por Zé da Silva
Leão
A moeda caiu do bolso quando tirava a carteira para pagar a conta na
padaria. Era minúscula, prateada. Rodou até um canto. Ele foi atrás.
Aprendera com os pais a não desperdiçar. Agachou, apanhou e quando
ergueu o olhar para se levantar, viu. Num reservado, uma mesa, uma
funcionária almoçando, e ele – o prato. Ficou paralisado. Tinha arroz e
feijão misturados e, por cima, cobrindo tudo, um enorme bife com queijo
derretido. Parecia uma manta. O cheiro da carne inebriou tudo. Ele
sentiu o estômago e a alma contraírem. De vontade. Queria aquele prato.
Perguntou, para disfarçar, se ali serviam almoço. Não. Mas ele nem ouviu
a resposta. Seus olhos estavam grudados no bife assim como o queijo.
Enfiou a moeda no bolso e ficou andando por ali, olhando doces, pães,
tudo que podia. Sentia uma fisgada quando um pedaço daquela carne era
cortada e o garfo levava-o para a boca do felizardo. E este fechava os
olhos de prazer ao mastigar aquele presente de Deus. Então, ele fez! E
saiu correndo. E na corrida enfiava grandes pedaços do bifão e se sentiu
voando entre prédios, carros, pessoas, cachorros que latiam, jardins.
Comeu tudo. E com a boca lambuzada se sentou num banco de praça. Estava
de bem com a vida. Tinha, finalmente, quebrado a rotina de uma vida sem
gosto.
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