por Felipe Missali do site Cultura Brasil
Dois transistores, quatro resistores e três capacitores foram necessários para colorir a guitarra dos anos 1960 e 1970.
O pedal de fuzz, como a própria fonética sugere, é usado
para distorcer o sinal da guitarra antes de chegar ao amplificador,
criando um som parecido com um zumbido de abelha.
Lanny Gordin foi responsável por incendiar o “cacho de abelha” na
tropicália. Nascido em 1951 em Xangai, na China, filho de um pianista
russo com uma polonesa, Alexander Gordin era fã de Hendrix, Cream e
Beatles, nomes que souberam usar tão bem esse efeito. Mas Lanny não fez
feio: timbrou os arranjos deixando o grupo que acompanhou Gal em A todo vapor tão alto quanto o Big Brother & The Holding Co., de Janis Joplin .
“Mal secreto”, faixa do álbum A todo vapor inicia com uma alusão a Jeff Beck e a seu grande riff presente em “Rice pudding”, do disco Beck-Ola, de 1969.
O maestro Rogério Duprat fez de Lanny o escolhido para suas gravações
de arranjos e experimentações de estúdio. Nesta época, o guitarrista
era disputado por astros da MPB, como Elis, Tim, Erasmo e Gal.
Além do rock, o jazz também interessa a Lanny. O grupo Brazilian
Octopus, do qual Gordin fez parte, flerta com essa linguagem “brazilian
jazz” que surgia no Brasil. Integravam o Octopus Hermeto Pascoal e Olmir
Stocker que, anos depois, se tornou o guitarrista do Grupo Medusa.
Também Hermeto quanto Stocker circulavam pela boate do pai de Lanny, a
lendária Stardust, localizada na praça Roosevelt, centro de São Paulo.
Esse gosto pelo jazz foi herdado da discoteca do pai. , Lanny possuía
discos dos guitarristas Wes Montgomery e Barney Kessel, além de ser
ouvinte de Miles Davis, com a vantagem de receber notícias quentes via
Hermeto Pascoal que, nessa época, construía identidade musical e
espiritual com o jazzista americano.
Lanny ainda vai para um caminho cheio de groove ao
acompanhar Jards Macalé em seu disco de estreia, de 1972. Ali divide o
violão com Macalé e se mostra um surpreendente baixista, dando suingue
ao trio que conta com Tuti Moreno na bateria.
Após quase 30 anos de ostracismo, e uma rápida passagem pela Aguilar e
Banda Performática, nos anos 1980, Lanny finalmente despertou de um
período turbulento de medicações, sanatórios e tratamentos pesados
contra a esquizofrenia. Inicia algumas parcerias e realiza novas
gravações. Destaque para o disco Lanny duos (2007) ,
que traz um convidado por faixa. Com uma biografia digna de qualquer
rockstar, Lanny avisa: “Ainda pretendo gravar pelo menos uns dez ou
quinze CDs”.
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