quinta-feira, 6 de agosto de 2015

CABEÇA DE PEDRA


Preso

Eles entraram arrombando a porta. Um helicóptero pairava sob o terraço do prédio. Alguns desceram dele, deslizando em cordas. Homens de preto. Só os olhos de fora. Alucinados. Armas modernas apontando e gritos histéricos inundando o ambiente. O café ainda estava quente na xícara. Não consegui dar um único gole. Não me apavorei. Esperava isso. Sentado, ergui os dois braços e espalmei as mãos. Dois gorilas as seguraram, colocaram para trás e me algemaram. Não leram meus direitos. Isso é coisa de filme americano. Desci pelo elevador cercado por dez. A rua em frente ao prédio estava com o trânsito interrompido. Mais policiais, armas, cães mostrando os dentes. Me colocaram no banco de trás da barca. Era assim que a gente chamava as viaturas no tempo de colégio e maconha. Foi a primeira vez que fui transportado assim. Ao chegar na dependência policial havia um batalhão de carniceiros. Tom Wolfe rotulou assim os repórteres em seu clássico "Os Eleitos". Sorri para os que conhecia. O delegado mandou tirar as algemas. Meu advogado chegou em seguida. Estava com o terno Armani que gosta. O perfume não identifiquei. Ele cochichou algo para o manda-chuva. Ele me mandou sair pelos fundos. Voltei para casa. Tive de fazer um café novo.

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