quinta-feira, 27 de setembro de 2012

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Áries

Na mira telescópica ela surgiu exuberante. Os sol lhe dava um contorno como aura. Peito estufado, olhar atento ao entorno. Ele destravou a arma, inspirou profundamente e foi soltando o ar devagar, como aprendera nos tempos de farda. Sabia a hora certa de disparar – era quando todo o pulmão estivesse vazio e o corpo totalmente imóvel. Esse tempo se alongou, como se tudo tivesse perdido referência. Não havia mais ponteiros, mas sim aquele telhado à frente e na rua de terra um grupo de garotos munidos de estilingues, setras, atiradeiras. Estavam à caça de pardais, mas quem conseguisse acertar e matar pombas, ah, era o herói das tardes depois das aulas. Os projéteis eram bolas de barro feitas com esmero, redondinhas, secadas sob o mesmo sol de agora. Ele piscou. Voltou a atenção para o alvo. Penas brancas que, às vezes, se movimentavam ao sabor do vento. Ele olhou e previu a bala, na verdade um chumbinho, entrando no corpo, rasgando pele, ossos, músculos. A pomba olhou em sua direção, mas não voou. Ficou ali, como se quisesse aumentar a luta interna daquele matador. Ele encostou o dedo no gatilho, mas logo tirou e viu a ave voar. Olhou então uma janela na vizinhança e notou que alguém acompanhava aquela cena. Viu então um sorriso. Sorriu também.

FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/09/26/horoscopo-346/

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