sexta-feira, 28 de junho de 2013

RENOIR






MANOEL DE BARROS

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

GINGER BAKER

DRUM SOLO


The Cream: Ginger Baker - Jack Bruce - Eric Clapton: T O A D
Farewell Concert 1968

HORÓSCOPO

Escorpião

Alugou o quarto vagabundo no hotelzinho que um dia foi o tal no centro da cidade. Era barato. Servia para vários propósitos. Um deles era nostálgico. Sempre passou ali e imaginou os velhos tempos que não voltam mais. Francisco Petrônio canta na mente dele de vez em quando. O outro era ficar fora de casa porque o uso da droga daquela maneira não era bem vista nem entre os drogados. Pagou, subiu, entrou no quarto, se trancou, preparou a primeira dose e o baque foi tão pesado que ele emborcou feito um pequeno navio que é alvejado na proa. Não era over, mas quase. Droga da boa, pensou. Boa para ter paranoia, que veio como se uma tropa de elite estivesse no corredor com armas apontadas e vontade de estourar a porta e metralhar. Tomou outra. Diminuiu a dose. Então ele viu um buraco no alto de uma parede. Imaginou ouvir vozes. Subiu na cama. Quis olhar. Não conseguiu. Ficou imaginando que do outro lado havia um casal ou vários. Não distinguia o que falavam. Eram vozes do passado. Tinha certeza. Daqueles que se recusaram a sair dali para viver o progresso da cidade. Ele concordou. E também ficou. Falando com o buraco da parede.

Zé da Silva

FOTOS

FAUNA EM MEU QUINTAL







Fotografias de Ricardo Silva

JOE MACGOWN







RUBENS JARDIM


ATÉ QUE ENFIM
NÃO DEI EM NADA
DEI EM MIM

terça-feira, 25 de junho de 2013

SOPHIA LOREN





CABEÇA DE PEDRA

De olho na testa

Cavalguei na nuvem. Era cinza. Rarefeita. Caí pra cima. 
O sol queimou minha testa. 
Um olho surgiu no meio. Pude ver deus. Ele era disforme. 
Falou como se fosse gente. 
Disse que viver é sofrer. Alegria é para imbecis. 
Mandou voltar. O travesseiro aparou minha queda. 
Alguém cutucou a sola do pé. Hora do trabalho.

CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/06/de-olho-na-testa.html

segunda-feira, 24 de junho de 2013

domingo, 23 de junho de 2013

MUNGO JERRY

In the summertime



O DESTINO DO GÊNIO


Em certos os casos, quanto mais nobre o gênio, menos nobre o destino.
Um pequeno gênio ganha fama,
um grande gênio ganha descrédito,
um gênio ainda maior ganha desprezo;
um deus ganha crucificação.



Fernando Pessoa

CARL BARKS

Carl Barks (MerrillOregon27 de Março de 1901 — 25 de Agosto de 2000) foi um ilustrador dos estúdios Disney e criador de arte seqüencial, responsável pela invenção de Patópolis e muitos de seus habitantes: Tio Patinhas (1947), Gastão (1948), Irmãos Metralha (1951), Professor Pardal (1952) e Maga Patalójika (1961), entre outros. A qualidade de seus roteiros e desenhos lhe rendeu os apelidos O Homem dos Patos e O Bom Artista dos Patos. O autor de quadrinhos Will Eisner chamou-o de "Hans Christian Andersen dos quadrinhos".






