sexta-feira, 9 de junho de 2017

SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE

A monster calls, 2016 
(Apaches Entertainment, 108min)
Direção: J.A. Bayona. Roteiro: Patrick Ness, romance homônimo de sua autoria, ideia de Siobhan Dowd. Fotografia: Oscar Faura. Montagem: Jaume Martí, Bernat Vilaplana. Música: Fernando Velázquez. Figurino: Steven Noble. Direção de arte/cenários: Eugenio Caballero/Pilar Revuelta. Produção executiva: Álvaro Augustin, Ghislain Barrois, Sandra Hermida, Jonathan King, Enrique López Lavigne, Patrick Ness, Bill Pohlad, Jeff Skoll, Patrick Wachsberger. Produção: Belén Atienza. Elenco: Lewis MacDougall, Felicity Jones, Sigourney Weaver, Liam Neeson, Toby Kebell, Geraldine Chaplin. Estreia: 09/9/16 (Festival de Toronto)

Aplaudido pelo mundo já em seu primeiro longa-metragem - o assustador "O orfanato" (2007) - e posteriormente taxado de "o Steven Spielberg espanhol" por causa do sucesso de "O impossível" (2012), que deu uma indicação ao Oscar de melhor atriz à Naomi Watts, J.A. Bayona volta a mostrar sensibilidade na manipulação das emoções humanas (e principalmente infantis) em "Sete minutos depois da meia-noite", um impressionante e comovente drama de fantasia que, assim como "O labirinto do fauno" (2006), do mexicano Guillermo Del Toro, é uma ode à força da imaginação contra as tragédias do dia-a-dia. Ao contrário do premiado filme de Del Toro, porém, o filme de Bayona não fez tanto barulho nas bilheterias (cobriu seu orçamento apenas com a ajuda da arrecadação mundial) e foi solenemente ignorado pelo Oscar. Tal descaso, no entanto, não reflete nem de longe sua imensa qualidade: "Sete minutos depois da meia-noite" é um dos mais inteligentes e criativos filmes dos últimos anos, um devastador drama sobre amadurecimento disfarçado de aventura juvenil.

Inspirado em um livro infantil iniciado por Siobhan Dowd e finalizado por Patrick Ness após a morte do autor original, "Sete minutos depois da meia-noite" é um espetáculo visual de primeira linha à serviço de uma história fascinante e avassaladora, que trata de assuntos espinhosos com o verniz da fantasia e da imaginação pueril. O protagonista é Connor O'Malley (Lewis MacDougall), um menino irlandês de doze anos que está passando pelo pior período de sua curta existência: sua mãe (Felicity Jones, de "A teoria de tudo") está enfrentando um câncer terminal que a impede de conviver com ele de modo ideal; seu pai (Toby Kebell, de "Black Mirror") mora nos EUA com a nova família e não tem planos de incluí-lo em sua vida; sua avó (Sigourney Weaver), com quem não tem a melhor das relações, quer obrigá-lo a morar com ela; e na escola, ele sofre constante bullying por parte dos colegas mais fortes. Em uma noite, exatamente às 12:07, Connor recebe a visita de um monstro gigantesco em formato de árvore que avisa que irá visitá-lo sempre no mesmo horário para lhe contar três histórias que poderão lhe ajudar nessa fase da vida. O monstro completa o aviso informando-o também de que a última história será de sua autoria - e deverá explicar os motivos de seus pesadelos.

De forma brilhante e surpreendente, Bayona transforma um conto de solidão e trauma em um show de efeitos especiais que, ao invés de eclipsar a força da história, sublinha seu tom lúdico e fantástico. As narrativas do monstro são apresentadas em formato de animação, mas nada de esperar a estética Pixar ou Disney: o cineasta utiliza de cada uma das fábulas da apavorante criatura (com a voz de Liam Neeson e feições que vão se tornando mais humanas conforme a trama avança) para analisar, de maneira poética mas bastante contundente, todos os medos e sentimentos de Connor (e, por conseguinte, de boa parte da plateia, adulta ou não). Ao questionar fundamentos essenciais, como a bondade, a compaixão e a raiva, o roteiro do mesmo Patrick Ness que terminou o livro vai fortalecendo o caráter de seu protagonista e preparando-o para enfrentar o maior desafio de sua vida, que é encarar a morte da mãe e a maturidade precoce. É admirável os meios encontrados por Bayona e sua equipe em equilibrar tão organicamente a vida real de Connor e sua imaginação sem deixar que nenhuma das linhas narrativas sobreponha-se à outra - e mais importante ainda, que consiga fazer com que ambas se conectem tão naturalmente até o final, de uma tristeza profunda, mas dono de uma beleza incontestável.

Contando com um excepcional ator juvenil no papel principal - Lewis McDougall, que também participou do exótico "Peter Pan" (2015), de Joe Wright - e veteranos competentes entre os coadjuvantes - como Sigourney Weaver como sua irascível avó e Geraldine Chaplin, uma espécie de amuleto de sorte do diretor, tendo feito pontas em seus três trabalhos até aqui - "Sete minutos depois da meia-noite" surge como um dos melhores filmes de sua temporada. Com um roteiro de ritmo preciso e equilibrado, um visual acachapante e o tom emocional acertadamente adequado a uma história que mira em vários tipos de plateia, o filme de Bayona é um triunfo em todos os aspectos, capaz de cativar qualquer espectador disposto a mergulhar em uma narrativa repleta de simbolismos e metáforas que, longe de aborrecer ou confundir, apenas valorizam a beleza de suas intenções e de sua realização. Imperdível!

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