Fotos de Ricardo Silva
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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domingo, 26 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
NELSON RODRIGUES
23 DE AGOSTO DE 1912 - 23 DE AGOSTO DE 2012
ALGUMAS FRASES
- A companhia de um paulista é a pior forma de solidão.
- O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual.
- Só os profetas enxergam o óbvio.
- Deus prefere os suicidas.
- A morte é anterior a si mesma.
- Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.
- Todo desejo é vil.
- A cama é um móvel metafísico.
- Até 1919, a mulher que ia ao ginecologista sentia-se, ela própria, uma adúltera.
- O brasileiro chamado de doutor treme em cima dos sapatos. Seja ele rei ou arquiteto, pau-de-arara, comerciário ou ministro, fica de lábio trêmulo e olho rútilo.
- Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.
- Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem.
- Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.
- O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.
- O biquíni é uma nudez pior do que a nudez.
- Só há uma tosse admissível: – a nossa.
- Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.
- Não admito censura nem de Jesus Cristo.
- Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.
- Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.
- Morder é tara? Tara é não morder.
- Todo tímido é candidato a um crime sexual.
- Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar.
- O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro.
- O amigo é um momento de eternidade.
- O asmático é o único que não trai.
- Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.
- Um time que tem Pelé é tricampeão nato e hereditário.
- O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano.
- Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.
- O casamento não é culpado de nada. Nós é que somos culpados de tudo.
- A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível.
- Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
- A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.
- Amar é ser fiel a quem nos trai.
- Acho a liberdade mais importante que o pão.
- Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.
- Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.
- Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.
- A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas.
- Deus só freqüenta as igrejas vazias.
- Copacabana vive, por semana, sete domingos.
- Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!
- A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia.
- Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um são Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.
- A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.
- No passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de estrebuchar na página do jornal.
- Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.
- Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.
- O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: – dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses.
- Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.
- O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.
- Enquanto um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o pré-Brasil.
- Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: – não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.
- Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.
- Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa.
- Sexo é para operário.
- Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.
- Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.
- O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade.
- Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.
- Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de “ilustre”, de “insigne”, de “formidável”, qualquer borra-botas.
- A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.
- O brasileiro não está preparado para ser “o maior do mundo” em coisa nenhuma. Ser “o maior do mundo” em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
- Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.
- Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.
- A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.
- Em nosso século, o “grande homem” pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.
- O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.
- Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.
- Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.
- Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.
- O adulto não existe. O homem é o menino perene.
- Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.
- A perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo real.
- Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto.
- Só acredito na bondade que ri. Todo santo devia ser jucundo como um abade da Brahma.
- O brasileiro é um feriado.
- Os jardins de Burle Marx não têm flores. Têm gramados e não flores. Mas para que grama, se não somos cabras?
- A burrice é a pior forma de loucura.
- No Brasil quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte. O Otto Lara está certo. O mineiro só é solidário no câncer.
- O carioca é o único sujeito capaz de berrar confidências secretíssimas de uma calçada para outra calçada.
- Num casal, pior que o ódio, é a falta de amor.
- O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira.
- Geralmente, o puxa-saco dá um marido e tanto.
- O carioca é um extrovertido ululante.
- As bodas de prata são, via de regra, uma festa cínica que finge comemorar um amor enterrado.
- Os que choram pouco, ou não choram nunca, acabarão apodrecendo em vida.
- Gosto do cigarro que me queime a garganta. O fumo suave não passa de um ópio de gafieira.
- Desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e neurastênica.
- Sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica.
- Há homens que, por dinheiro, são capazes até de uma boa ação.
- A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.
- Eu, como artista, se tivesse de escolher um epitáfio, optaria pelo seguinte: — “Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado pelos imbecis de ambos os sexos”.
- Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado.
- Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
- Toda família tem um momento em que começa a apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. Lá um dia aparece um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao mesmo tempo.
- A família é o inferno de todos nós.
- A fidelidade devia ser facultativa.
- Na mulher, certas idades constituem, digamos assim, um afrodisíaco eficacíssimo. Por exemplo:— quatorze anos!
