Peixes
Trauma de água. Em grandes quantidades. Chuveiro, encarava. Banheira,
jamais. Piscina, passava longe. Rio, lagoa e mar, não gostava de ver
nem em foto. Um dia alguém convidou para o passeio. Foi. Dopado. Dormiu.
Acordou e se viu cercado de água. Quis fugir. Para onde. Subiu uma
escada. O sol forte lhe cegou momentaneamente. Viu um corredor. Foi,
cego. De repente, cadê o piso? No ar, feito menino passarinho. Lembrou
do Luis Vieira, mesmo porque tinha um amigo muito parecido. Não cantou. A
queda, vertinosa, desengonçada, parecia em super-câmera lenta para ele.
O corpo adernou para um lado. Passou na mente um Tupolev no ar e com
uma asa partida. A explosão foi sentida no lado direito do rosto e no
lado do fígado. Afundou. Lá embaixo a cena de um bebê escorregando numa
banheira de plástico azul. A mãe, longe, o gosto de sabonete Johnson
entrando goela abaixo como espuma da água. Emergiu. O sol não lhe cegou.
Sentiu paz. Olhou em volta. Flutuava como o barco. Sorriu para quem
sorria ali de cima. Tinha se livrado de mais um dos demônios.
Por afogamento.
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