por Ticiana Vasconcelos Silva
Do muro desgastado e endurecido pelo tempo abriu-se uma fenda
tão libertária quanto as mãos que a evitaram.
Mas de tão subestimada e evitada, fez-se das próprias armas
que a negaram. Ela nasceu para dar sentido a algo que nem sequer se imagina, pois
tudo parece ser tão natural e normal, que nada se consagra como se deveria. Por
isso, não se dá valor a uma folha, mas sim à árvore que a contém. E da mesma
maneira, a fenda é tão vil quanto aquela chuva que não molhou a alma.
A fenda é o caminho de poucos e raros, que se atrevem a
conhecer o além muro e que foram sufocados pelo peso cinza da matéria e
passaram muito tempo no escuro, dentro dessa estrutura.
Sua força está na esperança e na possibilidade que a fenda
lhes proporcionou, de fazer brotar uma singela e potente vida por entre os
maciços e densos cimentos, fragmentários e ladrões da eterna canção da
liberdade. Estruturas feitas de medo e da busca insensata por segurança, que
nos separam e nos distanciam da verdade: a de que estamos todos unidos.
Mas a fenda é feita pelo tempo, pela ação inexorável do
movimento eterno de mudança e desapego. É por ela que transpassam todas
as
essências que a imaginaram e tiveram a coragem de forjar sua própria
força,
permanecendo fiéis ao estado latente e potencial da fenda. Um dia ela
nasceria e abriria caminho aos que nela acreditaram e com ela sonharam.
Essa é a história e a razão de ser da fenda. Sem ela nada disso seria
possível. E sem a criatividade e a imaginação, ela não teria sentido.
Seria apenas uma fenda. Sem olhar, sem atenção, sem consciência.
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