- O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.
- Hoje, a primeira noite é a centésima, a qüinquagésima. O casamento já é uma rotina antes de começar.
- O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira que não é popular, nem brasileira e vou além: — nem música.
- Aqui o branco não gosta do preto; e o preto também não gosta do preto.
- Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado sempre tem razão.
- Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
- O pobre, para sobreviver, precisa da pornografia.
- O presidente que deixa o poder passa a ser, automaticamente, um chato.
- O ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
- É impossível ser ridículo dentro de uma Mercedes.
- Num casamento, o importante não é a esposa, é a sogra. Uma esposa limita-se a repetir as qualidades e os defeitos da própria mãe.
- No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua.
- Uma dor de viúva dura 48 horas.
- Todo óbvio é ululante.
- Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de bater.
- Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava.
- A plateia só é respeitosa quando não está entendendo nada.
- Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.
- Nada mais doce, nada mais terno, do que um ex-inimigo.
- O sábado é uma ilusão.
- Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.
- As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
- Qualquer indivíduo é mais importante que toda a Via Láctea.
- O ‘homem de bem’ é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.
- Deus está nas coincidências.
JAN SAUDEK
Dificil encontrar uma categoria para “enquadrar” o outsider fotógrafo
tcheco Jan Saudek, que não seja injusta. Seu peculiar trabalho extrapola
qualquer delimitacão que possamos tentar criar.
De sua verve
brotam imagens de violento apelo sexual, mas ao mesmo tempo extremamente
gráficas e artísticas pelo acentuado uso da cor, que em suas obras
funcionam como forma e não somente como suporte.
Já dizia Weston em seus “daybooks” que os fotógrafos erram em não pensar na cor como forma. Através dela pode-se dizer coisas que não são possíveis com outro tipo de filme.
Já dizia Weston em seus “daybooks” que os fotógrafos erram em não pensar na cor como forma. Através dela pode-se dizer coisas que não são possíveis com outro tipo de filme.
Na obra de Saudek os nús , sempre eróticos, são reforçados
pelo uso exarcerbado da cor saturada, característica de suas imagens
desde o início, embora o fotógrafo se aventure vez ou outra em preto e
branco, com ótimo resultado.
Saudek usa seu talento criando imagens oníricas que formam um contraponto com a realidade política e densa de seu país.
Suas
referências principais são aquelas imagens pornográficas feitas em
estúdio do século IX, pinturas clássicas e retratos históricos. Saudek
utiliza fundos pintados, elaboradas vestimentas de suas personagens, na
maioria mulheres - o homem é quase sempre representado pelo próprio
fotógrafo - onde ele é o voyeur e o personagem de sua criação.
Jan Saudek uma vez disse que não tem capacidade para retratar a vida dos outros. Por isso sempre retrata a sua própria.
Jan
Saudek nasceu em 1935, em Praga e começou a fotografar como amador em
1950 com uma Baby Brownie Kodak, câmera que usou até 1963, ano em que
viu a mostra de Steichen “The Family of Man”. Ai decidiu que a
fotografia seria sua profissão. Ele vive e trabalha ainda em Praga.
Texto tirado de :
Realities
Jan Saudek
Textos de John Wood e James Crump
Arena Editions
Realities
Jan Saudek
Textos de John Wood e James Crump
Arena Editions
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Capricórnio
Abriu a gaveta e ela se acendeu. Olhou para o facho de luz e ali
entrou. Saiu com a lanterna na mão na sala iluminada apenas na tela
gigantesca. Um Drácula em preto e branco tinha o olhar de sangue. Alguém
cutucou atrás. Pediu-lhe para achar um lugar no cinema do bairro. Ele
percorreu as filas direcionando o faixo para pernas e mais pernas. Quase
tudo lotado. As pessoas se ajeitavam nos assentos de madeira quando a
luz os atingia. O ranger incomodava quem prendia a respiração com a cena
ali da frente. Havia agora um pescoço pálido como o de um anjo. Um
banco foi achado quase ali na frente. Sem querer ele direcionou a
lanterna para a tela. Na hora em que os caninos do astro apareceram.
