por Zé da Silva
Capricórnio
A rua era estranha, a noite fria e o boteco ficava abaixo do nível do
asfalto. Duas portas e um balcão. Tradicional. Aspecto sujo. Ele desceu
os lances dos degraus, sentou no banquinho de fórmica giratório e pediu
a cerveja gelada. Estava com fome. Olhou uma lousa com o cardápio
escrito em giz branco. Pediu o sanduíche de queijo com salaminho. Viu o
funcionário de avental rasgado cortar o pãozinho francês e lambuzar as
duas partes internas com alguma coisa que parecia ser manteiga e que
estava dentro de um pote de plástico transparente. Um carro com
escapamento aberto passou na rua. Ele olhou. Ao se voltar para o balcão o
sandubão estava ali, ao lado do copo, cortado e com as partes do meio
voltadas para o freguês – no caso, ele. Havia muito queijo e muito
salame cortado em finas fatias. Nunca tinha visto e/ou comido algo
daquela magnitude. Tomou um gole da cerveja servida em copo americano.
Pegou metade do sanduíche, mordeu, mastigou e… Foi tomado por algo tão
inexplicável que até hoje, passados quase quarenta anos, não sabe
identificar. Só diz que ficou viciado neste tipo de sanduíche e sempre
que tem oportunidade pede do mesmo jeito, ou seja, com manteiga. Nunca
mais comeu algo parecido como aqueles, pois, enquanto pode, voltou ao
boteco, na mesma hora, no mesmo dia da semana, para repetir a dose.
Mudou de estado, foi embora para muito longe, mas no dia em que voltou a
passeio, foi procurar o bar – que havia fechado há muito tempo,
explicaram os vizinhos. Ele sentou nos degraus por um tempo. Olhou as
portas de ferro enferrujadas e pichadas. Fechou os olhos. Sentiu
novamente o gosto depois da primeira mordida. Levantou. Foi embora. À
procura do sanduíche perdido.
FONTE: http://jornale.com.br/zebeto/2013/01/26/horoscopo-359/
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