por Zé da Silva
Libra
Na vastidão da floresta, na correnteza dos rios, na sinfonia de todos
os bichos, sob sol, lua, chuva, ele vivia como se recebesse diariamente
toda essa força. Dentro e longe estava. E amava ser um ser na
composição dos deuses reais e inventados. Um dia acordou com o barulho
de máquinas. E no pesadelo foi jogado para debaixo de uma estrutura de
concreto gigantesca, obra monumental, maravilha da natureza anunciada,
barragem a interromper o nado até então livre de todos os peixes
conhecidos e desconhecidos. Vivo ficou. E gritou. Em vão. Condenado à
solidão cimentada. Então voltou-se para o coração e mente. E saiu voando
para longe, como se fosse o próprio pajé a fumar e se ver saindo do
próprio corpo e daquela clausura do progresso. Então achou a tribo das
amazonas e entrou para o lado oposto do que restava. Era tudo igual ao
que era antes. Da barragem caindo em cima dele.
Nenhum comentário :
Postar um comentário