de Zé da Silva
Sagitário
Forte demais. Não sabia se cheiro da terra, da grama, do mato, das
árvores ou se da chuva caindo em cima de tudo, inclusive da massa de
cimento e asfalto de uma cidade grande. Sufocado não ficou, mas nunca
tinha sentido aquilo. Passara o dia incomodado com o calor abafado que
os banhos gelados só aplacavam enquanto estava embaixo da água. O céu,
até onde divisava pela janela, era de um azul de bandeira. Mas aconteceu
tudo rápido. Uma rajada de vento, nuvens tomando conta de tudo, alguns
trovões e os pingos a cair de forma lenta, no início, e depois em forma
de temporal, colocando na paisagem mais um som. Ele deu cor ao cheiro.
Era verde – e de grama nova. Sentiu vontade de sair correndo pelas ruas
como estava, só de calção, mas de olhos fechados e braços abertos, algo
parecido com o que viu num filme que lhe trazia à lembrança somente esta
cena. Não fez nada disso. Tocou o telefone. Do outro lado uma voz
perguntou se ele estava sentindo. Não se identificou e logo desligou o
telefone. Ele foi dormir com o cheiro e com a voz. Nunca mais vai
esquecer esse dia.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/07/horoscopo-356/
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