quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Escorpião
é aqui mesmo que vou me esconder porque me chutaram de casa só por causa da cachaça eu não sou cachorro não peguei meus mulambos e fui caminhar em busca de alguma coisa mas antes tomei mais uma talagada foi então que vi o anúncio precisa-se e eu preciso por isso fui lá e disse pro seu moço que nem me importava com o salário desde que tivesse um cantinho pra ficar aqui mesmo no estacionamento ele disse que sim porque tinha carro que ficava ali durante a noite e que só eu que iria trabalhar durante o dia horário integral dentro de uma cabine de fibra de vidro eu disse tudo bem porque ela ficava embaixo do teto de zinco quente mas não tem problema nasci pobre vivi pobre vou morrer pobre a gente se acostuma e assim estou há mais de um ano com a mesma roupa mas ninguém liga porque só entregam a chave do carro e a maquininha marca horário no papelzinho quando entra e quando sai e à vezes me dão gorjeta de moeda eu junto tudo e quando a noite cai dou uma saída até um boteco sórdido que tem perto e compro logo de litrão porque de dia não posso sair da casinha e deixo o baita escondido num cantinho e quando não tem ninguém por perto tomo meus tragos e assim o dia passa e eu fico pensando às vezes como estão meus filhos na mulher não porque ela é praga mas aí tomo outro e outro e outro e consigo não me atrapalhar para receber a grana do patrão que só passa de manhã e de manhã estou bem mas outro dia um cara estacionou um carro velho que ele sempre vem aqui com ele e ficou me olhando estranho e quando voltou para pegar o carro ele perguntou você está bebendo eu disse que não porque ele perguntava aquilo ele falou que minha cara parecia um pandeiro e não era assim tempos atrás aí ele foi embora e eu fiquei preocupado e para esquecer a preocupação eu tomei outra e bati na minha cara para ver se saía um som.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/31/horoscopo-360/
Escorpião
é aqui mesmo que vou me esconder porque me chutaram de casa só por causa da cachaça eu não sou cachorro não peguei meus mulambos e fui caminhar em busca de alguma coisa mas antes tomei mais uma talagada foi então que vi o anúncio precisa-se e eu preciso por isso fui lá e disse pro seu moço que nem me importava com o salário desde que tivesse um cantinho pra ficar aqui mesmo no estacionamento ele disse que sim porque tinha carro que ficava ali durante a noite e que só eu que iria trabalhar durante o dia horário integral dentro de uma cabine de fibra de vidro eu disse tudo bem porque ela ficava embaixo do teto de zinco quente mas não tem problema nasci pobre vivi pobre vou morrer pobre a gente se acostuma e assim estou há mais de um ano com a mesma roupa mas ninguém liga porque só entregam a chave do carro e a maquininha marca horário no papelzinho quando entra e quando sai e à vezes me dão gorjeta de moeda eu junto tudo e quando a noite cai dou uma saída até um boteco sórdido que tem perto e compro logo de litrão porque de dia não posso sair da casinha e deixo o baita escondido num cantinho e quando não tem ninguém por perto tomo meus tragos e assim o dia passa e eu fico pensando às vezes como estão meus filhos na mulher não porque ela é praga mas aí tomo outro e outro e outro e consigo não me atrapalhar para receber a grana do patrão que só passa de manhã e de manhã estou bem mas outro dia um cara estacionou um carro velho que ele sempre vem aqui com ele e ficou me olhando estranho e quando voltou para pegar o carro ele perguntou você está bebendo eu disse que não porque ele perguntava aquilo ele falou que minha cara parecia um pandeiro e não era assim tempos atrás aí ele foi embora e eu fiquei preocupado e para esquecer a preocupação eu tomei outra e bati na minha cara para ver se saía um som.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/31/horoscopo-360/
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
EDWARD HOPPER
Edward Hopper (Nyack, 22 de julho de 1882 — 15 de maio de 1967) foi um pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano conhecido por suas misteriosas pinturas de representações realistas da solidão na contemporaneidade. Em ambos os cenários urbanos e rurais, as suas representações de
reposição fielmente recriadas reflecte a sua visão pessoal da vida
moderna americana.
Nascido no estado de Nova Iorque, Hopper estudou desenho gráfico, ilustração e pintura na cidade de Nova Iorque. Um dos seus professores, o artista Robert Henri, encorajava os seus estudantes a usar as suas artes para "fazer um movimento no mundo". Henri, uma influência para Hopper, motivou estudantes a fazerem descrições realistas da vida urbana. Os estudantes de Henri, muitos dos quais desenvolveram-se artistas importantes, tornaram-se conhecidos como Escola Ashcan de arte norte-americana.
