Originário do
continente africano desde as zonas tropicais ao sul foi introduzido em
diversos locais, em particular em várias ilhas e em Portugal onde existe
hoje em grande quantidade junto de cursos de água. È uma espécie calma
de comportamento colonial que não tem problemas em povoar zonas próximas
do homem sendo frequentes em zonas bastante povoadas. Crê-se que seja
uma das aves mais numerosas no planeta no presente caso se considerem
as diversas sub-espécies existentes. Macho e fêmea são bastante semelhantes
embora os machos por vezes tenham uma maior mancha rosácea na zona do
peito. Aves pequenas medem cerca de 6cm de comprimento. O dorso é cinzento
escuro, visivelmente raiado por diversas listras de tons distintos. A
distinção dos sexos é geralmente mais segura pelo comportamento dos machos
em corte das fêmeas perseguindo-as enquanto emitem gorgorejos repetidos.Das três espécies principais de bico de lacre (Estrilda troglodyta, E.
astrild e E. rodophyga) esta é a mais fácil de reproduzir em cativeiro,
a par de E. troglodyta.
Todas as três espécies são originárias de àfrica
e facilmente confundidas, pelo que é de algum interesse que se reconheçam
as suas diferenças evitando as misturas. A primeira destas espécies surge
muitas vezes nas importações (e também em liberdade). Apresenta a zona
do abdómen escura, por vezes mesmo preta. Distribui-se numa zona desde
o Senegal e Gâmbia até à zona mais ocidental da Etiópia e do Quénia. Onde
acaba a distribuição desta espécie podemos considerar que começa a de
E. rodophyga, denominado por vezes de bico de lacre de Sundevall, em honra
do ornitólogo sueco Carl Sundevall que o descobriu e identificou pela
primeira vez, em 1850. Esta última distingue-se pela coloração mais castanha
e pelo bico preto nos adultos. È menos comum no mercado surgindo esporadicamente
em importações mistas, todavia a sua menor resistência e capacidade de
reprodução em cativeiro fazem com que seja rara entre os criadores. O
bico de lacre comum (ou de Sta Helena) vive um pouco por todo o continente
africano tendo sido introduzido com sucesso nos locais atrás referidos.
È de salientar que em Portugal existe uma população mista de E. troglodyta
e E. astrild. É na distinção destas duas últimas espécies que deveremos
ter especial cuidado, Quando comparadas lado a lado apresentam diferenças
visíveis no padrão da plumagem.
O bico de lacre comum apresenta linhas
escuras bem notórias ao longo do dorso, enquanto no segundo caso as aves
apresentam uma mancha rosa ou vermelha no peito que se extende por vezes
até ao abdómen e uma marca branca em torno das penas da cauda. Esta marca
nem sempre é preceptível com a cauda fechada. Em cativeiro deverão ser
mantidos em colónias de vários casais dependendo do tamanho do viveiro.
5 a 6 casais podem existir facilmente com outras aves em áreas de cerca
de 10 a 20 m2. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, a reprodução
é possível e frequente caso lhes sejam dadas as condições necessárias
para o efeito. Em gaiolas, embora os haja, são menores os casos bem sucedidos
de reprodução destas aves. A alimentação deve consistir de uma mistura
de exóticos com abundância de painço amarelo e algum vermelho. São aves
que se alimentam preferencialmente de sementes imaturas e que servirão
como um exclente suplemento em cativeiro, juntamente com sementes várias
germinadas esseciais para a reprodução. Não mostram grande apetência por
papas e insectos embora possam consumir ambos os alimentos em particular
larvas e moscas da fruta. Uma vez estrablecida uma colónia em cativeiro,
o que leva pelo menos um ano, poder-se-ão observar os primeiros cortejamentos
e ninhos. Dos 4 casais formados inicialmente nos meus viveiros, apenas
um começou a reproduzir-se levando os outros mais algum tempo. Os ninhos
preferidos são invariavelmente ninhos de corda em tubo que são preparados
com fibras e penas no interior. A postura normal é de 4-5 ovos incubados
por ambos os sexos durante 13 dias. Passado este periodo não deverão faltar
as moscas da fruta e sementes germinadas em especial na primeira semana
de vida das crias.
Com alguma confiança nas aves (em particular se já
criaram com sucesso) podemos anilhar as crias com cerca de 10 dias no
ninho usando anilhas de 2,00mm. O desenvolvimento é lento quando comparado
com os diamantes o que aliás é norma para os estrildideos e as crias apenas
saiem do ninho por volta dos 21 dias. Nesta altura a plumagem é ainda
incompleta a embora demonstrem já a marca vermelha por cima do olho característica
da espécie, a sua coloração é muito esbatida e o bico preto. Passadas
cerca de 3 semanas já comem sozinhas ganhando as cores finais algum tempo
mais tarde, por esta altura é normal que os pais se ocupem imediatamente
com um novo ninho.
Depois das primeiras
posturas bem sucedidas podemos esperar que um casal formado se reproduza
regularmente e com posturas bastante sucessivas. As crias obtidas em cativeiro
nidificam com muito mais facilidade o que nem sempre se verifica noutras
espécies, mas é evidente neste caso.
As primeiras
crias que produzi estão todas em reprodução no mesmo viveiro onde foram
criadas sendo o único cuidado que tive de acasalá-las com crias de casais
distintos (usando anilhas de cores diferentes). Um casal pode facilmente
produzir 4 a 5 ninhadas por época não devendo passar este limite. O seu
ciclo reprodutivo é bastante curto o que permite em muitos casos que se
obtenham 15-20 crias por casal/ano.
Este facto demonstra
bem que a ideia corrente que as diversas espécies de estrildídeos são
difíceis de criar em cativeiro nem sempre se aplica, para mais quando
nos referimos a viveiros e não a gaiolas de reprodução onde os resultados
são, para estas espécies, manifestamente inferiores.
Existem já alguma
mutações cromáticas destas aves em particular o bico amarelo, embora sejam
bastante raras.
© Copyright,
Ricardo Pereira 2001
Fonte: http://avilandia.planetaclix.pt/Portugues/Especies/BicodeLacre.htm
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