por Zé da Silva
Capricórnio
No saco de dormir, a cabeça para fora ouvindo o barulho do motor a
diesel. O céu eram fundo de redes com o povo dormindo. A quilha cortando
a água escura do rio-mar. Alguém gritou. Era espanto e alegria. Ele
saiu se arrastando e se esgueirou num dos lados do barco. E viu. E não
acreditou. Mas viu. E não era Fellini mostrando. Era real. O
transatlântico todo iluminado navegando em direção oposta. Longe.
Perto. Dentro. Da retina. Do coração. Até hoje ele está lá, navegando.
Em outra das tantas noites da navegação, a lua cheia e os raios
prateados formando um caminho nas águas como num desenho mais que
realista. Não era sonho. Entendeu então o gringo que desceu o continente
pela costa oeste e navegava desde a nascente, mas parando nos lugarejos
ribeirinhos quando o coração mandava. Para ficar dias, semanas, meses,
enquanto encantado. Ele não. Tinha hora marcada para descer o mapa e
retornar ao trabalho na cidade grande do sul. Fez isso. Nunca mais
voltou. Mas roubou para si o barco, o navio, os raios da lua, a
floresta, e todas as gentes do rio amazonas.
Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/
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