Sagitário
Andava sempre no meio-fio. Desde que se entendia por gente. Um dia
pensou em desafio a alguma coisa. Não sabia o quê. Cresceu, assim como o
número de veículos e loucos na cidade grande. Continuou ali, respirando
monóxido, sendo encharcado nos dias de chuva. O deslocamento de vento
causado por caminhões às vezes o fazia perder um pouco o equilíbrio. Ele
ria. Até o dia do susto. Um poodle de madame latiu na sua orelha. O
coração apertou e o medo adentrou. Tinha quarenta anos. Passou a andar
na calçada e demorava muito para atravessar as ruas livres ou com o
semáforo o protegendo. Seu medo era um só: um dia, o problema mecânico
vai fazer o estrago fatal. Sentia isso principalmente quando andava na
mesma direção do fluxo. A morte era como uma sombra vindo para entrar
nas suas costas. Evitava ao máximo sair de casa. Nunca teve um carro. Um
dia resolveu comprar. Um grande, robusto. Na primeira saída viu que a
maioria dos carros tinha um cachorro dentro. Notou que eles só latiam
para quem andava a pé nas calçadas. Sentiu-se seguro. Comprou um
pittbull. Estava feliz com o bicho até que foi mordido na nuca enquanto
dirigia. Não morreu. Perdeu a voz. Não sai mais do quarto. Colocou uma
placa de trânsito na porta. Proibido seguir em frente.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/2012/07/12/horoscopo-342/
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/2012/07/12/horoscopo-342/
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