sexta-feira, 21 de setembro de 2012

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Peixes

Trauma de água. Em grandes quantidades. Chuveiro, encarava. Banheira, jamais. Piscina, passava longe. Rio, lagoa e mar, não gostava de ver nem em foto. Um dia alguém convidou para o passeio. Foi. Dopado. Dormiu. Acordou e se viu cercado de água. Quis fugir. Para onde. Subiu uma escada. O sol forte lhe cegou momentaneamente. Viu um corredor. Foi, cego. De repente, cadê o piso? No ar, feito menino passarinho. Lembrou do Luis Vieira, mesmo porque tinha um amigo muito parecido. Não cantou. A queda, vertinosa, desengonçada, parecia em super-câmera lenta para ele. O corpo adernou para um lado. Passou na mente um Tupolev no ar e com uma asa partida. A explosão foi sentida no lado direito do rosto e no lado do fígado. Afundou. Lá embaixo a cena de um bebê escorregando numa banheira de plástico azul. A mãe, longe, o gosto de sabonete Johnson entrando goela abaixo como espuma da água. Emergiu. O sol não lhe cegou. Sentiu paz. Olhou em volta. Flutuava como o barco. Sorriu para quem sorria ali de cima. Tinha se livrado de mais um dos demônios. Por afogamento.


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