranded in the Jungle" (sucesso do grupo vocal The Cadets, em 56), "(There's Gonna Be a) Showdown" (da dupla Gamble e Huff, mestres do soul da Philadelphia), "Don't Start Me Talkin'" (do bluesman Rice Miller, ou Sonny Boy Williamson) e "Bad Detective" (de K. Lewis) transformaram-se em clássicos instantâneos na interpretação dos Dolls. O material próprio do grupo também não deixava por menos, especialmente nas faixas compostas por Johansen e Thunders: "Babylon", "Who Are the Mystery Girls?", "It's Too Late" e "Human Being", que já soltavam as faíscas que originariam o incêndio que tomou conta do circo do rock dois anos depois.
Apesar da aclamação da crítica, tanto New York Dolls como Too Much Too Soon foram retumbantes fracassos comerciais, o que precipitou o fim da banda, depois de um curto período em que foram empresariados por Malcolm McLaren. Porém, Johansen e Sylvain continuaram a se apresentar como New York Dolls até 77, com vários músicos acompanhantes, até partirem para erráticas carreiras solo (assim como Thunders, depois de um breve período ao lado de Nolan nos Heartbreakers). Hoje em dia, Johansen atende pela alcunha de Buster Poindexter, um impagável entertainer. Das outras "bonecas", nenhuma mova notícia. Mas, seja como for, as marcas deixadas pelas "assassinas de batom" continuam vivas.
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Gêmeos
Pagou cinco anos adiantado das diárias. Pediu não ser incomodado. Não saía nunca daquele casulo com ar condicionado, cama macia e banheiro que funcionava bem. Tirou a televisão. Lia sempre o mesmo livro. Ficava nu o tempo todo. Deixou cabelo e barba crescerem. Cortinas fechadas. Fez um acordo para a limpeza do local. Uma vez por semana as camareiras entravam no quarto. Ele se trancava no banheiro. Depois, quando iam ao banheiro, ele se escondia embaixo da cama ou atrás da cortina. Quem entrava não podia falar. Perdeu a noção do tempo. O livro era a Biblia. Ganhou alguma coisa que não sabia direito. Um dia alguém bateu na porta e lhe disse: “É hoje!”. Ele colocou a mesma roupa com que tinha entrado há cinco anos. Não tinha engordado nem emagrecido com a comida frugal que lhe deixavam do lado de fora da porta no meio da madrugada. Saiu. O mar era mais mar. O céu, mais céu. O sol, a brisa. Viu beleza em todas as pessoas. As palavras eram sinfonias. Era isso mesmo que queria. Teve certeza, então, que escolhera o caminho certo – e não o da têmpora sendo invadida por uma bala de 38.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/12/25/horoscopo-354/
Gêmeos
Pagou cinco anos adiantado das diárias. Pediu não ser incomodado. Não saía nunca daquele casulo com ar condicionado, cama macia e banheiro que funcionava bem. Tirou a televisão. Lia sempre o mesmo livro. Ficava nu o tempo todo. Deixou cabelo e barba crescerem. Cortinas fechadas. Fez um acordo para a limpeza do local. Uma vez por semana as camareiras entravam no quarto. Ele se trancava no banheiro. Depois, quando iam ao banheiro, ele se escondia embaixo da cama ou atrás da cortina. Quem entrava não podia falar. Perdeu a noção do tempo. O livro era a Biblia. Ganhou alguma coisa que não sabia direito. Um dia alguém bateu na porta e lhe disse: “É hoje!”. Ele colocou a mesma roupa com que tinha entrado há cinco anos. Não tinha engordado nem emagrecido com a comida frugal que lhe deixavam do lado de fora da porta no meio da madrugada. Saiu. O mar era mais mar. O céu, mais céu. O sol, a brisa. Viu beleza em todas as pessoas. As palavras eram sinfonias. Era isso mesmo que queria. Teve certeza, então, que escolhera o caminho certo – e não o da têmpora sendo invadida por uma bala de 38.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/12/25/horoscopo-354/
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
POEMA DE NATAL
de Vinicius de Moraes
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
sábado, 22 de dezembro de 2012
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Libra
Os revólveres niquelados, cabos vermelhos, nos coldres e cinturão com
fivela prateada ficavam tão distantes quando o tal do Papai Noel. Na
vitrine da loja que ele tinha medo de entrar – e não sabia o por quê.
