por Zé da Silva
Sagitário
Eu sou o Espírito Santo. Ele falou mas ninguém ouviu. Colocaram um
gancho no seu cangote e o penduraram dentro de uma capelinha de madeira
com pintura branca desbotada. As asas foram abertas e coladas no tecido
estampado que forrava a parede da capela. Ele viu quando amarraram um
lacinho na cruz logo acima da sua cabeça e jura ter sentido o aroma das
flores que ornamentavam o ambiente, apesar de elas serem de pano. Quanto
tempo passou na vitrine da loja ele não lembra, mesmo porque a única
coisa que sabia é que era o Espírito Santo. Um dia dois olhinhos azuis o
trespassaram. Ele viu a menina entrar na loja e alguém colocá-lo dentro
de um embrulho. Quando o papel foi rasgado entrou uma luz forte da
janela, mas ele viu que estava no quarto da menina em meio a outros
santos e muitas bonecas. Só então reparou que ela estava ajoelhada, de
mãos postas, e perguntou se ele existia de verdade. Ele disse que sim.
Ela sorriu o sorriso mais lindo. Ele então começou a acreditar em
milagres.
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