sábado, 22 de junho de 2013

A TÁBUA DE ESMERALDA

O álbum da bela capa acima é A Tábua de Esmeralda (1974), com certeza o melhor disco que Jorge Ben gravou. Depois de lançar a coletânea Dez Anos Depois, que incluía tríades de pout-pourris de letras fáceis, como “A Minha Menina/Que Maravilha/Zazoeira” ou ” País Tropical/Fio Maravilha/Taj Mahal”, Jorge queria buscar uma filosofia para sua música. Uma filosofia que não o deixasse fugir de suas raízes – como o samba-rock – e o swing de suas melodias. Mas, para isso, ele precisava focar em algo mágico. E acabou caindo pra alquimia.
Jorge queria gravar um álbum apenas com músicas que transmitissem essa influência que ele pegara no ar. Contactou a Phonogram, mas eles não curtiram muito a ideia. Entretanto, um álbum que enfatizasse a crença milenar alquímica tinha agradado o gerente da gravadora André Midani. E ele confiou na maestria de Jorge.
Aliás, não dava pra negar experimentações musicais pro negro que mais se destacou na música popular desde o lançamento de seu revolucionário jeito de tocar com Samba Esquema Novo, de 1963. Tudo na viola de Jorge soava dançante. Foi assim que iniciou com os primeiros sucessos “Mas Que Nada” e “Chove Chuva”. E estava criado o conceito de samba-rock.
Agora, um samba-alquimista? Possível? Sim, e com muita grandiosidade musical. Nunca a viola de Jorge Ben soou tão original, tão prolífica e eficiente como em A Tábua de Esmeralda. “Os Alquimistas Estão Chegando”, primeira canção, dá o ar de ser um álbum ‘ao vivo no estúdio’. Começa com as falas de Jorge dando os preparativos: “Salve… não, não, senta, pra sair legal. Tem que dançar dançando…”. É tão descompromissado que a música vem de uma forma natural, como se fosse absolutamente associável ao artista. E faz sentido a frase ‘estão chegando os alquimistas’, mas o que realmente impressiona é a voz de Jorge. Quando canta “eles são discretos e silenciosos”, da primeira faixa, de forma estonteante se segue uma percussão muito bem encaixada, unindo os elementos musicais ao culto alquímico.
Seguindo a mesma linha de “As Rosas eram Todas Amarelas”, de seu álbum de estúdio anterior,Ben (1972), a segunda faixa, “O Homem da Gravata Florida”, é uma bem humorada canção que traz o apreço pela beleza, algo que Jorge sempre ressalta em suas canções sem soar enjoativo. “Eu Vou Torcer” também é um grande exemplo de como o cantor traz elementos diferenciados sem deixar de ser brasileiro. Talvez o mais brasileiro dos músicos.
“Errare Humanum Est” é praticamente uma psicodelia espacial. Jorge Ben canta como se realmente estivesse na atmosfera, revelando o interesse dos alquimistas pelo conhecimento das estrelas. Quem já leu o excelente livro de Gabriel García Marquez, 100 Anos de Solidão, conseguirá associar com facilidade essa viagem alucinante de Jorge Ben e suas seis cordas com os misteriosos conhecimentos dos pergaminhos de Melquíades. Como se o conhecimento fosse algo que está além da localização geográfica do homem. “E que se pode voar sozinho até as estrelas-las-las-las-las/Ou antes dos tempos conhecidos/Vieram os deuses de outras galáxias-as-as-as-as-as/Em um planeta de possibilidades impossíveis…“. Fabuloso.
Outra bela contribuição da alquimia é a canção “Hermes Trismegisto e Sua Celeste Tábua de Esmeralda”, escrita em parceria com Fulcanelli. Parece surreal quando Jorge diz ver “as três partes da filosofia universal”. Muito além de surreal, parece um delírio, algo totalmente fora da normalidade. É como se Hermes, o personagem da canção, fosse o escolhido para disseminar o conhecimento milenar e Jorge Ben assimilasse muito bem essa divindade com seus acordes únicos e sua entrega vocal à alquimia. Uma interpretação fora do comum.
Mas a grande reserva mesmo de Jorge Ben está em “Cinco Minutos”, última faixa do álbum. Aqui a interpretação de Jorge beira o impossível, o inimaginável (Jorge quem escreveu todas as letras do álbum). A canção fala de um encontro com uma mulher que não deu certo. Mas a voz de Jorge soa tão verdadeira, que realmente parece que ele preparou uma peça de teatro. Jorge consegue tornar o momento real, como se estivesse se lamentando pela perda do encontro de forma excêntrica – e ao mesmo tempo pueril – porque sua desejada não quis ‘esperar cinco minutos’. Jorge consegue ser mais emocional que técnico, sem deixar de lado sua habilidade como violonista, que se torna explícita em cada canção de A Tábua de Esmeralda.
Sem esquecer sua condição de negro de raízes escravocratas, Jorge exalta com orgulho o grande revolucionário na faixa “Zumbi”. E não deixa de lado as nações africanas que também contribuíram para a formação da miscigenação brasileira, ao citar Angola e Congo. É uma negritude que Jorge sabe que está incorporada; e ninguém mais adequado para representar essa força racial que Zumbi dos Palmares.
Isso sem contar as suas belas narrativas para a mulher brasileira, como “Menina Mulher da Pele Preta” e “Magnólia”, que sempre soaram magistrais na voz do cantor.
Ou seja, o potencial de Jorge se multiplica em uma obra só. Alquimia, negritude, positivismo, interpretação vocal, belas melodias… Talvez o álbum seja a principal reinvenção de Jorge, porque ele criou um clima de descontração e um ambiente fluido para que a música soasse nova sem deixar de soar como Jorge, unanimidade da música brasileira que consegue incorporar diversos elementos musicais com uma condição: que o tempero musical realce a unicidade da música brasileira.

