terça-feira, 13 de junho de 2017

DISCOTECA BÁSICA

CAETANO VELOSO
CAETANO VELOSO (1969)


por  Marcos Sampaio

A capa branca do disco de Caetano Veloso lançado em 1969, apesar da simplicidade, é um enigma digno dos faraós. Em primeiro lugar é sim uma homenagem, como tantas outras que foram feitas, ao álbum lançado um ano antes pelos Beatles. No lugar de um projeto gráfico com fotos ou desenhos, os rapazes de Liverpool enxugaram tudo e colocaram um imenso e absoluto branco na capa e contracapa do trabalho. No caso do baiano, para se diferenciar dos ídolos roqueiros, ele acrescentou apenas sua assinatura, e logo o disco ganhou o apelido de “o disco da assinatura”. Apesar de toda a paz estampada naquele mar de brancura, o que inspira Caetano a fazer aquele trabalho são seus tempos bicudos de uma ditadura brasileira, que logo o manteria exilado em Londres. Dessa forma, a ausência de cores acaba demonstrando também a saudade e o vazio em que o artista se encontrava, longe da sua amada Bahia. Já sentindo falta da família, o poeta abre o disco homenageando sua irmã Irene, contrastando a alegria do sorriso com uma despedida forçada. Mais melancólico, ele segue o disco falando em partidas e despedidas. Marinheiro só, cântico tradicional, vem cantada em inglês e mistura o recado direto com sua futura língua. A barroca Carolina, de Chico Buarque, fica ainda mais triste em sua janela quando cantada pelas vogais abertas do filho da Dona Canô. Triste ainda como as Chuvas de Verão, de Fernando Lobo. Em tom fadista, Os Argonautas recria o clima dos portugueses que partiram em busca de novas terras, como se o baiano quisesse falar que estava agora fazendo o caminho inverso. Mas como os contrastes daquela capa aparentemente sem nada, a tristeza do disco de Caetano se dissipa na última faixa, Alfômega. Suingada, funkeada e animada, a despedida do artista é em clima de festa, por que atrás desse bloco só não vai quem já morreu.




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