23 DE AGOSTO DE 1912 - 23 DE AGOSTO DE 2012
ALGUMAS FRASES
- A companhia de um paulista é a pior forma de solidão.
- O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual.
- Só os profetas enxergam o óbvio.
- Deus prefere os suicidas.
- A morte é anterior a si mesma.
- Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.
- Todo desejo é vil.
- A cama é um móvel metafísico.
- Até 1919, a mulher que ia ao ginecologista sentia-se, ela própria, uma adúltera.
- O brasileiro chamado de doutor treme em cima dos sapatos. Seja ele rei ou arquiteto, pau-de-arara, comerciário ou ministro, fica de lábio trêmulo e olho rútilo.
- Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.
- Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem.
- Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.
- O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.
- O biquíni é uma nudez pior do que a nudez.
- Só há uma tosse admissível: – a nossa.
- Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.
- Não admito censura nem de Jesus Cristo.
- Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.
- Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.
- Morder é tara? Tara é não morder.
- Todo tímido é candidato a um crime sexual.
- Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar.
- O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro.
- O amigo é um momento de eternidade.
- O asmático é o único que não trai.
- Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.
- Um time que tem Pelé é tricampeão nato e hereditário.
- O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano.
- Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.
- O casamento não é culpado de nada. Nós é que somos culpados de tudo.
- A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível.
- Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
- A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.
- Amar é ser fiel a quem nos trai.
- Acho a liberdade mais importante que o pão.
- Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.
- Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.
- Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.
- A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas.
- Deus só freqüenta as igrejas vazias.
- Copacabana vive, por semana, sete domingos.
- Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!
- A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia.
- Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um são Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.
- A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.
- No passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de estrebuchar na página do jornal.
- Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância.
- Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.
- O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: – dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses.
- Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.
- O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.
- Enquanto um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o pré-Brasil.
- Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: – não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.
- Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.
- Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa.
- Sexo é para operário.
- Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.
- Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.
- O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade.
- Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.
- Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de “ilustre”, de “insigne”, de “formidável”, qualquer borra-botas.
- A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.
- O brasileiro não está preparado para ser “o maior do mundo” em coisa nenhuma. Ser “o maior do mundo” em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
- Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.
- Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.
- A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.
- Em nosso século, o “grande homem” pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.
- O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.
- Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.
- Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.
- Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.
- O adulto não existe. O homem é o menino perene.
- Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.
- A perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo real.
- Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto.
- Só acredito na bondade que ri. Todo santo devia ser jucundo como um abade da Brahma.
- O brasileiro é um feriado.
- Os jardins de Burle Marx não têm flores. Têm gramados e não flores. Mas para que grama, se não somos cabras?
- A burrice é a pior forma de loucura.
- No Brasil quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte. O Otto Lara está certo. O mineiro só é solidário no câncer.
- O carioca é o único sujeito capaz de berrar confidências secretíssimas de uma calçada para outra calçada.
- Num casal, pior que o ódio, é a falta de amor.
- O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira.
- Geralmente, o puxa-saco dá um marido e tanto.
- O carioca é um extrovertido ululante.
- As bodas de prata são, via de regra, uma festa cínica que finge comemorar um amor enterrado.
- Os que choram pouco, ou não choram nunca, acabarão apodrecendo em vida.
- Gosto do cigarro que me queime a garganta. O fumo suave não passa de um ópio de gafieira.
- Desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e neurastênica.
- Sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica.
- Há homens que, por dinheiro, são capazes até de uma boa ação.
- A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.
- Eu, como artista, se tivesse de escolher um epitáfio, optaria pelo seguinte: — “Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado pelos imbecis de ambos os sexos”.
- Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado.
- Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
- Toda família tem um momento em que começa a apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. Lá um dia aparece um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao mesmo tempo.
- A família é o inferno de todos nós.
- A fidelidade devia ser facultativa.
- Na mulher, certas idades constituem, digamos assim, um afrodisíaco eficacíssimo. Por exemplo:— quatorze anos!
- O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.
- Hoje, a primeira noite é a centésima, a qüinquagésima. O casamento já é uma rotina antes de começar.
- O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira que não é popular, nem brasileira e vou além: — nem música.
- Aqui o branco não gosta do preto; e o preto também não gosta do preto.
- Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado sempre tem razão.
- Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
- O pobre, para sobreviver, precisa da pornografia.
- O presidente que deixa o poder passa a ser, automaticamente, um chato.
- O ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
- É impossível ser ridículo dentro de uma Mercedes.
- Num casamento, o importante não é a esposa, é a sogra. Uma esposa limita-se a repetir as qualidades e os defeitos da própria mãe.
- No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua.
- Uma dor de viúva dura 48 horas.
- Todo óbvio é ululante.
- Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de bater.
- Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava.
- A plateia só é respeitosa quando não está entendendo nada.
- Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.
- Nada mais doce, nada mais terno, do que um ex-inimigo.
- O sábado é uma ilusão.
- Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.
- As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
- Qualquer indivíduo é mais importante que toda a Via Láctea.
- O ‘homem de bem’ é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.
- Deus está nas coincidências.
Nenhum comentário :
Postar um comentário