Tiago Ferreira

quinta-feira, 20 de junho de 2013

GRACILIANO RAMOS

Gostamos de um gato, de um cachorro, de um papagaio, mas não suportaríamos esses bichos se eles pensassem de maneira diferente da nossa. Sei bem que sou ilógico, pois o pensamento é conseqüência; a conseqüência tornou-se causa, leva-me a proceder desta ou daquela maneira, desejar mortandades. Se o capitalista fosse um bruto, eu o toleraria. Aflige-me é perceber nele uma inteligência, uma inteligência safada que aluga outras inteligências canalhas. Esforço-me por alinhavar esta prosa lenta, sairá daí um lucro, embora escasso – e este lucro fortalecerá pessoas que tentam oprimir-me. É o que me atormenta. Não é o fato de ser oprimido: é saber que a opressão se erigiu em sistema.

HAJIME SORAYAMA






quarta-feira, 19 de junho de 2013

Albert Collins & Clarence "Gatemouth" Brown

Frosty



OS 12 MACACOS

(Twelve monkeys, 1995, Universal Pictures, 129min)



Direção: Terry Gilliam. Roteiro: David Peoples, Janet Peoples, roteiro original de Chris Marker. Fotografia: Roger Pratt. Montagem: Mick Audsley. Música: Paul Buckmaster. Figurino: Julie Weiss. Direção de arte/cenários: Jeffrey Beecroft/Crispian Sallis. Produção executiva: Robert Cavallo, Robert Kosberg, Gary Levinsohn. Produção: Charles Roven. Elenco: Bruce Willis, Madeleine Stowe, Brad Pitt, Christopher Plummer, David Morse, Christopher Meloni. Estreia: 27/12/95


2 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (Brad Pitt), Figurino
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Brad Pitt)





Quando os estúdios de Hollywood passam por crises criativas - e isso ocorre com uma frequência alarmante - o jeito é apelar a qualquer ideia que possa transformar-se em um filme razoavelmente interessante. Refilmar obras estrangeiras, então, passou a ser uma opção recorrente para sanar os bloqueios artísticos ianques. Foi assim com "Sommersby, o retorno de um estranho", que diluiu o impacto do original com Gerard Depardieu e com "True lies", que melhorou bastante o original francês, adicionando muito mais humor e ação à sua trama original. Em 1995, o prestigiado Terry Gilliam provou que até mesmo cineastas mais conhecidos por sua ojeriza ao sistema também fazer concessões ao comercial. "Os doze macacos" é a releitura do curta-metragem francês "La jetèe", lançado em 1962, mas sob a ótica de um dos fundadores do Monthy Phyton - e realizador do onírico "Brazil, o filme" - apenas a ideia central do original se mantém intacta.




