Virgem
Tinha o abacateiro centenário e a casa de barro ao lado. Um terreiro
de chão batido, uma estradinha na frente e o som dos carros de boi
suspensos no ar. Grãos de milhos voavam. Pintainhos eram protegidos por
enormes asas. Alguém na casa de farinha cantava, suava e o fogo queimava
a madeira enquanto a prensa rangia ao espremer a mandioca. Uma luz
brilhava na faca da mulher que descascava a raiz. Aquela cor marrom da
casca que, em lascas, caía no vestido puído, mas de flores discretas,
combinava com a cor dos olhos, atentos. Alguém aboiou ao longe. Um galo
de campina olhou. Seu topete vermelho fez lembrar a cabeleira da música.
Alguém tomou água na caneca de alumínio amassada. A moringa descansa
sobre o rendado. Retratos pintados dos antepassados tomam conta de tudo
de dentro das molduras ovaladas. Uma jaca caiu do galho. A crina do
cavalo espantou a mosca. Ao longe, na paisagem, algumas casas antigas da
cidade sobem o pé do morro. Entre a casa e a cidade um cemitério todo
pintado de branco. Ali descansam eles. Os que nasceram, foram, voltaram e
ficaram para sempre. Na terra. Na origem. Para espalhar o que é
indizível.
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