Estrela de xerife e da marca do brinquedo. Feliz Natal só nas músicas.
Um dia teve uma mesa com tudo em cima. Fez vira-vira com o vinho do
garrafão. Vomitou. Não ligou. Porque era assim. É assim. A história
pessoal. Tem mais? Ganhou seu presente anos depois. Tinha cor laranja.
Aro 28. Usada. Comprou com o dinheiro que juntou aturando bêbados no
balcão do boteco da esquina. Gostava do jeito com que alguns jogavam
bilhar. Principalmente quando as tacadas eram firmes e a bola acertava
nem rolava. Caçapa direto. Gostava de andar na rua de terra ao lado da
igreja do bairro. Plana, reta. Depois de algum tempo controlava
derrapagens. Freio de pé. Pedrinhas voando. Logo acima o campo de
futebol ao lado da delegacia. Entrou nos dois mais tarde. Para se
deslumbrar com alguns craques e detido por estar perdido no delírio
alcoólico. A igreja continuou longe, apesar de crer. Ninguém entende o
tanto faz quando organizam encontros familiares no fim do ano. Foi assim
que aprendeu. Sente saudade da bicicleta. Seu presente do Natal para
sempre.
A FRASE TEM DONO
A Fundação Cultural de Curitiba cometeu uma barbaridade. O
cartaz produzido para a ‘Oficina de Música’ que acontece em janeiro tem
uma frase bolada há dois anos pelo cartunista Solda e que ilustra toda
semana a chamada para o programa “Radiocaos”, que vai ao ar em Curitiba,
Rio de Janeiro e São Paulo. “Entra por um ouvido e não sai pelo outro”
virou slogan e é uma criação que, no mínimo, merecia pedido de
autorização para ser usada e, claro, o devido crédito, apesar de ter
sido colocada a palavra música no início da frase. Ainda dá tempo de se
reverter essa patuscada. Confiram a cópia e o original:
Foto de Maringas Maciel
Luis Solda
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
POEMINHA DE LOUVOR AO STRIP-TEASE SECULAR
de Millôr Fernandes
Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!
Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!
A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!
As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.
E a mania do sport
trouxe o short.
O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.
Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/12/19/poeminha-de-louvor-ao-strip-tease-secular-2/
Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!
Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!
A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!
As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.
E a mania do sport
trouxe o short.
O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.
Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/12/19/poeminha-de-louvor-ao-strip-tease-secular-2/
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
KEITH RICHARDS
Keith Richards nasceu no dia 18 de dezembro de 1943
A alma dos Rolling Stones é negra. Keith
Richards não fez o pacto como Robert Johnson na encruzilhada. Foi o
contrário. Esqueçam todas as histórias marginais. Ouçam, apenas. Jagger
entra de boca para o arremate, o complemento, mas a essência, ah, a
essência, está no som daquela guitarra que é caldeirão da mistura blues
com rock. As pedras rolam, o coração vai junto, requebra-se como se a
exorcizar todos os demônios a quem também temos simpatia. Porque é
assim, foi assim, será assim para sempre.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
O VERBO
Eu xingo a mãe do juiz
Tu amaldiçoas o bandeirinha
Ele atira garrafas em campo
Nós vamos parar no pronto-socorro
Vós sois presos em flagrante
Eles fizeram cinco gols
Tu amaldiçoas o bandeirinha
Ele atira garrafas em campo
Nós vamos parar no pronto-socorro
Vós sois presos em flagrante
Eles fizeram cinco gols
Solda de Holanda
SOLDA CÁUSTICO: http://cartunistasolda.com.br/2012/12/15/o-verbo
domingo, 16 de dezembro de 2012
O HOMEM ELEFANTE
John Merrick é o “ganha pão” de um homem de circo por ser vítima
de uma anomalia rara: neurofibromatose múltipla – a doença congênita que
causa crescimento anormal do sistema nervoso
Século XIX: “A vida é cheia de surpresas. Pense no destino da mãe dessa pobre criatura. Atacada no quarto mês de gravidez… por um elefante selvagem. Atacada numa ilha perdida… na África. O resultado está aqui. Senhoras e senhores… o terrível… Homem Elefante”! Era assim que o londrino John Merrick (interpretado por John Hurt) costumava ser apresentado no circo em que era exibido como atração. Tudo porque sofria de uma doença que deformou todo seu corpo, dando a ele, uma aparência de elefante.
