quarta-feira, 6 de agosto de 2014

NO PAÍS DAS BESTAS-FERA


por Roberto José da Silva

E olhamos tudo com a ingenuidade e a passividade que resulta sempre em amputações. Arrancam nossos braços a dentadas e riem debochados sob o disfarce da seriedade e a desfaçatez de que estão trabalhando para o nosso bem. Arrancam nossos corações e ainda pedem mais comida, porque são feras, ou melhor, bestas-feras insaciáveis.

Estão protegidos pelas grades do que chamam poder, pairam acima do bem e do mal, elaboram leis que os protegem da turba que está ali, do outro lado, passiva pela ignorância da falta de senso crítico, a assistir diariamente o espetáculo dantesco como se fosse mais um show televisivo com estes artistas que se enganam com a própria enganação.

Há, sim, uma primeira barreira que não pode ser ultrapassada sob o risco da violência das forças policiais que protegem estes seres para a manutenção da lei e da ordem. Mas eles, sim, eles podem avançar para se alimentar do sangue, do suor, do fruto do trabalho da manada de seres que estão ali como que, lobotomizados, estão ali hipnotizados pela beleza enganadora e os rugidos destes bichos.

Em períodos como o de agora, quando precisam do aval dos idiotas para se manterem naquela posição, como seres transformistas, aparecem como gatinhos indefesos ou anjos salvadores. Depois de conseguirem o que querem, voltam a ser bestas-feras.

O público, ah, esse continua sendo o menino ingênuo constantemente atacado sem saber que pode mudar tudo pelo simples fato de que um animal não tem o que fazer quando confrontado por todos de uma vez.


*Publicado no site A Gralha (www.agralha.com.br)

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