Ao completar a sua educação formal, Hopper fez três viagens pela Europa para estudar a cena emergente de arte europeia, mas diferente de muitos dos seus contemporâneos que imitavam as experiências abstratas do cubismo, o idealismo dos pintores realistas ressonou com Hopper, logo projetou os reflexos da influência realista.
Enquanto trabalhava, por vários anos, como artista comercial, Hopper continuou pintando. Em 1925 produziu Casa ao lado da ferrovia, um trabalho clássico que marcou sua maturidade artística. A obra é a primeira de uma série da cena totalmente urbana e rural de linhas finas e formas largas, feita com uma iluminação incomum para capturar a solidão que marca sua obra. Ele trouxe o seu tema das características comuns da vida Norteamericana - estações de gasolina, hotéis, ferrovia, ou uma rua vazia.
Hopper continuou pintando na sua velhice, dividindo o seu tempo entre a Cidade de Nova Iorque e Truro, Massachusetts. Morreu em 1967, no seu estúdio próximo ao Washington Square Park, na Cidade de Nova Iorque. Sua esposa, a pintora Josephine Nivison, que morreu dez meses depois que Hopper, doou o seu trabalho ao Whitney Museum of American Art. Outros trabalhos importantes de Hopper estão no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, no The Des Moines Art Center, e no Instituto de Arte de Chicago.
Realista imaginativo, esse artista retratou com subjetividade a solidão urbana e a estagnação do homem causando ao observador um impacto psicológico. A obra de Hopper sofreu forte influência dos estudos psicológicos de Freud e da teoria intuicionista de Bergson, que buscavam uma compreensão subjetiva do homem e de seus problemas. O tema das pinturas de Hopper são as paisagens urbanas, porém, desertas, melancólicas e iluminadas por uma luz estranha. "Os edifícios, geralmente enormes e vazios, assumem um aspecto inquietante e a cena parece ser dominada por um silêncio perturbador".
Obras de estilo realista imaginativo. Arte individualista, embora com temas identificados aos da Ashcan School. Expressão de solidão, vazio, desolação e estagnação da vida humana, expresso pelas figuras anônimas que jamais se comunicam. Pinturas que evocam silêncio, reserva, com um tratamento suave, exercendo freqüentemente forte impacto psicológico. Semelhança com a pintura metafísica.
FONTE: Wikipédia
Nascido no estado de Nova Iorque, Hopper estudou desenho gráfico, ilustração e pintura na cidade de Nova Iorque. Um dos seus professores, o artista Robert Henri, encorajava os seus estudantes a usar as suas artes para "fazer um movimento no mundo". Henri, uma influência para Hopper, motivou estudantes a fazerem descrições realistas da vida urbana. Os estudantes de Henri, muitos dos quais desenvolveram-se artistas importantes, tornaram-se conhecidos como Escola Ashcan de arte norte-americana.
Ao completar a sua educação formal, Hopper fez três viagens pela Europa para estudar a cena emergente de arte europeia, mas diferente de muitos dos seus contemporâneos que imitavam as experiências abstratas do cubismo, o idealismo dos pintores realistas ressonou com Hopper, logo projetou os reflexos da influência realista.
Enquanto trabalhava, por vários anos, como artista comercial, Hopper continuou pintando. Em 1925 produziu Casa ao lado da ferrovia, um trabalho clássico que marcou sua maturidade artística. A obra é a primeira de uma série da cena totalmente urbana e rural de linhas finas e formas largas, feita com uma iluminação incomum para capturar a solidão que marca sua obra. Ele trouxe o seu tema das características comuns da vida Norteamericana - estações de gasolina, hotéis, ferrovia, ou uma rua vazia.
Hopper continuou pintando na sua velhice, dividindo o seu tempo entre a Cidade de Nova Iorque e Truro, Massachusetts. Morreu em 1967, no seu estúdio próximo ao Washington Square Park, na Cidade de Nova Iorque. Sua esposa, a pintora Josephine Nivison, que morreu dez meses depois que Hopper, doou o seu trabalho ao Whitney Museum of American Art. Outros trabalhos importantes de Hopper estão no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, no The Des Moines Art Center, e no Instituto de Arte de Chicago.