Tinha gente fechando os olhos ou se protegendo atrás de mãos nervosas.
Um casal lá no fundo se beijava sofregamente. Ele apagou o instrumento
de trabalho. A carótida foi dilacerada e o sangue sugado. Ele andou na
direção das cortinas puídas que protegiam uma das entradas. Alguma coisa
o fez atravessar aquele portal. Do outro lado estava olhando a gaveta. A
luz se apagou. Ele sentiu saudade.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
LUIZ SOLDA
Luiz Solda nasceu no dia 22 de agosto de 1952
Por Roberto José da Silva
Luiz Solda nasceu em Itararé e é tão nobre quanto o Barão. Ele
sobreviveu para que eu o encontrasse. Eu posso delirar a vontade. Sem
ele saber, claro. Eu ainda estava na Vila, lá em Sampa, quando olhei seu
traço no Pasquim e ri da desgraça do mundão. O nome completou a liga.
Nunca mais desgrudei. Vim para Curitiba e me perdi de um lado. Ele
estava perdido do outro. Nunca nos encontramos, apesar de amigos comuns,
como a Lina Faria, mãe da nossa Tarsila. Ele se hospedou no Bom Retiro.
Eu, no Pinel. A vida baixou nos dois e um dia nos encontramos. Faz
pouco tempo. Amor ao primeiro silêncio. Solda é muito mais tímido do que
eu era quando a existência para mim era um bloco era um bloco de
concreto maior que o Himalaia pesando na minha alma. Se não rir não tem
graça. Um dia ele me falou ou escreveu algo assim e eu adotei como
filosofia que espalho, assim como digo que Zé Trindade, Costinha e Didi
Mocó são meus gurus, entre outros. Começamos a namorar com o
consentimento da Vera, dele, e da Sonia, minha. Trocamos palavras ao
telefone e mensagens onde vem um cartum e vai uma foto. Desejamos sempre
– e foi ele que começou – um divirta-se, saúde e, paras encerrar, um
sensacional foda-se. Ter um ídolo como amigo é coisa para privilegiados.
E eu invejo o Solda. Inveja boa, como dizem, principalmente porque ele
tem uma perua Fiat Panorama branca de mil novecentos e nada e meu
Santanão é muito mais novo, tem só 17 anos de uso. Combinamos até nos
traços paranoicos. Ele, como todo gênio da raça, é tão seguro quanto um
pudim de leite cavalgando um touro num rodeio. Ele começou a publicar
seus desenhos aqui porque, vejam só!, pediu. Minha alma saiu do corpo e
foi saltitar de felicidade na rua. Solda é um dos maiores cartunistas
do Brasil. Na cidade que adotou luta para manter os sinais exteriores de
pobreza, como diz. Diz e escreve. Além de tudo, o sessentão aí é poeta,
é repentista, é uma coisa! Há um tempo atrás a filha dele telefonou por
algum motivo e foi perfeita como o pai no humor certeiro : “Não sei se
te chamo de madrasta ou padrasto”. Na verdade sou apenas um privilegiado
de ter como companheiro da turma de sobreviventes o aniversariante do
dia. Parabéns e obrigado.
domingo, 19 de agosto de 2012
PELÉ por NELSON RODRIGUES
A primeira crônica de Nelson Rodrigues sobre o Rei Pelé
por Nelson Rodrigues*
*Publicada em 25 de março de 1958
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/2012/08/19/a-primeira-cronica-de-nelson-rodrigues-sobre-o-rei-pele/
Depois do jogo América x Santos, seria uma crime não fazer de Pelé o
meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert
Laurence chama de “o Domingos da Guia do ataque”. Examino a ficha de
Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são
aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de
quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois
bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas
autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear,
se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito
parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer
rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.
