por Yuri Vasconcelos Silva
Em ocasiões muito específicas, todos se tornam um. Para o bem ou para o mal, a coletividade conecta todos os indivíduos através de um curioso campo wi-fi transpessoal – e sincroniza as respostas emocionais em uníssono conforme o estímulo. Para o mal, sabe-se o que acontece quando a turba se enfurece ou quando um doido feito Hitler fala bonito para uma massa em desespero. Já no lado da luz, este efeito pode ser provocado e premeditado para o bem, como em uma música dos Rolling Stones com Mick Jagger se contorcendo em um palco no meio do Maracanã. Ou de forma aleatória em uma partida do Fla-Flu no mesmo coliseu, onde o palco se transforma em gramado e o astro é a bola. O refrão bem conhecido de Jagger amplificado em milhares de decibéis que se expandem sobre e através da multidão, certo de que carrega um significado pessoal e intransferível, ascende em cada um. Sai daquela salinha escura, que todos têm dentro da alma, e explode na poesia cantada, de olhos fechados e talvez com os braços jogados ao alto, junto a outras milhares de vozes em volta.
Quando fui ao cinema na madrugada do primeiro minuto do dia 17 de dezembro buscava a mesma sensação. Era a pré estréia de Star Wars – O Despertar da Força. Acredito ter assistido três dezenas de vezes cada um dos episódios da primeira trilogia, iniciada na década de 1970. No lançamento da segunda trilogia, estive na fila da primeira exibição com boa parte da minha turma da faculdade. Nesta ocasião, organizei a compra de todos os ingressos de uma sala para que meus colegas estivessem naquela histórica exibição. Deu certo.
Para o lançamento desta nova trilogia, o trajeto pelo shopping vazio com lojas fechadas me deu uma tola sensação de exclusividade. Somente aqueles de posse do ingresso poderiam estar ali. O saguão já acumulava filas para pipoca com dois ou três Jedis na espera. Os cartazes e displays gigantes de promoção do filme eram o pano de fundo para selfies e fotos em grupo. Faltando 40 minutos para o início do filme, o saguão já não comportava mais tantos Jedis e Siths empunhando seus sabres de luz. Ansiedade e expectativa eram sentimentos compartilhados silenciosamente, em trocas de olhares entre desconhecidos.
Não sei como conseguiram, mas absolutamente nada havia vazado sobre a trama. A produção deve ter contratado a mesma equipe de contenção que guarda os segredos da Apple. Quando as salas foram abertas, finalmente estávamos a caminho daquele lugar muito, muito distante. Quando a marca de George Lucas – agora pertencente à Disney – apareceu, o silêncio tomou conta da sala e da escuridão. Os acordes clássicos da fanfarra de Star Wars, obra do impecável compositor John Williams, estouraram no sistema de som enquanto o início deste capítulo nos situava através do letreiro laranja que seguia em direção ao espaço infinito à nossa frente.
Enfim, as primeiras informações. Neste momento, asseguro que a emoção era equivalente à Mick Jagger cantando Sympathy for the Devil, só que em uma versão nerd. O interessante não era apenas sentir aquilo, mas saber que cada uma daquelas estranhas pessoas estavam na mesma sintonia. À medida que o filme transcorria, as surpresas cuidadosamente planejadas por JJ Abrams nos arrebatava, perceptível através dos suspiros, movimentos e sons não contidos emitidos pela audiência. Estar no meio deste público me pareceu tão familiar quanto estar na sala de minha casa. Trata-se, na verdade, da sensação buscada quando se opta estar em determinado grupo, para determinado evento onde um elemento singular conecta a todos. Neste caso, uma fábula que constará algum dia no futuro como um dos símbolos que definiu o ocidente do século XX. Mesmo que não passe de uma história sobre a família mais barraqueira da galáxia. Os Skywalkers.
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