Libra
Os revólveres niquelados, cabos vermelhos, nos coldres e cinturão com
fivela prateada ficavam tão distantes quando o tal do Papai Noel. Na
vitrine da loja que ele tinha medo de entrar – e não sabia o por quê.
Estrela de xerife e da marca do brinquedo. Feliz Natal só nas músicas.
Um dia teve uma mesa com tudo em cima. Fez vira-vira com o vinho do
garrafão. Vomitou. Não ligou. Porque era assim. É assim. A história
pessoal. Tem mais? Ganhou seu presente anos depois. Tinha cor laranja.
Aro 28. Usada. Comprou com o dinheiro que juntou aturando bêbados no
balcão do boteco da esquina. Gostava do jeito com que alguns jogavam
bilhar. Principalmente quando as tacadas eram firmes e a bola acertava
nem rolava. Caçapa direto. Gostava de andar na rua de terra ao lado da
igreja do bairro. Plana, reta. Depois de algum tempo controlava
derrapagens. Freio de pé. Pedrinhas voando. Logo acima o campo de
futebol ao lado da delegacia. Entrou nos dois mais tarde. Para se
deslumbrar com alguns craques e detido por estar perdido no delírio
alcoólico. A igreja continuou longe, apesar de crer. Ninguém entende o
tanto faz quando organizam encontros familiares no fim do ano. Foi assim
que aprendeu. Sente saudade da bicicleta. Seu presente do Natal para
sempre.
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