Um dia, o Dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins) conhece John e resolve estudá-lo:
- “Obrigado. Boa tarde. Sr. Thomas, Sr. Rogers… Pode abrir as cortinas. É inglês e tem 21 anos. Seu nome é John Merrick. Senhores, no decorrer da minha vida profissional… encontrei as mais lamentáveis deformidades… causadas por acidentes ou doenças, e contorções do corpo de várias naturezas. Mas nunca encontrei versão mais degradante do ser humano. Chamo-lhes a atenção para o carácter insidioso da condição do paciente. Dá pra ver lá?”. – Ele estava apresentando John numa palestra para médicos.
- “Sim”. – Respondem os outros.
- “Notem a hipertrofia craniana. O membro superior direito, totalmente inutilizado. A curvatura alarmante da espinha. Quer virar, por favor? A frouxidão da pele e os fibromas que cobrem quase todo o corpo. E tudo indica que esse padecimento sempre existiu… e vem progredindo de modo acelerado desde o nascimento. O paciente também sofre de bronquite crônica. Um detalhe interessante. Apesar das mencionadas anomalias. Os órgãos genitais do paciente não foram afetados. O seu braço esquerdo é perfeito como podem ver. Devido à sua condição… papilomas como grandes massas penduradas na pele… a hipertrofia do membro superior direito e todos os seus ossos… a acentuada deformidade da cabeça… o paciente foi apelidado de Homem Elefante. Obrigado”.
(palmas)
The Elephant Man foi o primeiro filme reconhecido do diretor David Lynch, lançado em 1980 com oito indicações ao Oscar no ano seguinte. Em preto-e-branco é baseado numa história real de um órfão “ganha-pão” de Mr. Bytes (Freddie Jones). Baseado em uma história real, o roteiro conta a vida de Joseph Merrick, nascido em Leicester, Inglaterra em 1862. Joseph tinha dois anos quando sua mãe notou que o filho tinha algo estranho. O moço deixou a casa cedo e foi vendedor de rua, operário, mas só conseguiu ser reconhecido como um freak-show (espetáculo de aberrações). Serviu como “ganha-pão” de um homem que o apresentava num circo, e vivia em numa espécie de cativeiro e apanhava de seu “assessor de imprensa”. Ao ser encontrado pelo Dr. Treves, futuro médico da Família Real Britânica, é levado para morar num hospital e ter uma qualidade de vida melhor. Ser estudado. Nasce aí um vínculo de amizade entre os dois.
- “Num hospital não pode haver segredos. Um médico não acolhe um encapuçado sem suscitar comentários. Porque esse paciente não foi admitido formalmente? Porque está no isolamento?” Ele não é contagioso, é? – pergunta o diretor do hospital para o Dr. Treves.
- “Não senhor; ele tem bronquite e foi muito surrado”.
- “Porque então ele não está na enfermaria?”
- “Achei que os outros pacientes se chocariam”.
- “Então é isso? Devo concluir que ele é incurável?”
- “Sim, senhor.”
- “O senhor sabe que não aceitamos pacientes incuráveis. É a regra aqui”.
- “Eu sei disso senhor, mas este caso é excepcional”.
A criatura horrível até certo ponto diagnosticada como doente mental por não saber se expressar torna-se alguém amável, digna de atenção e carinho. Mesmo que em nenhum momento permaneça livre do monstruoso preconceito que o cercava.
Na maioria dos filmes, o personagem principal sempre se transforma. Em outros, aquele homem “durão” que nos conduziu até o final da trama permanece intactamente igual, deixa que sua mensagem fatal ou não disperse ou então sobressaia-se no meio do imenso cenário produzido. Mas em O Homem Elefante, o personagem principal se revela. É nessa revelação que ocorre uma aproximação do espectador com sua própria noção de realidade; tão sombria quanto à feiúra de John. Tão escandalosa e apelativa quanto ele.
Uma condução crítica de vida, de valores, de ética, de solidariedade, de sociedade… são colocadas através do apelo “surreal” dessa história. “O mundo tem que ser representado para ser reconhecido”: uma reflexão sobre invisibilidade social e humana, longe de ser invisível. Deveríamos, em certa medida, nos incluir nisso.
*Bibliografia
LYNCH, David. O Homem Elefante. 1980. Obs: as aspas dos diálogos usados na resenha foram retiradas do próprio filme.
MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & Pós-cinemas. 2. ed. Campinas – São Paulo: Papirus, 2002. p. 58 e 59.
Vale reparar que Lynch fez uso da técnica no filme O Homem Elefante.
Século XIX: “A vida é cheia de surpresas. Pense no destino da mãe dessa pobre criatura. Atacada no quarto mês de gravidez… por um elefante selvagem. Atacada numa ilha perdida… na África. O resultado está aqui. Senhoras e senhores… o terrível… Homem Elefante”! Era assim que o londrino John Merrick (interpretado por John Hurt) costumava ser apresentado no circo em que era exibido como atração. Tudo porque sofria de uma doença que deformou todo seu corpo, dando a ele, uma aparência de elefante.
Um dia, o Dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins) conhece John e resolve estudá-lo:
- “Obrigado. Boa tarde. Sr. Thomas, Sr. Rogers… Pode abrir as cortinas. É inglês e tem 21 anos. Seu nome é John Merrick. Senhores, no decorrer da minha vida profissional… encontrei as mais lamentáveis deformidades… causadas por acidentes ou doenças, e contorções do corpo de várias naturezas. Mas nunca encontrei versão mais degradante do ser humano. Chamo-lhes a atenção para o carácter insidioso da condição do paciente. Dá pra ver lá?”. – Ele estava apresentando John numa palestra para médicos.
- “Sim”. – Respondem os outros.
- “Notem a hipertrofia craniana. O membro superior direito, totalmente inutilizado. A curvatura alarmante da espinha. Quer virar, por favor? A frouxidão da pele e os fibromas que cobrem quase todo o corpo. E tudo indica que esse padecimento sempre existiu… e vem progredindo de modo acelerado desde o nascimento. O paciente também sofre de bronquite crônica. Um detalhe interessante. Apesar das mencionadas anomalias. Os órgãos genitais do paciente não foram afetados. O seu braço esquerdo é perfeito como podem ver. Devido à sua condição… papilomas como grandes massas penduradas na pele… a hipertrofia do membro superior direito e todos os seus ossos… a acentuada deformidade da cabeça… o paciente foi apelidado de Homem Elefante. Obrigado”.
(palmas)
The Elephant Man foi o primeiro filme reconhecido do diretor David Lynch, lançado em 1980 com oito indicações ao Oscar no ano seguinte. Em preto-e-branco é baseado numa história real de um órfão “ganha-pão” de Mr. Bytes (Freddie Jones). Baseado em uma história real, o roteiro conta a vida de Joseph Merrick, nascido em Leicester, Inglaterra em 1862. Joseph tinha dois anos quando sua mãe notou que o filho tinha algo estranho. O moço deixou a casa cedo e foi vendedor de rua, operário, mas só conseguiu ser reconhecido como um freak-show (espetáculo de aberrações). Serviu como “ganha-pão” de um homem que o apresentava num circo, e vivia em numa espécie de cativeiro e apanhava de seu “assessor de imprensa”. Ao ser encontrado pelo Dr. Treves, futuro médico da Família Real Britânica, é levado para morar num hospital e ter uma qualidade de vida melhor. Ser estudado. Nasce aí um vínculo de amizade entre os dois.
- “Num hospital não pode haver segredos. Um médico não acolhe um encapuçado sem suscitar comentários. Porque esse paciente não foi admitido formalmente? Porque está no isolamento?” Ele não é contagioso, é? – pergunta o diretor do hospital para o Dr. Treves.
- “Não senhor; ele tem bronquite e foi muito surrado”.
- “Porque então ele não está na enfermaria?”
- “Achei que os outros pacientes se chocariam”.
- “Então é isso? Devo concluir que ele é incurável?”
- “Sim, senhor.”
- “O senhor sabe que não aceitamos pacientes incuráveis. É a regra aqui”.
- “Eu sei disso senhor, mas este caso é excepcional”.
A criatura horrível até certo ponto diagnosticada como doente mental por não saber se expressar torna-se alguém amável, digna de atenção e carinho. Mesmo que em nenhum momento permaneça livre do monstruoso preconceito que o cercava.
