sábado, 4 de maio de 2013

CABEÇA DE PEDRA

Engaje-se


Por que deveria me engajar se não consigo isso nem no simples ato de viver? Sempre haverá dúvidas. Desde que o micróbio do pensamento se fez revelar para alguma coisa que chamamos de alma, ou este ser com quem conversamos, porque sempre somos dois, às vezes, três, meia dúzia, um milhão, ou nada, desde este primeiro contato com todo o resto, a dúvida veio junto. O que estamos fazendo aqui? O antes de nascer é o mesmo que depois de morrer. Pensamento perfeito, porque é essência da dúvida. O durante a existência é uma guerra tão feroz por dentro e por fora, que o melhor é... é o que mesmo? Ser Dorival Caymmi é uma saída, pelo menos no que entendemos o que é ser este baiano, como se ele não penasse, não sofresse, não tivesse dúvidas sobre o próprio talento, não traísse a si mesmo e aos outros, não pensasse em matar alguém e como seria depois. Engaje-se, me cospe na cara umas letras num papel que jogaram no quintal de casa - papel este que eu pago para que joguem, mesmo sabendo que ele só me traz notícias sobre crápulas de todas as espécies. Mas... seriam crápulas? Eles podem estar certos, mesmo porque os que se parecem anjos são os piores. Não, não quero me engajar seja lá no que for, porque estou enganchado numa coisa chamada vida e ela está furando o meu pescoço.


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