domingo, 26 de fevereiro de 2012

BICO DE LACRE

Estrilda astrild

Originário do continente africano desde as zonas tropicais ao sul foi introduzido em diversos locais, em particular em várias ilhas e em Portugal onde existe hoje em grande quantidade junto de cursos de água. È uma espécie calma de comportamento colonial que não tem problemas em povoar zonas próximas do homem sendo frequentes em zonas bastante povoadas. Crê-se que seja uma das aves mais numerosas no planeta no presente caso se considerem as diversas sub-espécies existentes. Macho e fêmea são bastante semelhantes embora os machos por vezes tenham uma maior mancha rosácea na zona do peito. Aves pequenas medem cerca de 6cm de comprimento. O dorso é cinzento escuro, visivelmente raiado por diversas listras de tons distintos. A distinção dos sexos é geralmente mais segura pelo comportamento dos machos em corte das fêmeas perseguindo-as enquanto emitem gorgorejos repetidos.Das três espécies principais de bico de lacre (Estrilda troglodyta, E. astrild e E. rodophyga) esta é a mais fácil de reproduzir em cativeiro, a par de E. troglodyta. 
Todas as três espécies são originárias de àfrica e facilmente confundidas, pelo que é de algum interesse que se reconheçam as suas diferenças evitando as misturas. A primeira destas espécies surge muitas vezes nas importações (e também em liberdade). Apresenta a zona do abdómen escura, por vezes mesmo preta. Distribui-se numa zona desde o Senegal e Gâmbia até à zona mais ocidental da Etiópia e do Quénia. Onde acaba a distribuição desta espécie podemos considerar que começa a de E. rodophyga, denominado por vezes de bico de lacre de Sundevall, em honra do ornitólogo sueco Carl Sundevall que o descobriu e identificou pela primeira vez, em 1850. Esta última distingue-se pela coloração mais castanha e pelo bico preto nos adultos. È menos comum no mercado surgindo esporadicamente em importações mistas, todavia a sua menor resistência e capacidade de reprodução em cativeiro fazem com que seja rara entre os criadores. O bico de lacre comum (ou de Sta Helena) vive um pouco por todo o continente africano tendo sido introduzido com sucesso nos locais atrás referidos. È de salientar que em Portugal existe uma população mista de E. troglodyta e E. astrild. É na distinção destas duas últimas espécies que deveremos ter especial cuidado, Quando comparadas lado a lado apresentam diferenças visíveis no padrão da plumagem. 
O bico de lacre comum apresenta linhas escuras bem notórias ao longo do dorso, enquanto no segundo caso as aves apresentam uma mancha rosa ou vermelha no peito que se extende por vezes até ao abdómen e uma marca branca em torno das penas da cauda. Esta marca nem sempre é preceptível com a cauda fechada. Em cativeiro deverão ser mantidos em colónias de vários casais dependendo do tamanho do viveiro. 5 a 6 casais podem existir facilmente com outras aves em áreas de cerca de 10 a 20 m2. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, a reprodução é possível e frequente caso lhes sejam dadas as condições necessárias para o efeito. Em gaiolas, embora os haja, são menores os casos bem sucedidos de reprodução destas aves. A alimentação deve consistir de uma mistura de exóticos com abundância de painço amarelo e algum vermelho. São aves que se alimentam preferencialmente de sementes imaturas e que servirão como um exclente suplemento em cativeiro, juntamente com sementes várias germinadas esseciais para a reprodução. Não mostram grande apetência por papas e insectos embora possam consumir ambos os alimentos em particular larvas e moscas da fruta. Uma vez estrablecida uma colónia em cativeiro, o que leva pelo menos um ano, poder-se-ão observar os primeiros cortejamentos e ninhos. Dos 4 casais formados inicialmente nos meus viveiros, apenas um começou a reproduzir-se levando os outros mais algum tempo. Os ninhos preferidos são invariavelmente ninhos de corda em tubo que são preparados com fibras e penas no interior. A postura normal é de 4-5 ovos incubados por ambos os sexos durante 13 dias. Passado este periodo não deverão faltar as moscas da fruta e sementes germinadas em especial na primeira semana de vida das crias. 
Com alguma confiança nas aves (em particular se já criaram com sucesso) podemos anilhar as crias com cerca de 10 dias no ninho usando anilhas de 2,00mm. O desenvolvimento é lento quando comparado com os diamantes o que aliás é norma para os estrildideos e as crias apenas saiem do ninho por volta dos 21 dias. Nesta altura a plumagem é ainda incompleta a embora demonstrem já a marca vermelha por cima do olho característica da espécie, a sua coloração é muito esbatida e o bico preto. Passadas cerca de 3 semanas já comem sozinhas ganhando as cores finais algum tempo mais tarde, por esta altura é normal que os pais se ocupem imediatamente com um novo ninho.
Depois das primeiras posturas bem sucedidas podemos esperar que um casal formado se reproduza regularmente e com posturas bastante sucessivas. As crias obtidas em cativeiro nidificam com muito mais facilidade o que nem sempre se verifica noutras espécies, mas é evidente neste caso.
As primeiras crias que produzi estão todas em reprodução no mesmo viveiro onde foram criadas sendo o único cuidado que tive de acasalá-las com crias de casais distintos (usando anilhas de cores diferentes). Um casal pode facilmente produzir 4 a 5 ninhadas por época não devendo passar este limite. O seu ciclo reprodutivo é bastante curto o que permite em muitos casos que se obtenham 15-20 crias por casal/ano.
Este facto demonstra bem que a ideia corrente que as diversas espécies de estrildídeos são difíceis de criar em cativeiro nem sempre se aplica, para mais quando nos referimos a viveiros e não a gaiolas de reprodução onde os resultados são, para estas espécies, manifestamente inferiores.
Existem já alguma mutações cromáticas destas aves em particular o bico amarelo, embora sejam bastante raras.

© Copyright, Ricardo Pereira 2001 

Fotos de Ricardo Silva

Fonte: http://avilandia.planetaclix.pt/Portugues/Especies/BicodeLacre.htm

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