O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E
Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se
sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um
adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e
piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que
não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — “Quem é o maior meia do
mundo?”. Ele respondeu, com a ênfase das certeza eternas: — “Eu”.
Insistiram: — “Qual é o maior ponta do mundo?”. E Pelé: — “Eu”. Em outro
qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe
no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam
a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas
pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável
Pelé.
Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos.
Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia.
Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar.
Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: — “Vá jogar bem assim no
diabo que o carregue!”. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no
primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer
teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está
entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla
o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que
Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem
ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da
defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém
para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava
indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais
driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável.
Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro
futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança,
certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que
a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por
cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos
seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma
cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na
Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os
ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de
ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim,
amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos
adversários uns pernas-de-pau.
*Publicada em 25 de março de 1958
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/2012/08/19/a-primeira-cronica-de-nelson-rodrigues-sobre-o-rei-pele/
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
NELSON PIQUET, PARABÉNS
Nelson Piquet nasceu no dia 17 de agosto de 1952
Ele deu um bico na Globo e no Galvão. Ele é
tricampeão. Um dia, depois da conquista de um título, perguntaram se
ele viria ao Brasil para comemorar. “Pra que?”, perguntou. O nome do
barco dele era Suruba. Ele é Vasco e deu uma volta com a bandeira do
time em Interlagos na véspera da decisão contra o Corinthians. Ele
ganhou US$ 30 milhões na Fórmula 1 e gastou vinte, em diversão. Depois
ficou mais rico com o pioneirismo do equipamento para rastrear
caminhões. Vários casamentos. Muitos filhos. Na dele. Certa vez estava
no autódromo de Pinhais, em obras, e um fotógrafo quis que ele simulasse
estar empurrando um carrinho de obras. “Como? Eu nunca trabalhei na
vida! Não vou fazer isso”. Sessentão. Sobrevivente. Grande piloto.
Grande ser humano. Sem puxar saco. Na contramão da babaquice travestida
de patriotismo. Para sempre campeão no que interessa.
SCÜMA PARA DOWNLOAD
Quando a Scüma Toma o Poder!
Por Erivaldo Mattüs
Nossa pequena odisséia começa no
ano de 2002, quando alguns trombadinhas de um movimento punk quase imaginário,
resolvem se juntar na pacata cidade de Palmeira dos Índios. O som trafegava
pela década oitentista, um punk/HC encrustado no protesto e inconformismo. Uma
boa pedida pra quem pira num Ramones cruzado com Cólera, recheado de
sinceridade nas letras e sonoridade.
Além de fim do mundo, 2012 tem
sido um ano de grande alavanque para a banda. Depois de passar pelo nome de
Asfixia e Amnésia, o grupo finalmente chega a uma decisão absoluta e muda seu
nome para Scüma. Para, dessa forma, mostrar que até a ralé pode impor seu
protesto num punk rock nervoso e eficaz em suas mensagens. Com um EP finalmente
lançado e intitulado “Asfixia” (homenagem a antiga alcunha dos terroristas), os
meliantes se preparam para o lançamento de um Split CD com mais bandas
Alagoanas, provando que o protesto ainda resiste na terra dos coronéis
sanguinários.
Atualmente, Douglas (vocal e
guitarra), Lucas (baixo) e Higor (batera) andam na grande caçada de espaços para
demonstração de seu barulho, um som que faz até o ser humano mais careta pogar
feito um animal selvagem!
DOWNLOAD:
1- NADA PARA ACREDITAR
http://www42.zippyshare.com/v/36827932/file.html
2- NÃO SE DEIXE ABATER
http://www57.zippyshare.com/v/57613325/file.html
3- SUPORTANDO TUDO EM SILÊNCIO
http://www57.zippyshare.com/v/31111770/file.html
4- RAMONA
http://www57.zippyshare.com/v/78467896/file.html
5- A RAIVA ME ALIMENTA
http://www57.zippyshare.com/v/85343847/file.html
6- FIM DA ADOLESCÊNCIA
http://www57.zippyshare.com/v/32934076/file.html