Realista imaginativo, esse artista retratou com subjetividade a solidão urbana e a estagnação do homem causando ao observador um impacto psicológico. A obra de Hopper sofreu forte influência dos estudos psicológicos de Freud e da teoria intuicionista de Bergson, que buscavam uma compreensão subjetiva do homem e de seus problemas. O tema das pinturas de Hopper são as paisagens urbanas, porém, desertas, melancólicas e iluminadas por uma luz estranha. "Os edifícios, geralmente enormes e vazios, assumem um aspecto inquietante e a cena parece ser dominada por um silêncio perturbador".
Obras de estilo realista imaginativo. Arte individualista, embora com temas identificados aos da Ashcan School. Expressão de solidão, vazio, desolação e estagnação da vida humana, expresso pelas figuras anônimas que jamais se comunicam. Pinturas que evocam silêncio, reserva, com um tratamento suave, exercendo freqüentemente forte impacto psicológico. Semelhança com a pintura metafísica.
FONTE: Wikipédia
INCÓLUME
por Ticiana Vasconcelos Silva
Eu me envenenei com minha vaidade e pelas idades fui até o alto da montanha para olhar os considerados estúpidos e vis em um lugar em que não me caberia estar. Mas lá estava eu, sozinha e sem correntes, livre e com todos os graus de um ser inteligente, que usou sua inteligência para se impor. E assim eu esqueci de meus pés, assim como usei minhas mãos apenas para retirar as pedras do caminho. Esqueci os que vinham atrás e as atirei sem cuidado. Não olhei para trás, como reza a velha sabedoria, ato que muitas vezes pode se tornar um equívoco. O grande erro é que não me recordo porque caminhei, para que e o que esperava ver do alto da montanha. Fixei-me na ideia de chegar e de me testar e esqueci de apreciar, de me perdoar por errar, de reinventar novos caminhos e de me abrir para o que poderia acontecer. Peguei o meu cajado e trilhei até o topo. Cheguei, me extasiei e esqueci de caminhar novamente ao vale para contar aos curiosos, aos bons, aos perdidos, aos loucos e santos que existe sim um lugar onde se é livre de verdade, onde o coração se transforma no próprio coração do Universo e canta a canção dos infindos tempos. E cá estou eu, escrevendo esta declaração da dor mais triste que um ser pode sentir, que é a de se esquecer dos outros, de tudo, do que realmente vale a pena. E de que não há realização sem união.
Hoje estou na planície, como uma ave que busca seu alimento na terra e se esquece do céu. Mas, por saber de tudo isso, ainda me pego sonhando com a grande liberdade que me arrebatou e que hoje é a minha própria prisão.
Sem inspiração não há imaginação que sobreviva ao primeiro revés da vida. Sem amor não há quem sobreviva ao primeiro maremoto. Sem luz, não há espírito que grite no escuro por medo da solidão. Sem angústias, não há pulmão que se encha de esperança. E mesmo que a mente seja o nosso ambíguo amigo, não há caminho que se faça sem uma força que está além da montanha.
Sinto-me arranhanda, machucada, ferida, assutada, acuada e perdida
depois de ter caído da montanha, mas minha alma me suspirou o seguinte
título para esse texto: incólume.
Obs.: quando menciono cajado, não é uma apologia a profetas, mas sim uma metáfora do quanto necessitamos caminhar com algo que nos dá apoio externamente (família, drogas, festas, trabalho, paixões, enfim, nossos apegos), ou seja, o quão difícil é caminhar sobre nossas próprias pernas para alcançar nossas metas.
FONTE: http://paradoxodoser.blogspot.com.br/2012/12/incolume.html
Eu me envenenei com minha vaidade e pelas idades fui até o alto da montanha para olhar os considerados estúpidos e vis em um lugar em que não me caberia estar. Mas lá estava eu, sozinha e sem correntes, livre e com todos os graus de um ser inteligente, que usou sua inteligência para se impor. E assim eu esqueci de meus pés, assim como usei minhas mãos apenas para retirar as pedras do caminho. Esqueci os que vinham atrás e as atirei sem cuidado. Não olhei para trás, como reza a velha sabedoria, ato que muitas vezes pode se tornar um equívoco. O grande erro é que não me recordo porque caminhei, para que e o que esperava ver do alto da montanha. Fixei-me na ideia de chegar e de me testar e esqueci de apreciar, de me perdoar por errar, de reinventar novos caminhos e de me abrir para o que poderia acontecer. Peguei o meu cajado e trilhei até o topo. Cheguei, me extasiei e esqueci de caminhar novamente ao vale para contar aos curiosos, aos bons, aos perdidos, aos loucos e santos que existe sim um lugar onde se é livre de verdade, onde o coração se transforma no próprio coração do Universo e canta a canção dos infindos tempos. E cá estou eu, escrevendo esta declaração da dor mais triste que um ser pode sentir, que é a de se esquecer dos outros, de tudo, do que realmente vale a pena. E de que não há realização sem união.
