sábado, 28 de abril de 2012

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Sagitário

Sobrevivia de fotos antigas. Não, não comercializava, nem tinha coleção. Procurava por aí, em museus, revistas e livros de sebos. Gostava de viver naqueles locais, imaginar como se chamavam e o que faziam as pessoas retratadas, principalmente a de flagrantes. Ouvia o som dos carros, as conversas, penetrava nos edifícios, percorria corredores, comia nos restaurantes, dançava nas boates, mergulhava e nadava em rios limpos que cortavam cidades. Morava num quarto de fundos que a família reservou e o colocou lá porque achavam que era esquisito demais. Nunca trabalhou porque… não tinha tempo. Seu campo de ação se resumia à cidade onde nasceu. Emoções não faltavam. Subiu a serra do mar no lombo de burro, recepcionou imigrantes, participou da construção dos primeiros edifícios. Às vezes saía para procurar resquícios do seu mundo particular. Ainda encontrava alguma coisa. Um dia telefonaram para sua casa. Foram buscá-lo, catatônico, na porta giratória de um banco inglês que se instalara no prédio centenário. Se recusava a sair. Depois, passou meses repetindo “digite a sua senha”. Quando parou, queimou todo o arquivo. Agora percorre a cidade atrás de bandas de garagem. A família acha que ele está melhorando.


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