Na maioria dos filmes, o personagem principal sempre se transforma. Em outros, aquele homem “durão” que nos conduziu até o final da trama permanece intactamente igual, deixa que sua mensagem fatal ou não disperse ou então sobressaia-se no meio do imenso cenário produzido. Mas em O Homem Elefante, o personagem principal se revela. É nessa revelação que ocorre uma aproximação do espectador com sua própria noção de realidade; tão sombria quanto à feiúra de John. Tão escandalosa e apelativa quanto ele.
Uma condução crítica de vida, de valores, de ética, de solidariedade, de sociedade… são colocadas através do apelo “surreal” dessa história. “O mundo tem que ser representado para ser reconhecido”: uma reflexão sobre invisibilidade social e humana, longe de ser invisível. Deveríamos, em certa medida, nos incluir nisso.
*Bibliografia
LYNCH, David. O Homem Elefante. 1980. Obs: as aspas dos diálogos usados na resenha foram retiradas do próprio filme.
MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & Pós-cinemas. 2. ed. Campinas – São Paulo: Papirus, 2002. p. 58 e 59.
Observações:
O “personagem” real morreu de asfixia em 1890, quando foi deitar para dormir, o peso da cabeça esmagou a traquéia. Seu corpo está conservado no Hospital Real Londres – a quem interessar possa.Anamorfose
A produção de alucinações teve início no século XVII, com o conceito de Anamorfose; um instrumento gerador de alucinações cujas técnicas constituem em um deslocamento do ponto de vista a partir do qual a imagem é visualizada, sem eliminar a posição anterior, decorrendo num desarranjo de perspectivas originais com a idéia de distorcer o padrão “realista” (renascentista) da técnica. Mas abrangeu uma poética da abstração, um efetivo mecanismo de ilusão de ótica, e até mesmo “uma filosofia da falsificação da realidade”. (Baltrusaitis 1977, p.1).Vale reparar que Lynch fez uso da técnica no filme O Homem Elefante.
*A resenha do filme O Homem Elefante foi publicada por Mayra Matuck Sarak, editora do site Uma Tela Indiscreta.
sábado, 15 de dezembro de 2012
INCÓLUME
Eu me envenenei com minha vaidade e pelas idades fui até o alto da montanha para olhar os considerados estúpidos e vis em um lugar em que não me caberia estar. Mas lá estava eu, sozinha e sem correntes, livre e com todos os graus de um ser inteligente, que usou sua inteligência para se impor. E assim eu esqueci de meus pés, assim como usei minhas mãos apenas para retirar as pedras do caminho. Esqueci os que vinham atrás e as atirei sem cuidado. Não olhei para trás, como reza a velha sabedoria, ato que muitas vezes pode se tornar um equívoco. O grande erro é que não me recordo porque caminhei, para que e o que esperava ver do alto da montanha. Fixei-me na ideia de chegar e de me testar e esqueci de apreciar, de me perdoar por errar, de reinventar novos caminhos e de me abrir para o que poderia acontecer. Peguei o meu cajado e trilhei até o topo. Cheguei, me extasiei e esqueci de caminhar novamente ao vale para contar aos curiosos, aos bons, aos perdidos, aos loucos e santos que existe sim um lugar onde se é livre de verdade, onde o coração se transforma no próprio coração do Universo e canta a canção dos infindos tempos. E cá estou eu, escrevendo esta declaração da dor mais triste que um ser pode sentir, que é a de se esquecer dos outros, de tudo, do que realmente vale a pena. E de que não há realização sem união.
Hoje estou na planície, como uma ave que busca seu alimento na terra e se esquece do céu. Mas, por saber de tudo isso, ainda me pego sonhando com a grande liberdade que me arrebatou e que hoje é a minha própria prisão.
Sem inspiração não há imaginação que sobreviva ao primeiro revés da vida. Sem amor não há quem sobreviva ao primeiro maremoto. Sem luz, não há espírito que grite no escuro por medo da solidão. Sem angústias, não há pulmão que se encha de esperança. E mesmo que a mente seja o nosso ambíguo amigo, não há caminho que se faça sem uma força que está além da montanha.
Obs.: quando menciono cajado, não é uma apologia a profetas, mas sim uma metáfora do quanto necessitamos caminhar com algo que nos dá apoio externamente (família, drogas, festas, trabalho, paixões, enfim, nossos apegos), ou seja, o quão difícil é caminhar sobre nossas próprias pernas para alcançar nossas metas.
FONTE: http://paradoxodoser.blogspot.com.br/2012/12/incolume.html