Hoje estou na planície, como uma ave que busca seu alimento na terra e se esquece do céu. Mas, por saber de tudo isso, ainda me pego sonhando com a grande liberdade que me arrebatou e que hoje é a minha própria prisão.
Sem inspiração não há imaginação que sobreviva ao primeiro revés da vida. Sem amor não há quem sobreviva ao primeiro maremoto. Sem luz, não há espírito que grite no escuro por medo da solidão. Sem angústias, não há pulmão que se encha de esperança. E mesmo que a mente seja o nosso ambíguo amigo, não há caminho que se faça sem uma força que está além da montanha.
Obs.: quando menciono cajado, não é uma apologia a profetas, mas sim uma metáfora do quanto necessitamos caminhar com algo que nos dá apoio externamente (família, drogas, festas, trabalho, paixões, enfim, nossos apegos), ou seja, o quão difícil é caminhar sobre nossas próprias pernas para alcançar nossas metas.
FONTE: http://paradoxodoser.blogspot.com.br/2012/12/incolume.html
domingo, 27 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
HORÓSCOPO
por Zé da Silva
Capricórnio
A rua era estranha, a noite fria e o boteco ficava abaixo do nível do asfalto. Duas portas e um balcão. Tradicional. Aspecto sujo. Ele desceu os lances dos degraus, sentou no banquinho de fórmica giratório e pediu a cerveja gelada. Estava com fome. Olhou uma lousa com o cardápio escrito em giz branco. Pediu o sanduíche de queijo com salaminho. Viu o funcionário de avental rasgado cortar o pãozinho francês e lambuzar as duas partes internas com alguma coisa que parecia ser manteiga e que estava dentro de um pote de plástico transparente. Um carro com escapamento aberto passou na rua. Ele olhou. Ao se voltar para o balcão o sandubão estava ali, ao lado do copo, cortado e com as partes do meio voltadas para o freguês – no caso, ele. Havia muito queijo e muito salame cortado em finas fatias. Nunca tinha visto e/ou comido algo daquela magnitude. Tomou um gole da cerveja servida em copo americano. Pegou metade do sanduíche, mordeu, mastigou e… Foi tomado por algo tão inexplicável que até hoje, passados quase quarenta anos, não sabe identificar. Só diz que ficou viciado neste tipo de sanduíche e sempre que tem oportunidade pede do mesmo jeito, ou seja, com manteiga. Nunca mais comeu algo parecido como aqueles, pois, enquanto pode, voltou ao boteco, na mesma hora, no mesmo dia da semana, para repetir a dose. Mudou de estado, foi embora para muito longe, mas no dia em que voltou a passeio, foi procurar o bar – que havia fechado há muito tempo, explicaram os vizinhos. Ele sentou nos degraus por um tempo. Olhou as portas de ferro enferrujadas e pichadas. Fechou os olhos. Sentiu novamente o gosto depois da primeira mordida. Levantou. Foi embora. À procura do sanduíche perdido.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/26/horoscopo-359/
Capricórnio
A rua era estranha, a noite fria e o boteco ficava abaixo do nível do asfalto. Duas portas e um balcão. Tradicional. Aspecto sujo. Ele desceu os lances dos degraus, sentou no banquinho de fórmica giratório e pediu a cerveja gelada. Estava com fome. Olhou uma lousa com o cardápio escrito em giz branco. Pediu o sanduíche de queijo com salaminho. Viu o funcionário de avental rasgado cortar o pãozinho francês e lambuzar as duas partes internas com alguma coisa que parecia ser manteiga e que estava dentro de um pote de plástico transparente. Um carro com escapamento aberto passou na rua. Ele olhou. Ao se voltar para o balcão o sandubão estava ali, ao lado do copo, cortado e com as partes do meio voltadas para o freguês – no caso, ele. Havia muito queijo e muito salame cortado em finas fatias. Nunca tinha visto e/ou comido algo daquela magnitude. Tomou um gole da cerveja servida em copo americano. Pegou metade do sanduíche, mordeu, mastigou e… Foi tomado por algo tão inexplicável que até hoje, passados quase quarenta anos, não sabe identificar. Só diz que ficou viciado neste tipo de sanduíche e sempre que tem oportunidade pede do mesmo jeito, ou seja, com manteiga. Nunca mais comeu algo parecido como aqueles, pois, enquanto pode, voltou ao boteco, na mesma hora, no mesmo dia da semana, para repetir a dose. Mudou de estado, foi embora para muito longe, mas no dia em que voltou a passeio, foi procurar o bar – que havia fechado há muito tempo, explicaram os vizinhos. Ele sentou nos degraus por um tempo. Olhou as portas de ferro enferrujadas e pichadas. Fechou os olhos. Sentiu novamente o gosto depois da primeira mordida. Levantou. Foi embora. À procura do sanduíche perdido.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/26/horoscopo-359/
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
A FENDA
por Ticiana Vasconcelos Silva
Do muro desgastado e endurecido pelo tempo abriu-se uma fenda
tão libertária quanto as mãos que a evitaram.