Gilliam nem mesmo assistiu ao curta francês, dando atenção exclusiva ao roteiro distópico de David e Janet Peoples, que amplia a ideia complexa de viagens no tempo. Livre das amarras de ter que realizar uma refilmagem no sentido mais pleno do termo, o cineasta encontra espaço o bastante para suas excentricidades visuais - que encontra a expressão exata na direção de arte claustrófica e no figurino de Julie Weiss, indicado merecidamente ao Oscar. Explorando com perfeição a fotografia expressionista de Roger Pratt e a trilha sonora vibrante de Paul Buckmaster - que conquista a plateia já nos créditos iniciais, com um tango arrebatador que retorna sempre nos momentos mais emocionantes -  Gilliam faz mais do que apenas divertir sua audiência: ele a faz exercitar o cérebro, deixando-a com um ponto de interrogação até suas (tensas) cenas finais.



De acordo com a trama do filme, a população da Terra será dizimada por um vírus fatal, que vitimará mais de 5 bilhões de pessoas no ano de 1996. Em um futuro não determinado, um grupo de cientistas resolve enviar um apenado para alguns meses antes da pandemia, para que ele colete dados que possibilitem uma reversão da tragédia. O escolhido é o violento James Cole (Bruce Willis), que, mesmo sem saber direito em que consiste sua missão, vai parar em Baltimore, Atlanta, no ano de 1990 por um erro de cálculo. Preso como indigente, ele trava conhecimento com a psiquiatra Kathryn (Madeleine Stowe) e, no hospital onde é internado, com o alucinado Jeffrey Goines (Brad Pitt), filho de um conhecido virólogo. Depois de um retorno antecipado a seu período de origem, logo Cole volta à Terra, dessa vez realmente para o ano correto. Ao lado de Kathryn, Cole tentará impedir que o exército de ecoterroristas liderados por Goines - chamado de 12 macacos - libere o vírus que destruirá a humanidade.



Propositalmente confuso - talvez como forma de identificar a plaeia com seu protagonista atônito e quase impotente diante de um cataclisma de proporções gigantescas - "Os 12 macacos" força o espectador a estar atento durante toda a sua duração, uma vez que dá detalhes visuais, auditivos e verbais de seu desfecho a cada instante. Cada linha de díálogo e cada imagem são importantíssimos para que a experiência seja compreendida de todo. E é bem possível que essa necessidade de comprometimento extra com o cérebro que tenha sido a responsável pela bilheteria abaixo do esperado no mercado norte-americano. Para um filme que unia Bruce Willis com o ascendente Brad Pitt - vindo de sucessos consecutivos - uma renda de menos de 60 milhões, ainda que respeitável, soou como um pequeno fracasso comercial. Fazer o que se o público prefere filmes-pipoca com roteiro qualquer nota?


"Os 12 macacos" é uma aventura de ficção científica que foge dos padrões a que todos estamos acostumados. Não busca a aprovação da plateia com sequências de tirar o fôlego nem tampouco a confunde com termos absurdos inventados por fãs de "Star Trek" ou "Star Wars". É um suspense aterrador, que, apesar do tom negativista que imprime em quase toda a sua duração - graças ao visual feio proposto pelo desenhista de produção - termina com uma lufada de otimismo e e alívio. E ainda mostrou que, além de um galã feito sob medida para o século XXI, Brad Pitt é também um ator seguro e competente, que não se importa em abdicar de sua beleza para construir uma personagem forte e marcante.

FONTE: http://clenio-umfilmepordia.blogspot.com.br/2011/02/os-12-macacos.html

CABEÇA DE PEDRA

PARIDO

Aquela terra seca me pariu e brotei feito mandioca, manga, goiaba, caju, pinha, mandacaru, umbu, jaca mole e jaca dura, punhal de prata, papo amarelo, parabelo, poeira, açude, mar verde, cabeça chata, pele trincada, olho duro, testa larga, mãos calejadas, cavalo xucro, bezerro desmamado, caatinga, gibão de couro, chapéu de cangaceiro, fala cantada, nome melódico, protegido de padim ciço romão batista, pau de arara, xexéu de bananeira, carcará, cassaco, buchada, forró, a benção meu pai e minha mãe.

CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/06/parido.html

terça-feira, 18 de junho de 2013

FOTOS







Fotografias de Ricardo Silva