BRASIL BICAMPEÃO MUNDIAL DE FUTEBOL
Em pé, da esq. para dir.: Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro; agachados: Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo*
Por Roberto José da Silva
Com oito anos de idade o menino sabia que aquele 17 de julho de 1962
tinha sido importante para alma do povo, do seu povo, daquele bairro.
Durante os noventa minutos de uma partida de futebol jogada numa país
distante, cujos lances chegavam pelas ondas do rádio, algo que ele não
entendia, mas achava mágico, as jogadas do escrete canarinho, como lera
numa capa da revista Cruzeiro, era descrito jogando bola contra a
Tchecoslováquia pela voz de Pedro Luis, na rádio Bandeirantes. Brasil
está vazio na tarde de domingo, alguém cantou anos mais tarde. O céu era
de um azul anil de hino. E foram três gols contra um. E Mauro Ramos de
Oliveira repetiu o gesto de Bellini quatro anos antes, na Suécia. E ali
estavam em campo os deuses da primeira conquista mundial, menos o Rei,
cuja contusão deixou o país inteiro sob suspense. Será que vai dar sem
Ele? Mas havia um outro Rei, o das pernas tortas, o Mané, o Garrincha, o
brasileiro mais brasileiro e humilde que já atravessou todos estes
campos e era a alegria em forma de drible, era a nossa alegria – e por
isso mesmo foi embora soterrado pela doença ainda incompreendida, a da
dependência do álcool. Mas esse menino fez aquilo que a gente sempre
ouve hoje no clichê clássico de comentaristas, narradores e repórteres
esportivos: assumiu para si a responsabilidade. Hummmm. Garrincha saiu
da ponta direita, seu território demarcado, para mostrar que era gênio
chutando de esquerda, cobrando falta, entrando pelo meio, dando passes,
enfim, ele foi o homem que ganhou a Copa do Mundo, para usar outro
clichê, como fariam depois Pelé em e Maradona, classificados na
categoria gênios da bola como ele. O menino lembra do terceiro gol, que
depois viu no videotape da TV Tupi: Zito subindo embaixo do gol para
aparar a bola cruzada da esquerda, com a classe que Deus lhe deu. E
havia Djalma Santos, Nilton Santos, mestre Didi, o guerreiro Vavá e ele,
Zagallo, eterno. No fim do jogo, o menino saiu à rua com sob o barulho
dos fogos e viu a cena que jamais esqueceria pelo resto da vida: o céu
não estava mais azul, mas multicolorido de balões até onde sua vista
alcançava naquela festa que só a bola pode proporcionar a todo um povo.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/2012/06/17/para-nunca-esquecer-1428/
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