Mas de tão subestimada e evitada, fez-se das próprias armas
que a negaram. Ela nasceu para dar sentido a algo que nem sequer se imagina, pois
tudo parece ser tão natural e normal, que nada se consagra como se deveria. Por
isso, não se dá valor a uma folha, mas sim à árvore que a contém. E da mesma
maneira, a fenda é tão vil quanto aquela chuva que não molhou a alma.
A fenda é o caminho de poucos e raros, que se atrevem a
conhecer o além muro e que foram sufocados pelo peso cinza da matéria e
passaram muito tempo no escuro, dentro dessa estrutura.
Sua força está na esperança e na possibilidade que a fenda
lhes proporcionou, de fazer brotar uma singela e potente vida por entre os
maciços e densos cimentos, fragmentários e ladrões da eterna canção da
liberdade. Estruturas feitas de medo e da busca insensata por segurança, que
nos separam e nos distanciam da verdade: a de que estamos todos unidos.
Mas a fenda é feita pelo tempo, pela ação inexorável do
movimento eterno de mudança e desapego. É por ela que transpassam todas
as
essências que a imaginaram e tiveram a coragem de forjar sua própria
força,
permanecendo fiéis ao estado latente e potencial da fenda. Um dia ela
nasceria e abriria caminho aos que nela acreditaram e com ela sonharam.
Essa é a história e a razão de ser da fenda. Sem ela nada disso seria
possível. E sem a criatividade e a imaginação, ela não teria sentido.
Seria apenas uma fenda. Sem olhar, sem atenção, sem consciência.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
UM GIRASSOL DA COR DE SEU CABELO
CLÁUDIA OHANA
Vídeo da música "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo" de Lô Borges e Márcio Borges, com Cláudia Ohana cantando. Um vídeo de: Thaís Borges Produções Artísticas.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
CANÇÃO DA REVOLTA
de Lúcio Cardoso
…E se piedade vos sobrar,
tende piedade vossa
que não sois assim
tão poderoso.
Que vossos filhos
são degenerados, porque
não soubestes ser pai
e eles se perverteram.
Tende piedade vossa
que cometestes erro ainda maior:
Aprisionastes almas de poetas
em corpos de homens.
Tende piedade vossa
que os feitos à vossa semelhança
são vampiros insaciáveis.
Tende piedade vossa
que há gente com fome,
gente com medo,
gente com sede e frio,
e um dia essa fome se transforma em ódio,
esse medo vai se defender e atacar,
essa sede vai ser de vosso sagrado sangue,
esse frio vai querer se aquecer no calor da revolta.
E se mais piedade vos sobrar,
tende piedade vossa que não sois
o deus carinhoso com que eu sonhei
Que sois mal e vingativo,
que castigais quando devíeis perdoar.
E se piedade vos sobrar
tende piedade vossa,
que necessitais muito mais de pena
do que nós, míseros sofredores.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/18/cancao-da-revolta/
…E se piedade vos sobrar,
tende piedade vossa
que não sois assim
tão poderoso.
Que vossos filhos
são degenerados, porque
não soubestes ser pai
e eles se perverteram.
Tende piedade vossa
que cometestes erro ainda maior:
Aprisionastes almas de poetas
em corpos de homens.
Tende piedade vossa
que os feitos à vossa semelhança
são vampiros insaciáveis.
Tende piedade vossa
que há gente com fome,
gente com medo,
gente com sede e frio,
e um dia essa fome se transforma em ódio,
esse medo vai se defender e atacar,
essa sede vai ser de vosso sagrado sangue,
esse frio vai querer se aquecer no calor da revolta.
