por Zé da Silva
Áries
Na mira telescópica ela surgiu exuberante. Os sol lhe dava um 
contorno como aura. Peito estufado, olhar atento ao entorno. Ele 
destravou a arma, inspirou profundamente e foi soltando o ar devagar, 
como aprendera nos tempos de farda. Sabia a hora certa de disparar – era
 quando todo o pulmão estivesse vazio e o corpo totalmente imóvel. Esse 
tempo se alongou, como se tudo tivesse perdido referência. Não havia 
mais ponteiros, mas sim aquele telhado à frente e na rua de terra um 
grupo de garotos munidos de estilingues, setras, atiradeiras. Estavam à 
caça de pardais, mas quem conseguisse acertar e matar pombas, ah, era o 
herói das tardes depois das aulas. Os projéteis eram bolas de barro 
feitas com esmero, redondinhas, secadas sob o mesmo sol de agora. Ele 
piscou. Voltou a atenção para o alvo. Penas brancas que, às vezes, se 
movimentavam ao sabor do vento. Ele olhou e previu a bala, na verdade um
 chumbinho, entrando no corpo, rasgando pele, ossos, músculos. A pomba 
olhou em sua direção, mas não voou. Ficou ali, como se quisesse aumentar
 a luta interna daquele matador. Ele encostou o dedo no gatilho, mas 
logo tirou e viu a ave voar. Olhou então uma janela na vizinhança e 
notou que alguém acompanhava aquela cena. Viu então um sorriso. Sorriu 
também.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2012/09/26/horoscopo-346/ 
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