de Zé da Silva
Capricórnio
Como o relógio derretido. Ponteiro pendurados. O tempo parado no
limite do abismo. Duas adagas entravam e saíam no latejar da cabeça.
Taça onde se colocou o ácido que corrói vontades. O calor incomoda. O
frio também. Dormir é ter pesadelo. Acordar é continuar nele. Um corpo a
trafegar sem alma pela cidade. Na calçada um velho saco plástico
esgarçado tem o tamanho de um lixão fedorento. Não há pai. Não há mãe.
As palavras o devoram. As imagens o incomodam. Os latidos saem das bocas
de dinossauros. Um bolo de chocolate com cobertura de chocolate foi
comido por ratos ensandecidos. A menina com cara de anjo manchou o
vestido de sangue. Ela segura um bicho de pelúcia com as entranhas à
mostra. São Miguel Arcanjo aparece no escapulário. Defendei-nos com o
vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. O inferno é um
estado de espírito. Pensou nisso e tomou meio vidro de Emulsão de Scott.
O óleo de fígado de bacalhau azeitou o seu elevador. E ele finalmente
subiu até o meio.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/2012/02/01/horoscopo-319/
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