E se mais piedade vos sobrar,
tende piedade vossa que não sois
o deus carinhoso com que eu sonhei
Que sois mal e vingativo,
que castigais quando devíeis perdoar.
E se piedade vos sobrar
tende piedade vossa,
que necessitais muito mais de pena
do que nós, míseros sofredores.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/18/cancao-da-revolta/
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
DISCOTECA BÁSICA
MC5
Kick Out the Jams
(1969)(Edição 78,Janeiro de 1992)
Barulho, noise, esporro... Música enquanto soco no estômago. A zoeira atravessa os três acordes do punk, passa pelo hardcore e pelo trash, por Sonic Youth e por aí vai até toda a turminha de Seattle. Uma fórmula simples, mas matadora: guitarras demenciais cuspindo riffs como farpas, enquanto a cozinha pulsa catatonicamente, quase soterrando os arremedos dos vocais.
Acontece que toda esta violência sônica/cênica já tinha sido forjada lá pelos idos de 67, em pleno desbunde psicodélico. Suas origens remetem a duas bandas de Detroit - The Stooges e MC5. Ambas com total afinidade musical, mas com uma diferença fundamental: enquanto as performances animais de Iggy Stooge e seus comparsas antecipavam toda a estética niilista do no future punk, o MC5 acreditava realmente no poder revolucionário do rock'n'roll. Uma posição - no mínimo - ingênua se transporta para os dias de Guns n'Roses que ora correm, mas bem coerente com a época.
Rob Tyner (vocal), Fred "Sonic" Smith, Wayne Kramer (guitarras), Dennis Thompson (bateria) e Michael Davis (baixo) saíram diretamente das garagens do subúrbio de Lincoln Park para apavorar o circuito de clubes locais, onde eram notórios por tocarem muito alto, pelas atitudes obscenas e por chegarem quase sempre bêbados ou chapados demais para se apresentar. Porém, quando conseguiam fazê-lo, perpetravam um atentado sonoro que logo virou sensação entre o público mais interado.
Através do baixista Davis - também artista plástico -, a banda travou contato com a Trans-Love Energies, uma comunidade de artistas lideradas pelo ativista anarquista John Sinclair, que agregou aquele bando de freaks barulhentos à sua trupe. Esta foi o embrião do partido White Panther (uma referência ao movimento negro radical dos Black Panthers), que expandiu os ideais anárquicos de Sinclair para happenings de grandes proporções, em que a trilha musical cabia ao MC5.
Foi dentro deste contexto que surgiu o álbum de estréia do grupo, um dos discos mais "sujos" da história do rock. Gravado ao vivo no fim de 68, ele captava toda a energia primal do quinteto em porradas como "Borderline", "Come Together" e "I Want You Right Now". Desde a subversiva versão de um velho hit de Nat King Cole ("Ramblin' Rose") até a estratosférica parceria com o "jazzista E.T." Sun Ra que fechava o disco ("Starship"), o pau comia solto. Mas pau mesmo foi rolar a partir da faixa-título, em que, na introdução, Tyner gritava o lema "Kick out the jams, motherfuckers!" (algo como "Botem tudo pra fora, filhos da puta!"). Isso acabou envolvendo a banda num processo que começou com o boicote ao álbum pelas lojas e pela própria gravadora (que em seguida os dispensou) e foi parar até nas mãos do FBI - com Sinclair puxando dez anos de cana por tráfico de maconha.
O MC5 ainda daria a volta por cima lançando Back In The USA (70), um clássico do garage sound (vide as antológicas "Call Me Animal", "Teenage Lust" e "American Ruse"), além de um obscuro terceiro álbum (High Time), antes de se dissolver em 71. Depois disso, além de continuarem com problemas com a polícia (com várias prisões por porte de drogas), seus integrantes se envolveram em esparsos projetos musicais: Davis com o Destroy All Monsters (junto ao ex-Stooges Ron Asheton), Thompson com o New Order (não aquele!) e o New Race, Kramer com a Gang War (que também incluía Johnny Thunders) e Smith com a Sonic Rendezvous Band (antes de se casar com Patti Smith, para quem produziu e dividiu as autorias no álbum Dream Of Life, em 88). Apenas Tyner chegou a gravar um disco solo (Bloodbrothers) antes de ter um ataque cardíaco fatal, em setembro do ano passado. Mesmo assim, a lenda do quinteto de Motor City permanece viva.
por Celso Pucci
FONTE: http://rateyourmusic.com/list/Mhrr/discoteca_basica_revista_bizz