quarta-feira, 21 de junho de 2017

MACHADO DE ASSIS


A PALMEIRA


Como é linda e verdejante 
Esta palmeira gigante 
Que se eleva sobre o monte! 
Como seus galhos frondosos 
S’elevam tão majestosos 
Quase a tocar no horizonte! 

Ó palmeira, eu te saúdo, 
Ó tronco valente e mudo, 
Da natureza expressão! 
Aqui te venho ofertar 
Triste canto, que soltar 
Vai meu triste coração. 

Sim, bem triste, que pendida 
Tenho a fronte amortecida, 
Do pesar acabrunhada! 
Sofro os rigores da sorte, 
Das desgraças a mais forte 
Nesta vida amargurada! 

Como tu amas a terra 
Que tua raiz encerra, 
Com profunda discrição; 
Também amei da donzela 
Sua imagem meiga e bela, 
Que alentava o coração. 

Como ao brilho purpurino 
Do crepúsc’lo matutino 
Da manhã o doce albor; 
Também amei com loucura 
Ess’alma toda ternura 
Dei-lhe todo o meu amor! 

Amei!... mas negra traição 
Perverteu o coração 
Dessa imagem da candura! 
Sofri então dor cruel, 
Sorvi da desgraça o fel, 
Sorvi tragos d’amargura!

........................................ 

Adeus, palmeira! ao cantor 
Guarda o segredo de amor; 
Sim, cala os segredos meus! 
Não reveles o meu canto, 
Esconde em ti o meu pranto 
Adeus, ó palmeira!... adeus!



*A FRANCISCO GONÇALVES BRAGA
RJ, 6 jan. 1855 O.D.C.



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