quinta-feira, 14 de agosto de 2014

CABEÇA DE PEDRA


Em miúdos


Viu pela primeira vez quando era criança. Matadouro. O bicho entrava no corredor como se do outro lado estivesse o pasto mais verde e tenro do Planeta. De repente a marreta descia bem no meio da testa – e tudo estava acabado. Mais um pouco e ele estava esquartejado e pendurado em ganchos nos açougues da cidade de porte médio. A cena foi tão forte que produziu o seguinte: alguns anos depois o rapaz empunhava aquela mesma marreta; e o som da pancada soava como música para a alma dele. Era um especialista renomado, mesmo porque não errava uma. Mas não comia carne. Ninguém perguntava o motivo. Num dia de folga encontrou a amada no parque de diversões. Ficaram encantados um pelo outro. Na primeira oportunidade ele levou-a para conhecer a sua profissão. Ela desmaiou antes de a marreta atingir o meio dos olhos do bicho. Quando acordou, ele perguntou o que tinha acontecido. Ela: “Trocando em miúdos, coração, por favor”.


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