Capricórnio
Abriu a gaveta e ela se acendeu. Olhou para o facho de luz e ali
entrou. Saiu com a lanterna na mão na sala iluminada apenas na tela
gigantesca. Um Drácula em preto e branco tinha o olhar de sangue. Alguém
cutucou atrás. Pediu-lhe para achar um lugar no cinema do bairro. Ele
percorreu as filas direcionando o faixo para pernas e mais pernas. Quase
tudo lotado. As pessoas se ajeitavam nos assentos de madeira quando a
luz os atingia. O ranger incomodava quem prendia a respiração com a cena
ali da frente. Havia agora um pescoço pálido como o de um anjo. Um
banco foi achado quase ali na frente. Sem querer ele direcionou a
lanterna para a tela. Na hora em que os caninos do astro apareceram.
Tinha gente fechando os olhos ou se protegendo atrás de mãos nervosas.
Um casal lá no fundo se beijava sofregamente. Ele apagou o instrumento
de trabalho. A carótida foi dilacerada e o sangue sugado. Ele andou na
direção das cortinas puídas que protegiam uma das entradas. Alguma coisa
o fez atravessar aquele portal. Do outro lado estava olhando a gaveta. A
luz se apagou. Ele sentiu saudade.
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